08. PODE ME DESAMARRAR? [MARINA]

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O sacolejar preguiçoso fez meu estômago revirar, o enjoo se misturou a um desconforto horrível.

O pânico volta assim que noto uma série de inconvenientes.

Despertei do que imagino ter sido um pesadelo terrível, pois só me lembro de estar caindo de um lugar muito alto.

Meus pulsos estão amarrados, meus braços presos em volta da cintura do homem do manto preto e minha cabeça apoiada em suas costas, mais largas do que me lembrava.

O cheiro de sândalo me confundia, e vinha dos cabelos fazendo cócegas no meu rosto.  

—Se não parar de se debater terei que jogá-la na estrada, e nós dois detestaríamos que isso acontecesse. —

O cavalo enorme relinchou, protestando   com o dono. A respiração dele estava acelerada, e parecia ter dificuldade de manter aquela posição.

— Duvido muito. Vai me vender em Jaspe e ficar com o dinheiro só para você? —

Sacudi, na esperança de derrubar nós dois do cavalo e num golpe de sorte conseguir escapar.

Kael, o nome era familiar, mas muitos nomes eram familiares, só na minha vila havia mais Marinas do que eu seria capaz de contar numa mão.

Principalmente aquele, o conselheiro do imperador e último mago vivo se chamava Kael. Mas o Kael do império deveria ser velho, muito velho, aquele era jovem e bonito.

— Eu a amarrei porque estava desmaiada e precisávamos continuar a viagem. Não sabia se havia mais deles, e não estou em condições de lutar agora, agradeceria se ficasse parada até chegarmos.—

Profere um grunhido de dor seguido das explicações que deveriam ter sido dadas assim que despertei.

Sinto um líquido viscoso na parte de trás do meu pulso.

Congelo.

É sangue, o cheiro metálico se mistura ao sândalo do cabelo, almíscar das vestes e algo amadeirado, vindo de um saco grande.

A confusão de perfumes faz meu estômago revirar ainda mais.

Escolho apenas um e afundo o nariz no tecido macio que lhe cobre as costas e os músculos dele retesaram de pronto.

—Você se machucou.—

Afrouxo o aperto e o homem relaxa, emitindo um suspiro longo demais. O peito sobe e desce num ritmo descompassado.

—Eu te machuquei?—

—Finalmente percebeu, agradeço a preocupação, e não. Nem se quisesse, estava ocupada demais desmaiando de medo.—

Movi os ombros, esquecendo a piedade alimentada por uma rusga de gratidão que desvanece a cada nova pontada de dor, provocada pelas cordas.

—Pode me desamarrar? —

Ele ri, como se meu pedido fosse absurdo.

— Quando chegarmos. Nada pessoal, estou ferido, não a conheço. Nada me garante que não golpeará minha cabeça com uma pedra e fugirá com meu cavalo me deixando de comida para os lobos.—

Resisto ao impulso de lutar, pois de um lado havia o desfiladeiro que dava para o mar, do outro uma vegetação densa que eu não conhecia. Meus pés doem, estou com sede, morta de sede, o que me faz questionar quanto tempo permaneci inconsciente.

— Eles vão matar os doentes de Citron, alguém precisa alertá-los, por favor.—

— A praga chegou tão longe?—

Marina, nas garras do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora