Capítulo 2 - O inferno

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Absorventes, a sala tem absorventes, um vaso sanitário, chuveiro e um cesto de lixo, é tão específico que fico enojada tentar pensar a razão deles me quererem tão limpa depois de me levarem junto ao "chefe" deles que estava preso. Não havia nada a mais do que eu citei, além de uma segunda cela a minha frente que está vazia, não tenho a mínima ideia de onde estou, somente me lembro de sentir algo injetado em meu pescoço e dormir.

Quando acordei, estava deitada em um colchão com cheiro de novo, e esse "banheiro" com um recado ao meu lado dizendo para eu tomar banho, com uma observação em latim, algo que me deixou intrigada e dizia para quando eu fosse tomar banho, somente levar dois minutos e sempre de costas para a cela. 

O local e onde eu me encontrava me assustava, mas não tanto quanto o fato da observação estar na língua na qual eu sou fluente. Somente três pessoas sabiam desse detalhes e uma delas envolvia meu marido que havia se "esquecido" de mim. O que me indica duas coisas, ele não se esqueceu de mim, ou quem fez minha ficha é muito bom.

Meu coração se apertava mais ao lembrar de Igor, e que com toda certeza eu não voltaria para casa tão cedo. Imaginar ele tendo uma crise de pânico novamente era o que assustava. 

Me levantei devagar sentindo meu corpo me responder lentamente e me aproximei da grade grossa e enferrujada que havia, me lembrava muito histórias de calabouços de castelos e histórias de piratas. Observei o corredor vazio, havia barulho de água pingando em algum lugar e então a única coisa que com toda certeza não havia sido construída com aquele lugar. 

Uma câmera de vigilância.

Agora eu sabia para quê havia aquele aviso diferenciado.

Então passos surgem e eu me afasto da grade, logo um salto branco surge junto a imagem de uma mulher albina toda de branco com um batom extremamente vermelho. 

Ela sorriu e eu senti minha pele se arrepiar.

—Prazer em conhecê-la senhora Oliveira! - seu tom de voz era de uma rainha que sabia o que fazia. —Meu marido acha que você é especial para nós... - franzi o cenho, e algo em meu peito se remexeu.

—Eu deveria saber... 

—Cale-se! - parei de falar de imediato.

Como ela conseguia essa persuasão tão imediata?

Me observei e notei que estava em posição de reverência, como se meu corpo estivesse sendo controlado por alguém.

—Vou fazer uma rápida recapitulação do que houve com a senhora... - até parecia que eu tinha setenta anos. 

Meu corpo se elevou e caminhou sem minha vontade para a frente da grade até se aproximar dela. 

—Eu e Tiago somos seus donos agora... - me coração acelerou e consegui mexer o dedo indicador levemente, algo que não foi perdido de sua vista. —Realmente você tem o sangue que buscamos... - ela sorri me olhando. —Continuando, colocamos um chip em sua nuca, ele te controla por completo em questões de comportamentos, e somente quando você começar a nos obedecer sem a ajuda do sistema... - ela tira uma de suas mão de dentro de seu blazer branco e me mostra uma tatuagem que está em seu pulso onde está piscando uma flor negra. —Você terá controle de seus movimentos, até lá, caso consiga burlar nosso sistema, como conseguir se mexer mesmo com a ligação feita, terá uma punição, da qual só saberá o que é quando a situação vier a ser da sua conta... - então a grade se abre mecanicamente. —Tome banho, se limpe até seu corpo sentir necessidade de nos ver. - ela pisca para mim e sai de minha vista. 

E foi ali que meu inferno começou.

Meu corpo não me correspondia, ele tomou banho sozinho, lavou os cabelos, se enxugou e se trocou, descobri que o sistema sabia como e onde desligava a grade, e assim caminhamos escadas acima no corredor até vermos dois homens tão altos que me senti um nada. 

Me acompanharam por um segundo longo e interminável corredor que me lembrava castelos antigos, havia muitos quadros e vasos de flores, mas o detalhe que me chamava atenção eram as cores de roupas.

Homens e somente algumas mulheres usavam branco, a maioria do resto que eu vi passar por mim era vermelho ou preto, e finalmente meus pés param e ele estava ao fundo da sala que parecia mais um salão do trono, a mulher de mais cedo estava sentada ao seu lado com os dedos entrelaçados aos dele e um sorrido sórdido em seus lábios. 

Ele por sinal se levantou a deixando sozinha, fechou seu terno e enquanto caminhava até mim, amarrou seu cabelo em um rabo de cavalo alto, e todas as pessoas presentes se curvaram a ele, incluindo meu corpo.

—A partir de hoje ela será minha concubina... - eu gelei ao ouvi-lo. —Já que ela acha que é minha esposa! - engoli em seco. —Quero ver ela conseguir me aguentar a noite... - meu coração voltou a acelerar e meus dedos pareciam livres, e a repulsa pela sua fala foi tão agonizante que meu corpo se elevou em meu comando e todos nós ouvimos a mulher no trono gritar segurando seu pulso junto a ele que fez careta observando sua pele. —Desliguem-na... 

Senti uma lágrima escorrer pela minha bochecha antes de voltar a dormir.

E novamente eu estava na cela, os absorventes, o chuveiro, o vaso sanitário e o cesto de lixo que dessa vez estava cheio, olhei ao lado do colchão que parecia detonado com o tempo e vi riscos, muitos deles como se contasse quanto tempo estou aqui, e não me membro de nada além da delegacia e algo no meu pescoço me fazendo dormir. 

"Continue contando!" vi gravado com alguma caneta no colchão embaixo de meu travesseiro. 

Senti algo me cutucando e achei um pedaço de porcelana, então como se fosse comum e eu já soubesse o que estava acontecendo, fiz mais um risco. Guardei o que estava em mão e minha nuca ardeu. 

—Já faz um ano... - então aquela voz fez minha cabeça doer. —Olhe para mim, vadia! - todo meu corpo doeu quando elevei meu corpo e uma mulher de branco estava ali. —Pare de ir contra, está cada vez mais difícil controlar a raiva dele toda santa vez que você quebra o algoritmo do sistema... - ela se abaixa retirando os saltos me deixando confusa e arregaça as mangas de seu blazer me mostrando que seus braços estão repletos de flores negras tatuadas que brilhavam. 

—Quem... - minha garganta ardeu ao tentar falar e fico quieta. 

—Você vai acabar matando todos nós se continuar indo contra o pai... - bufei e ouvi ela cair de joelhos gritando e segurando seu ombro.

Aquilo me assustou, eu não estava entendendo mais nada do que estava acontecendo, tinha momentos que meu corpo não me respondia e tinha momentos que eu poderia fazer o que eu quisesse, porém ela sofria e vê-la assim me atingia. 

—Quem.... - ela grunhiu. —É... - soltou um grito agonizante. —Você? - ela se arranhou mordendo a língua e se contorcendo no chão.

Tentei me arrastar indo contra o que controlava e cheguei nela, estiquei meus braços a puxando para mim e segurei seu rosto, seus olhos quase sem cor por ser albina choravam de dor, algo que acabou comigo e algo dentro de mim tentava lembrar de algo ou alguém que precisava de mim longe dali. 

—Você precisa obedecer, por todos nós, ou vamos todos morrer... - meu corpo involuntariamente segurou seu pescoço e começou a enforca-la com uma força sobrenatural.

—NÃO... - gritei e com muito esforço a soltei, a vendo cair sem força do outro lado da grade.

—Killy... - a voz dele ecoou pelo local ao correr até seu corpo e se abaixar, seus olhos me fitaram com desprezo. —Pare de tentar nos matar! 

Aquilo doeu, eu não era uma assassina, eu não era alguém ruim, eu só queria saber o que estava acontecendo. 

Ele se afastou retirando seu corpo da minha frente e eu fiquei ali parada, me ajeitei na grade contra minha própria vontade e fitei o banheiro e o local que era estranho a mim. 

Então uma frase gigante em latim estava pichada na parede.

"Quando acordar, obedeça e confie em mim, querida!"

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⏰ Última atualização: Dec 28, 2022 ⏰

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