1. Outubro

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SOFIA CONNOR

Quando saí da clínica veterinária, o nervosismo não era muito mais do que um incômodo e, para falar a verdade, durante todo o dia de trabalho, enquanto tratava de cães e gatos e acalmava seus tutores, mal tinha pensado em meu probleminha. Entretanto, quando liguei o carro e lembrei que precisava passar na farmácia antes de ir para casa, senti um vazio se formar no peito. Não era possível que eu tivesse pisado na bola desse jeito.

Desci do carro e senti que cada passo, em direção ao balcão de atendimento, se tornava mais difícil, como se minhas pernas ganhassem peso. Meu rosto não devia estar muito melhor, pois, a atendente me perguntou:

— Está tudo bem com você? Precisa se sentar? Quer um copo de água?

Percebendo que precisava me recompor, respirei fundo, dei um sorriso forçado e respondi:

— Eu estou bem! Só um pouco preocupada, mas você vai poder me ajudar — entretanto, o que eu queria dizer era: Não estou nada bem! O que eu preciso é pular de uma ponte! Eu quero é poder voltar no tempo. Você pode me ajudar com isso? Pode?

A mulher de cabelos cacheados inclinou a cabeça para o lado e perguntou, com voz suave:

— E em que eu posso ajudar?

Respirei fundo. Era a primeira vez que teria que falar aquilo em voz alta. Não tinha mais como esconder, mesmo que eu sentisse que, de alguma forma, somente depois que falasse a situação se tornaria real:

— Preciso de um teste de gravidez, mas nunca precisei disso antes, então não sei qual é o melhor, como funciona, qual a chance de erro... Meu Deus... O que eu estou fazendo com a minha vida!

Em um movimento rápido, a mão da atendente cruzou o balcão e segurou a minha. Seu toque era quente e gentil e o sorriso simpático tinha se alargado em uma expressão de felicidade, conforto e aconchego. Sua voz soou mais doce do que nunca:

— Minha querida! Eu sei que parece ruim, mas não é o fim do mundo! Não vamos apressar as coisas! Primeiro você tem que fazer o teste e ver o resultado. Pode não ser nada! Mas, se

for, tenho certeza que será um presente maravilhoso em sua vida.

Não esperava ser acolhida daquela forma e o gesto gentil da atendente, que se chamava Laura e acabou se tornando minha amiga, derrubou todas as minhas defesas e me desfiz em choro.

Quando saí da farmácia, quarenta minutos depois, tinha um milhão de chamadas não atendidas no celular, um aperto no peito e a certeza de que havia um bebê de algumas semanas na barriga.

Eu não deveria ter dirigido naquele estado. A cada metro que eu me afastava da farmácia e das palavras reconfortantes de Laura, o desespero crescia e meus olhos se tornavam turvos. Mas, milagrosamente, apesar de não me lembrar do caminho, cheguei em casa sã e salva.

As duas vagas da garagem estavam ocupadas, então deixei o carro do lado de fora, desci e corri para dentro de casa, chamando:

— Mãe? Cadê você, mãe?

Eu esperava que a resposta viesse do fundo, da cozinha, mas veio do andar de cima, na direção dos quartos. Achei estranho, mas subi correndo, ainda chamando:

— Mãe?

Dessa vez, a resposta veio mais nítida:

— Aqui no sótão, querida!

Normalmente, eu teria pensado o que minha mãe fazia naquele cômodo empoeirado e cheio de quinquilharias, mas nem pensei no assunto, apenas subi. Eu precisava desabafar.

A gravidez secreta de Sofia Connor - O natal da família ConnorOnde histórias criam vida. Descubra agora