prólogo

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O caminho para Nunca Mais estava sendo uma tortura para Wandinha e Mors.

— Ainda vão ficar dando gelo na gente? — Morticia se pronunciou para as filhas.

— N-

— Tropeço, será que pode lembrar os meus pais que não estou falando com eles? — Wandinha falou, interrompendo a irmã.

— Eu prometo, minhas queridas, vocês vão adorar Nunca Mais. — Gomez sorriu animado.

Mors apenas suspirou e olhou pela janela do carro.

— Não é, Tish?

— Sim, claro, é a escola perfeita.

— Por que? Porque foi perfeita pra você? — Wandinha retrucou. — Eu não tenho nenhum interesse em seguir os seus passos. Ser capitã da equipe de esgrima, rainha da formatura do Baile Sombrio ou presidente da sociedade espírita.

— Mas, talvez Mors queira, não é, querida? — os pais da garota a encararam esperançosos e ela desviou o olhar do céu cinzento.

— Não estou com tanto ódio como a Wandinha, mas pra começar, eu nem sei o motivo de eu estar indo para Nunca Mais também. Não fui eu quem jogou piranhas na piscina da escola. Eu convivo muito bem com os padrões.

E era verdade. Era uma menina padrão aos olhos da sociedade e, inclusive aos olhos da sua família, e se sentia excluída de uma família como a dela. A diferença gritante entre ela e os outros, mas principalmente de sua irmã gêmea, a incomodavam um pouco, por mais que ela tentasse negar a si mesma.

Wandinha e Mors compartilhavam traços parecidos, a alergia a cores e alguns gostos de leitura, mas eram como óleo e água quando colocadas uma ao lado da outra. Enquanto Wandinha tinha os cabelos escuros como a noite em duas tranças, os cabelos brancos de Mors eram usados soltos e atrás da orelha.

As unhas brancas batiam com as unhas pretas da irmã. Uma das poucas coisas em comum era a pele pálida e a aparência mórbida. No fundo, Mors só queria parar ser comparada com sua irmã e qualquer brecha que encontrava de ser diferente dela, ela pegava para si.

— Mas eu só quis dizer que finalmente vai estar com colegas que vão te entender.

— A questão é que eu me dou bem com os meus amigos da escola.

— Quem saiba até Wandinha faça amigos?

— Nunca Mais é um lugar mágico. — Gomez voltou a falar. — Foi onde conheci a mãe de vocês e nos apaixonamos.

Wandinha e Mors tinham uma expressão de nojo no rosto. Por mais que apreciassem o amor dos pais, era estranho vê-los se agarrando o tempo inteiro.

Quando chegaram na escola, foram direto para a sala da diretora e Mors observou o local, pensando que talvez não fosse tão ruim assim.

— Mors é um nome singular. — a loira disse.

— É morte em latim. — Mortícia falou orgulhosa.

— Você sempre teve uma visão singular sobre o mundo, Mortícia. — a mais velha voltou a falar.

— A mãe de vocês contou que fomos colegas de quarto aqui?

— E você se formou com a sanidade intacta? Impressionante. — Wandinha disse.

— Vocês têm um histórico escolar interessante. Oito escolas em cinco anos.

— Ainda não construíram uma escola que segure a minha irmã. — Mors se pronunciou.

— E eu aposto que aqui não vai ser diferente.

𝑻𝒐𝒐 𝑵𝒐𝒓𝒎𝒂𝒍 • 𝑿𝒂𝒗𝒊𝒆𝒓 𝑻𝒉𝒐𝒓𝒑𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora