𝟸𝟶𝟸𝟸, 𝟸𝟸 𝚍𝚎 𝙰𝚐𝚘𝚜𝚝𝚘 |
𝚂𝚎𝚐𝚞𝚗𝚍𝚊 𝚏𝚎𝚒𝚛𝚊Com pesar, ela fechou a porta de sua antiga vida. O lar dela — não, a casa dos novos donos — sumiu na distância até que o carro virou uma esquina e ela desapareceu completamente de vista. Havia uma estranha sensação de vazio dentro dela. Tristeza? Não, ela não estava triste. Ela sentiria falta de seu quarto, sua cama principalmente, da sua professora preferida e da comida do restaurante próximo a casa, mas essa tinha sido sua antiga vida. Isso foi antes. Se ela queria ser mais feliz, e só Deus sabia o quão desesperada ela estava para isso, ela deveria olhar para frente. Era um tiro no escuro, todos sabiam, mas Lívia não poderia deixar de se sentir segura e confiante agora.
A viagem foi longa e exaustante. Ao sair do avião, seu corpo inteiro estremeceu em aprazimento. Ela realmente estava em Londres! Seus olhos procuravam, ansiosamente, por seu pai. Quando o encontrou ela correu e pulou nele, os dois se abraçaram, matando a saudade de três anos longe. Depois de alguns segundos eles se desaproximaram, dando espaço para o resto da família dividir um pouco do estase.
Levou em torno de uma hora para chegarem até a nova casa. Casa, não lar. Pensar nisso deixou um gosto amargo na boca de Lívia, deixando-a apreensiva. Logo ela tratou de expulsar esses pensamentos efêmeros e saiu do carro, ela faria dessa nova casa seu lar, ainda sem saber como, entretanto. Sua boca se abriu em surpresa quando seus olhos bateram no tamanho do lugar, a garota ficou mais assustada ainda quando avistou um jogador de futebol famoso passear com seu cachorro.
— Vamos, tenho muita coisa para mostrar a vocês. — sorriu.
Lívia pegou sua sobrinha em seu colo para que seu irmão pudesse ajudar seu pai a carregar as malas. A pequena sorriu para ela assim que entraram.
— Tem uma surpresa para você no seu quarto.
Ele a guiou para as escadas, em seguida para uma porta azul claro com seu nome. Parada em frente a porta, ela exitou por um momento, as memórias de seu antigo quarto vieram como a chuva nos dias em queremos ir a praia, indesejada e irritante. Eu posso fazer isso, eu consigo! Ela pensou, fechou os olhos e suspirou profundamente. Em um impulso de adrenalina sua mão girou a macenata e a porta se abriu.
Conforto, felicidade, euforia, alegria, prazer. Um mix de sentimentos passavam por seu corpo ao mesmo tempo, uma sensação extrema de felicidade. Não havia palavras o suficiente para descrever o que ela estava sentindo no momento.
— Meu deus! — Seu sonho de criança estava realizado. — Obrigada, obrigada, obrigada! De verdade. Eu te amo, papai!
Agradeceu enchendo-o de beijos.
Admirada, Lívia entrou em seu novo quarto, o chão creme dava a falsa sensação de estar pisando em areia, as paredes estavam divididas, pintadas com ondas até o meio, o restante com estrelas. No teto havia a constelação Phoenix, sua favorita, e várias estrelas espalhadas, um lustre de Lua minguante iluminava o quarto. No centro ficava sua cama, ao lado direito da cama tinha um aquário médio com quatro peixinhos, e no esquerdo uma escrivaninha, de frente uma televisão e duas portas — uma de cada lado. Na parede da porta uma estante enorme branca cheia de livros a esperava.
— Agora você tem todos os livros que você me pediu, cada um deles.
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Após conhecer um pouco mais da nova casa, os novos habitantes de Londres deitaram para descansar. Três horas depois Lívia acordou e começou a organizar suas coisas, adicionou seu livros e bonequinhos a estante, seus quadros a escrivaninha, suas roupas no armário embutido na parede.
Até deu nome aos peixinhos, o azul com a listra amarela se chamava Pégaso, o nome de uma constelação. O grande e vermelho recebeu o nome Cosmos, uma flor vermelha. O verdinho, Trevo, por ser verde e pequeno e o roxinho Star, porquê ele é brilhante.
Enquanto Lívia olhava os peixes, ela percebeu que ainda faltava uma caixa pequena e preta. Curiosa ela pegou-a e abriu. Seus olhos escheram de lágrimas enquanto a caixa caia de suas mãos. Um barulho alto fora ouvido quando as lâminas entraram em contato com o chão. Ela se agachou no mesmo instante, coloco-as de volta na caixa e a enfiou embaixo da cama.
Sentada em sua escrivaninha com os fones no último tocando Pleaser - Wallows, ela procurou por papel e caneta, quando achou os separou organizadamente e começou a pintar um desenho qualquer.
Era isso que ela fazia quando estava prestes a enlouquecer.
Lívia limpou as lágrimas que escorriam em seu rosto, mas não adiantava, elas continuavam caindo sem parar. Manchando o que quer que fosse que ela estava desenhando. Ela não podia fazer nada para para-las, como não podia parar o bullying quando tinha treze anos, nunca pode, nunca conseguiu, nunca tentou.
Os últimos três anos passaram como um filme por sua cabeça, um maldito filme de terror. As palavras, as risadas, o nojo que sentia, os olhares de penas que não serviam de nada, absolutamente nada, ninguém fazia nada. Suas lágrimas e tristeza deram lugar ao ódio e medo. Ódio de todos que assistiam o horror que ela passava e não a ajudava, e medo, medo de passar por tudo isso novamente.
Lívia descontou tudo em seu desenho inconsciente, suas mãos pintavam tão freneticamente e forte que chegava doer. Com toda pressão o lápis acabou se partindo, ela continuou, rasgando o papel. Antes que sua fúria descontrolada alcançasse sua escrivaninha, uma mão em seu ombro a fez despertar. O lápis vermelho e quebrado fora retirado de sua mão por Jonathan, seu irmão.
Ele a puxou da cadeira e a envolveu com seus braços, sussurrando coisas como "Eu estou aqui." "Está tudo bem." E então Lívia voltou a chorar, um choro sem som, um grito reprimido. Tentando parecer calmo, Jonathan arrastou-a para cama e fez carinho em sua cabeça, não era a primeira vez que via sua irmã neste estado e provavelmente não era a última, mesmo assim era assustador e desesperador como a primeira vez quando tinha dezessete anos.
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Do lado de fora de casa, na varanda do quarto de Liv, ela dormia calmamente nos braços do seu irmão mais velho. Os olhos inchados e o rosto molhado, o lembrava o quão difícil foi antes dela dormir. A ideia de irem ver o céu estrelado foi dele, Jonathan sabia o quanto sua irmãzinha gostava de admirar as estrelas.
Um sorriso brotou em seus lábios ao lembrar que antes de dormir ela fez o que sempre fazia, lhe explicou detalhadamente cada uma delas. Mesmo sabendo tudo o que seria dito ele prestou atenção em cada palavra dita, como se fosse a primeira vez. Quando um bocejo tomou o lugar de seu sorriso ele soube que estava na hora de ir dormir. Com cuidado, Jonathan a colocou em sua cama e a cobriu. Antes de sair depositou um beijo em sua cabeça e desejo-a boa noite.
No quarto do lado, uma musica familiar tocava. A porta rosa com flores e o nome Angel, estava entre aberta. Jonathan encostou no batente da porta e observou sua filha. Angel fez dois anos recentemente e é idêntica a ele. Quando tinha vinte anos ele descobriu que iria ser pai, a mãe não a queria, então ele fez de tudo para cuidar da pequena. No começo foi difícil, mas com a ajuda da família ele conseguiu passar por isso.
Jonathan sentou ao seu lado apenas para olhar ela toda concentrada em sua ação, em seu desenho havia diversas flores amarelas. Olhando para as flores ele lembrou de Lívia, quando crianças eles iam para a praia pegar conchinhas apenas porquê ela as achava muito bonitas. Sua infância tinha sido incrível, mas sua adolescência está sendo difícil desde quando seu pai se mudou para Londres. Era como se um buraco negro tivesse sido aberto naquele dia e estivesse a consumindo aos poucos, cada dia mais um pouco, até que no final não restaria mais nada. Ele tinha medo disso, não queria perder sua irmã para esse maldito buraco.
Ele esperava esperançosamente que o buraco fosse embora antes de levá-la.
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Oiê, espero que tenha gostado.🤎
Os capítulos serão postados semanalmente.
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Uma Mudança Inesquecível
Lãng mạn𝐥𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐔𝐌 𝐝𝐨 𝐮𝐧𝐢𝐯𝐞𝐫𝐬𝐨 𝐋𝐈𝐅𝐄 𝐓𝐑𝐀𝐕𝐄𝐋𝐒 Medo é um sentimento natural dos seres humanos, assim como o amor e o ódio. Muitas pessoas dizem que o ódio e o amor andam lado a lado, eu prefiro a teoria de que o amor e o medo estão ju...