Menstruar, pra que raios deveria existir isso, me sinto suja, cheiro mal, e não importa quantas vezes eu tome banho, ainda fico com aquela sensação ruim, tenho vontade de comer um quilo de açúcar todo santo dia, sem contar com o humor insuportável que tenho que engolir de mim mesma pra não socar a primeira pessoa que aparece na minha frente, ou chorar até se passar um mosquito perto de mim, e finalmente a cólica, a bendita cólica que me deixa de cama todo santo mês.
Tirando tudo isso, estou na frente da delegacia de minha cidade, sem coragem para entrar, segundo a ligação que eu havia recebido a meia hora, meu "falecido" marido que parecia não ter morrido, bom, eu tinha definido que ele havia morrido, havia voltado, ou melhor, o encontraram, não disseram em qual estado, ou se realmente estava vivo.
Eu até pedi para um amigo meu do trabalho buscar Igor na escola, e só lhe disse que tinha um compromisso importante, não queria dar esperança a ninguém, já que eu havia superado de tentar saber o paradeiro de Vitor quando nosso filho fez seis anos de idade.
Criar ele praticamente sozinha por oito anos já me deixava orgulhosa de saber que nosso amor havia valido a pena, mas agora, saber que ele estava vivo, me deixava com tantas dúvidas, que eu não sabia no que pensar exatamente.
Finalmente decidi entrar, enquanto atravessava a rua, notei um carro da reportagem da região parado ao lado de fora, a câmera deles me acompanhou até adentrar o prédio. Me senti incomodada, nossa cidade era minúscula, aquele tipo de cidadezinha que você não pode fazer nada que já está todo mundo sabendo, então não era muito comum haver repórteres, ainda mais na frente de nossa delegacia.
Me esqueci deles quando fui abordada por um jovem aprendiz da delegacia que me conduziu até um corredor, não era longo, havia somente duas portas uma ao lado da outra, deduzi que as salas compartilhavam da mesma parede.
Havia um homem talvez um pouco mais velho que eu parado a frente da primeira porta, fardado e seu olhar era de poucos amigos, mas quando me viu, sorriu de canto levemente me trazendo conforto em meio a situação.
—Boa tarde, senhora Oliveira! Sou o policial que falou com a senhora no telefone, ele está nessa sala... - apontou para a porta a frente. —Vou ficar na outra ouvindo tudo, caso concorde! - seu olhar demonstrou que aquilo era mentira, havia algo a mais, mas eu não queria contestar, então concordei com a situação. —Quando a senhora estiver ou se sentir pronta, é só entrar! - sorriu de canto. —Quer saber algo antes de vê-lo? - neguei. —Tudo bem... - se afastou sumindo para dentro da sala que havia citado.
Quando me aproximei da porta, meu coração acelerou e senti minhas mãos suarem, eu não lembrava de ter a necessidade de tê-lo dessa maneira como meu corpo me mostrava.
—Vamos lá Vanessa, você consegue... - toquei a maçaneta e acabei sorrindo. —É seu marido, ele não pode ter mudado muito, mesmo que seja oito anos, se acalme... - girei a maçaneta e entrei.
Ele havia mudado.
Ele havia mudado.
Ele havia mudado.
Ele havia mudado.
Ele havia mudado.
Ele havia mudado.
Ele havia mudado.
Ele havia mudado.
Aquele não era meu marido.
Travei ao entrar, seu corpo que antes para mim era pequeno, mas suficientemente grande somente para mim, agora havia crescido, ele lembrava Thor das histórias em quadrinho do meu filho, estava encolhido sob a mesa, algemado, algo que achei estranho, cabelos tão longos que se espalhavam pela mesa e seus cachos negros me surpreenderam me lembrando que Igor havia puxado ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Se Esqueceria de mim?
RomanceTiago se encontrava dentro de uma delegacia, e uma mulher sentada a sua frente lhe dizendo que eram casados. Entretanto, ela só não contava que seu marido que havia desaparecido a mais de seis anos, agora era o homem mais procurado pelo país por trá...