Está chovendo. A noite é escura, sem luz de estrelas, nem da lua. No carro prata, Zaack, o pai, sacode a mão para o sangue circular. São horas de viagem, ele cogita a ideia de parar o carro e sair a cada quilômetro rodado. Samer, a mãe, amarra seus longos cabelos com um elástico vermelho com bolinhas pretas. É destoante um casal tão diferente. Para os mais velhos, chega ser uma ofensa. Um homem como Zaack, de pele quase albina, seus pelos corporais são como fogo, de tão vermelhos, casado com uma jovem de pele amendoada. Os cabelos de Samer são altos, parecem ter uma vida própria, tão escuros quanto o abismo, daqueles que sugam sua alma quando observados demais.
— Finalmente dormiram. — Diz ela olhando para trás. Ela passa a mão no ombro do condutor do veiculo.
A rua está escura, poucos carros passam. Tanto indo quanto voltando. Ela faz carinho no cabelo dele, arrastando levemente os dedos em seu cabelo. Os fios são tão lisos e finos que nem se atrevem a enrolar em cachos, mesmo assim a sensação de senti-los entre seus dedos é confortável.
— Estou toda dolorida. — A mulher mexe o pescoço. O homem sorri em resposta ao comentário.
— Miguel está estranho. — Samer comenta, se referindo ao garoto sentado logo atrás dela. Pele branca e cabelos pretos, que estavam arrumados quando saíram de casa. Como qualquer criança de dez anos, ele não consegue se manter quieto. Seus olhos parecem de vidro de tão claros. Como os de Zaack, são verde caribenho. Sentada ao seu lado, está Cora. Miguel se mantém com a mão em cima dela, por saber que ela só dorme se estiver se sentindo segura. Ela está tão bem enrolada em seu cobertor que que apenas é visível seu rostinho bochechudo.
— Por que você acha isso? — O condutor olha brevemente nos olhos de sua esposa.
— Não sei ,amor. Ele geralmente é tão quieto, quase não fala. Acredita que hoje ele me abraçou? Não acha estranho isso? — Laurem acorda e corta a fala, chorando de um jeito agudo e forte. Ela é uma amorosa garotinha de cabelos armados e olhos curiosos. Tão esperta que não parece ter apenas três anos. Ama cantar músicas de comerciais. Atrasou a viagem porque seu vestido de fada estava sujo. Contrariada, usou seu vestido azul claro de mangas bufantes.
— Normal, vida. Ele está crescendo, está percebendo o quão linda a mãe dele é. — Brinca ele. Em resposta ela apenas o olha e move as sobrancelhas. Um silencioso "é, pode ser."
Ela solta o cinto e se vira para trás, com seu corpo entre os bancos, para pegar Laurem no colo. O homem se incomoda com isso.
— Amor, espera eu parar. — Ele aconselha suave.
— Não, ela vai acordar os outros. — Ela murmura enquanto tenta se ajoelhar no banco. Seu corpo está meio solto, mas suas mãos seguram firme a cadeirinha.
—Amor, senta direito. — Refuta o homem enquanto prende o dedo indicador na beira do short verde da esposa. Em sua cabeça, este gesto lhe traria segurança até pararem.
— Ela não vai parar. — A mulher bate o joelho esquerdo na trava do cinto de segurança.
Na frente, Zaack vê uma garota parada ao meio fio. A chuva forte encharca seu vestido claro, como um pano rosa estampado com flores silvestres. Ele não vê muito, mas percebe que uma das mãos tampa o rosto, enquanto a outra desce lentamente. Seu cabelo escuro esvoaça com o vento, ao ponto de ela quase ser levada por ele. Seus olhos olham diretamente nos do motorista. O homem tenta desviar ,mas o carro balança forte demais e sua esposa escapa, batendo o joelho na marcha e caindo sentada entre o porta luvas e o banco do passageiro. Ele não tem tempo de arrumar o carro de volta na rua.
Ao lado da estrada tem um pequeno precipício, grande o suficiente pra assustar, mas pequeno o suficiente pra não matar quem cair ali.
O carro escorrega, caindo morro abaixo. Algumas árvores arqueiam, o teto e as portas se amassam. Os vidros racham e quebram.
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Lauren
RandomE se super poderes fossem reais? Como as pessoas reagiriam se soubessem que seus vizinhos são super heróis de verdade? Provavelmente com descrença, ou os estudariam a exaustão pra saber como este fenômeno raro acontece e por quê? Laurem, Miguel e...