E se...

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Quando Kirishima percebeu que seu maior pesadelo virou realidade, seu coração parou, apenas para machucá-lo mais ainda.

- One-shot postada na época do spoiler do mangá da morte do Bakugou.


Kirishima tinha apenas duas perguntas em sua mente: "por quê?" e "por que meu coração dói tanto?" Cada mísera resposta que pudesse passar em sua mente, ele ignorava cada uma, ainda acreditando ser um daqueles pesadelos horríveis, em que acordaria com Bakugou o abraçando, apoiando seu queixo em seu ombro, sussurrando as mesmas palavras reconfortantes, dizendo que tudo ficaria bem e o arrastando de volta para a cama, mexendo em seu cabelo e o fazendo cair no sono novamente.

A cena em sua frente era tão parecida, senão igual, aquela a qual sonhou na primeira quinzena de quando dormia com seu namorado, futuro noivo. Bakugou sabia das inseguranças que o serviço como herói impôs no ruivo, também sabia das já existentes que pioraram ao longo do tempo, então quando acordou na primeira vez, suando mais do que o esperado, trêmulo, sem ar e com os olhos banhados de lágrimas, sentir os braços quentes de Bakugou em torno da sua cintura, e os lábios quentes e úmidos em seu pescoço, o beijando carinhosamente a cada segundo, até que sua respiração voltasse ao normal e o sono chegasse a seus olhos, foi o que fez ele entender que estava em casa. Que tinha finalmente estabelecido um lar para seu coração.

Eijirou ainda estava parado, vendo seu amado no chão, com o sangue espalhado por seu peito e por seu rosto, sem respirar, sem movimentar seus braços, suas mãos, suas pernas. Imóvel. Sem vida.

Kirishima riu de primeiro momento, sentindo a lágrima descer por sua bochecha e sua visão ficando opaca, enquanto as lágrimas invadiram seus olhos, como se fosse uma represa prestes a romper. Ele não acreditava que aquilo estava na sua frente. Não com seu amor. Não com seu companheiro. Não com seu herói. Não com seu futuro marido. Kirishima sentiu seu peito apertar, o coração parecia bater em seu peito como se estivesse desejando sair ou deixar de bater.

Ele podia ver seus colegas correndo, alguns gritavam, outros choravam, mas o pior de cada uma daquelas ações, era de que nada alcançava seus ouvidos. Midoriya estava na sua frente, seus olhos sempre tão alegres, cheios de vida e brilhante, apenas estavam... mortos.

Talvez ele estivesse assim, cogitou seu cérebro enquanto não processava ainda as palavras que o esverdeado falava. Nada mais para ele era importante. A guerra já não mais importava. As pessoas... quem precisava delas? Afinal, o único com quem ele desejava compartilhar as melhores notícias, os sorrisos, a sinceridade de estar contente e de acordar beijando e fazendo amor, estava morto bem diante aos seus olhos. Por que ele deveria lutar por aqueles que foram os culpados de sua morte?

Eijirou sabia que aqueles pensamentos não deveriam existir, mas seu âmago já estava tão ferido e tão machucado que para aquele único momento... ele desejava que seu corpo também parasse de funcionar. Desejava que seu coração fosse arrancado, porque talvez assim... ele não soubesse como é ver o seu único amor ficar sem vida diante aos seus olhos.

Como se seu corpo estivesse sendo puxado, os passos dados até Bakugou nunca foram tão lentos em sua mente como dessa vez. Nunca andou tão devagar para vê-lo como hoje. Quando ajoelhou ao seu lado, ainda sem entender de fato que tudo aquilo era verdadeiro, ele se permitiu chorar enquanto segurava as mãos do seu amado. O choro silencioso costumava ser o que mais partia corações, e naquela noite, Kirishima conseguiu confirmar que o silêncio pode ser mais perturbador do que o barulho.

Seus olhos vermelhos encaravam o corpo surrado, machucado e frio à sua frente. Bakugou sempre foi tão barulhento, então por que agora ele não gritava e dizia para todos os extras se fuderem ou que era sempre ele a resolver todos os problemas?

Um segundo.

Kirishima podia sentir seu coração acelerado.

Dois segundos.

Kirishima desejou gritar.

Três segundos.

Por que ele queria salvar os estúpidos ao invés de salvar a si mesmo?

Quatro segundos.

Eijirou queria matar todos ao redor dele, a culpa era de todos eles.

Cinco segundos.

Por que seu coração doía tanto?

Seis segundos.

Por que era ele que precisaria acordar sem ver o amor da sua vida deitado do outro lado da cama?

Sete segundos.

Por que podia sentir seus olhos queimando?

Oito segundos.

Por que as lágrimas não podiam parar de surgir?

Nove segundos.

Por que ele estava tão frio?

Dez segundos.

Por que ele ainda sentia que precisava proteger aqueles que Katsuki morreu protegendo?

Eijirou parou de piscar, sentindo as lágrimas cessarem em seu rosto. Ele encarou os olhos fechados de Katsuki, o rosto calmo, sem uma única expressão irritada. Ele com certeza odiaria estar tão em paz naquele momento.

Eijirou puxou o corpo de Bakugou para perto, o abraçando sem ouvir nenhum protesto ao seu redor. Permitindo deixar seu coração quebrar por completo quando não ouviu a reclamação diária de seu amor quando o abraçava sem aviso prévio. Ele podia sentir sua mente começar a sumir lentamente enquanto as lágrimas voltavam mais forte do que antes.

Kirishima nem mesmo pôde dizer adeus.

Kirishima nem mesmo pôde dizer que o amava.

Kirishima nem mesmo conseguiu ver seu sorriso uma última vez.

Kirishima podia sentir se afastar a sensação de ouvir a voz dele gradualmente.

Katsuki se foi sem saber do pequeno par de alianças de noivado guardado atrás do quadro que ele odiava.

Katsuki morreu sem ouvir o último 'eu te amo' de seu namorado.

Katsuki partiu sem ao menos ver o sorriso de Kirishima.

Katsuki partiu com o medo de não ser bom para Kirishima.

Kiribaku: Coletânea de One-shotsOnde histórias criam vida. Descubra agora