3. Dezembro

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CRAIG KING

Depois que Sofia me expulsou da casa dela, tentei encontrar um meio termo entre respeitar o espaço dela e mostrar o quão preocupado estava. Não sei se o parâmetro que usei foi aceitável, mas, passei a enviar uma mensagem de texto, desejando que ela estivesse bem, todas as manhãs e telefonar uma vez, no final de cada tarde, mas ela nunca me atendeu.

Evitando deixar que a situação me abatesse, tentei dedicar cada lacuna do meu tempo com o trabalho, com a natação e principalmente com um novo projeto que eu esperava concluir antes do natal.

Mas, o destino não parecia estar a meu favor. Afinal, o ano letivo estava para terminar. Ou seja, eu não teria mais aulas para ministrar, não teria a piscina disponível para nadar e até mesmo os laboratórios ficariam fechados durante o recesso. Só me restaria remoer, sem saber o que seria do meu relacionamento com Sofia.

Sentado no banco do motorista, percebi que tinha deixado o medo e a insegurança tomarem conta dos meus pensamentos, mais uma vez. Por isso, sacudi a cabeça, tirei as luvas de lã e liguei o carro, pronto para voltar para meu projetinho especial. Antes de deixar o estacionamento da loja de materiais de construção, olhei para o banco traseiro do carro e repassei, mentalmente, se não tinha esquecido de nada. Se fosse o caso, eu só saberia quando desse a falta.

Liguei o motor e dirigi com cuidado. As primeiras neves começavam a cair e as ruas estavam traiçoeiras. Tanto para os motoristas quanto para os pedestres. Naqueles primeiros dias de precipitação, os ciclistas tinham deixado de existir.

Dirigindo com a mente no modo automático, errei o caminho. Virei uma rua depois do endereço que buscava e me peguei quase estacionando o carro na garagem ao lado da casa da família Connor. Percebendo meu erro, olhei para o retrovisor, me preparando para dar ré. Então, tudo aconteceu muito rápido.

Janine Haart, uma adolescente, vizinha de frente dos Connor, saía, encapuzada e preparada para o frio, para passear com seu bonito cão Golden Retriever. A menina levava o cão pela coleira, cruzando o gramado e se postando na beira da rua. Sem nenhum motivo racional para isso, eu decidi que esperaria a dupla sumir do meu campo de visão para manobrar e voltar para o endereço certo.

Entretanto, a jovem se agachou, acredito que para amarrar o tênis e, atrapalhada pela luva, soltou a coleira, pretendendo remover o empecilho e dar nó no cadarço. Sentindo-se livre, o cão disparou feliz, rua afora, sem perceber que um veículo se aproximava.

Por impulso, não esperei para ver o que aconteceria, apenas desci do carro correndo e, enquanto ouvia o derrapar, seguido do barulho do impacto e do ganido, invadi a casa dos Connor, gritando por Sofia.

Ela saberia o que fazer.

SOFIA CONNOR

Se Craig já tinha decidido ir embora, eu não tinha mais assunto nenhum para tratar com ele. Talvez fosse melhor assim. Falar sobre a gravidez só tornaria as coisas mais difíceis. Eu evitaria qualquer tipo de contato e teria a criança, que eu educaria sozinha. Claro que meu pai, minha mãe e até o babaca do meu irmão me apoiariam e ajudariam.

Não vou mentir. Eu ficava feliz, todos os dias, sempre que recebia a mensagem de bom dia de Craig e isso me ajudava a superar a angústia e me motivar a ir para o trabalho. Em compensação, sem falta, todos os dias, alguns minutos depois que eu chegava em casa, ele me ligava e era uma tortura insuportável resistir e não atender. Eu tinha certeza que seria melhor assim.

Naquela tarde, cheguei em casa e percebi que, apesar de meus pais tentarem disfarçar e fingir que estava tudo bem, havia uma tensão em casa. Minha mãe, talvez até de maneira inconsciente, evitava ficar no mesmo cômodo que meu pai, enquanto acompanhava seus movimentos à distância, com um olhar desconfiado. Por outro lado, meu pai, que era uma pessoa sempre tão disposta, parecia mais cansado.

Desde minhas primeiras memórias, eu nunca tinha visto essa animosidade entre eles e fiquei insegura, pensando se, secretamente, minha gravidez era o motivo da disputa.

Sentei no sofá, decidida a esperar que Craig ligasse, somente para ignorar sua chamada, antes de subir para trocar de roupa. Acontece que o celular nunca tocou e sentindo o chão faltar sob meus pés, abracei uma almofada e chorei até cochilar.

Acordei abruptamente com uma pessoa me sacudindo e, aterrorizada, não conseguia nem me lembrar de onde estava. Então a realidade voltou a se formar ao meu redor e reconheci Craig. Que diabos ele estava fazendo ali e por que parecia tão assustado?

— Ei, Be... Craig, o que aconteceu? O que você está fazendo aqui?

Respirando pesadamente, ele me soltou e se afastou um passo, apontando para porta:

— O cão da Janine! O cão da Janine!

Como eu ainda balançava a cabeça, de um lado para o outro, sem entender o que acontecia, ele pegou minha mão e começou a puxar para fora. No caminho, ele ainda se abaixou e pegou minha bolsa.

Apenas quando saí e vi a comoção que se formava na rua, entendi que o cão tinha sido atropelado e não pensei em mais nada que não fosse salvar a vida do animal. Sempre que tratava de um animal, eu entrava em uma espécie de êxtase, como se todas as minhas funções cerebrais fossem direcionadas somente para aquilo.

Terminei de estabilizar Pogo e só então percebi que eu estava de volta na clínica, na mesa de cirurgia. Como eu tinha chegado ali tão rápido? Lembrei de Craig me acordando, apavorado e comecei a me perguntar o que ele fazia na minha casa.

O cachorro ficaria bem, não tinha fraturado nada, mas, sentiria muita dor muscular por alguns dias. Dei a notícia para a família Haart, que aguardava angustiada na recepção, mas Craig já tinha ido embora.

CRAIG KING

Sem pensar direito no que fazia, mandei todo mundo entrar no meu carro e, tentando fazer a cautela prevalecer sobre a pressa, levei o grupo até a clínica veterinária. Entretanto, aquela não era a forma correta de voltar a falar com Sofia. Por isso, depois que todo mundo desceu do carro, fui embora, sem me despedir.

Afinal, tudo isso tinha acontecido por um erro no meu caminho e eu ainda tinha outro compromisso para cumprir.

Tarde da noite, quando finalmente cheguei em casa, olhei para meu celular e vi que tinha algumas mensagens de texto de Sofia.

Meu coração parou de bater, enquanto eu errava repetidamente a senha da tela de desbloqueio. Decidi colocar o celular sobre a mesa, respirar fundo e secar as mãos. Dessa vez, tive sucesso e pude ler:

'Desculpa. Acho que a gente precisa conversar, não é? Que tal participar da Ceia de Natal com minha família?'

Olhei para o telefone, incrédulo, mas por fim. Respondi:

'Eu adoraria'

Vi a palavra 'digitando' aparecer e desaparecer uma centena de vezes, antes que a última mensagem chegasse:

'Papai e mamãe andam esquisitos, não se assuste.'

Coloquei o celular na mesa e fui acender a lareira, enquanto pensava se, de alguma forma, eu era responsável pelo desentendimento entre Senhor John e Senhora Marie. 

A gravidez secreta de Sofia Connor - O natal da família ConnorOnde histórias criam vida. Descubra agora