As folhas com seu tom de laranja abraçavam o gramado do parque naquele entardecer, as nuvens sequer me permitiam ver a lua e as estrelas. Me vi sentado no mesmo banco de madeira, peguei a caixa de cigarros, risquei meu isqueiro velho e acendi um deles; e pensar que disse a ela que aquele seria meu primeiro e último cigarro, me chamaria de mentiroso se visse como vivi os últimos 5 anos.
Ahh... lembrar dela sempre me faz chorar, enxuguei as lágrimas com a manga do sobretudo. O playground na minha frente estava vazio, o escorrega de ferro enferrujado, a caixa de areia coberta por folhas e bitucas de cigarro, me perguntei se esse seria o novo ponto dos adultos falidos e desgostosos com a vida; já que os jovens de hoje em dia só fumam "pen-drives".
Pensei em escalar o trepa-trepa, mas logo desisti, já não tinha o mesmo vigor de quando nos conhecemos. Ainda lembro da garota de olhos azuis que via a minha alma através dos meus castanhos, de como ela sempre sabia o que eu estava prestes a dizer.
Caminhei até a árvore ao lado do trepa-trepa, as coisas que escrevemos com o canivete do meu pai ainda estavam lá, resquícios de promessas quebradas; éramos tão jovens mas juramos que ficaríamos juntos pra sempre, mas não esperava que fosse durar tão pouco.
Senti aquela presença de novo, mas não tive medo, afinal seria aquele meu último dia. Quando olhei para trás não me surpreendi; ela estava linda como sempre, o sorriso que tanto amei estava estampado em sua face, os seus cabelos negros sendo levados pela brisa fria. Ela ainda tinha nosso anel de noivado, assim como a faca em seu peito.
Por que ainda sorri pra mim? Me odeie Veronika!!! Como seu pai me odeia!! Seu sangue ainda escorre das minhas mãos trêmulas, por muito tempo torci que os outros presos pudessem me matar, pelo menos assim poderia te reencontrar. É irônico saber que você que me disse pra não morrer, morreu na minha frente e me pediu pra chorar por você; não sei como me amava, nem pude te proteger.
Sua irmã é a única que em mim acredita, ela me disse que a culpa não é minha, mas eu deixei ele esfaquear você. Eu já me decidi, o futuro desse lado não é tão incrível, vamos nos encontrar em outro lugar. Quando o meu corpo cair por terra e nada mais restar do outro lado vamos nos reencontrar.
Quando retirei do sobretudo o revólver que trouxe comigo, Veronika me encarou, seu sorriso sumiu. Soube exatamente o que seus olhos azuis estavam me dizendo, mas não quero ficar aqui sem você, não quero ficar aqui nesse lugar tão frio.
Veronika caminha até mim, ela segura o revólver na minha mão direita, ela me diz pra viver muito, mas como você pode me dizer pra não morrer?! Ficar sem você é pior que a morte. Ela acerta um tapa no meu rosto, com sua mão fria.
- Tire a própria vida e eu não vou perdoar você.
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Contos Bardo_local
Short StoryCompilado de contos produzido com o intuito de manter minha escrita em dia. Enquanto não tem capítulos novos dos livros principais. Contos de mais ou menos 500 palavras.