Apenas Negócios

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À noite, pode-se ouvir os tiros a ecoar pelas ruas, os rojões nas vilas, tudo como um sinal de que algo grande ocorreria. A quadrilha, comandada por Hermes, cobra o pagamento da segurança numa pequena lotérica no centro da cidade.

- Quando é que vamos sair?

- Dentro de alguns minutos, não se apresse. - A sensação de ser observado penetra na alma não só de Hermes, que sente-se nervoso. Um gosto estranho permeia a sua boca, algo estava errado.

- Vamos agora. - Ele fala dirigindo-se na carona do Rolls-Royce Black Badge Ghost de seu pai estacionado em frente ao local.

Durante o trajeto, pensa em como irá matar a pobre mulher, com um tiro, dois, no coração ou estraga o velório de vez? Perdido em seu devaneio, depara-se parado do outro lado da rua em seu carro, alguns metros da grande casa da família Vinhedo, pensa nas palavras da sua irmã, mas o ódio consome os seus pensamentos, só a morte de Marta e a destruição daquele lugar apaziguaria a sua mente. - É agora. - Diz enquanto todos os 5 homens do carro preparam seus revólveres e pistolas. Ao se retirarem do carro, outro automóvel é percebido, uma Porsche 911 vindo na direção oposta.

- Não era pra ter ninguém passando aqui. - Fala Hermes, percebendo o veículo se aproximando e ligando o farol alto. - Puta merda, atirem! - É ouvido os disparos, pouco eficientes, antes do carro atingi-los em alta velocidade. Hermes acorda poucos minutos de ser atingido, seu torso ardia como nunca, sua mão totalmente quebrada, ao tentar levantar-se, fraqueja e cai novamente, a respiração era tão dificultosa, quase não havia ar em seus pulmões. O barulho de pele sendo rasgada era nítida, reconhecia dos tempos que seu avô matava porcos no sítio na facada. Suas pernas não sentia, apenas o imensurável pavor tomava seu corpo, adrenalina em cada fio de cabelo. Alguém o vira, deixando sua vista em direção ao escuro céu.

Engraçado como sempre ouviu seu pai falar que nunca estaria em perigo, que a máfia o protegeria de tudo e todos, entretanto, bastou apenas alguns segundo para isso tornar-se uma grande mentira, um simples detalhe foi capaz de estragar tudo, o seu futuro, sua vida inteira. Algo inevitável o impediu de destronar seu genitor.

Ouve passos aproximando-se, não há um pingo de força para resistir, e mesmo se tivesse, não seria capaz de parar algo que conseguiu sobreviver aos tiros e destruir 5 homens de uma vez. Fecha os olhos que, agora, são incapazes de gerar lágrimas sem causar dor, espera pela facada que está por vir, não conseguindo se mover, passa-se milhares de coisas em sua cabeça, tanta fúria, angústia, para agora morrer de forma tão desonrosa.

- Não é a tua hora ainda. - Ouve-se uma cansada e rouca voz, ao abrir os olhos, uma enorme figura negra paira por seu rosto. Apenas os dedos indo em direção ao seu olho esquerdo é visto. O homem explora a cavidade ocular da sua vítima, como se estivesse catando algo que ficou preso, afundando cada vez mais o escuro olho de Hermes, que apenas berra e implora para aquilo acabar. Conforme o sangue se espalha pelo rosto e chão, Marta se assusta e tenta observar o que ocorre pelas câmeras de sua casa, entretanto, a tortura estava sendo fora do alcance de sua visualização.

Puxando com sua bruta força, a tal figura arranca aquele órgão do rapaz que se debatia no chão. Esmaga espalhando e sentindo cada detalhe daquilo entre seu polegar opositor e indicador, dessa forma, limpa a gosma, antes um olho, no asfalto. O sangue se camuflava no traje negro do ser, que lentamente caminhava para o meio do matagal, desaparecendo como uma sombra na escuridão.  

A Sombra de Kluth.Onde histórias criam vida. Descubra agora