Márcia Catenda, narrando…
Durante os meus dezanove anos de vida consegui entender que na real, existem dois tipos de pessoas: a primeira são aquelas que vivem esperando por uma caixa de tesouros vinda dos céus que irá mudar suas vidas, e a segunda, é o grupo de pessoas que insistem em acreditar que existe dois tepos de pessoas.
E eu estou dividida nesse dois grupos de pessoas . Sou o tipo de jovem que aos dezanove anos prefere ficar fechada no quarto lendo. E por ter os pais ausentes e duas melhores amigas, é impossível eu quebrar essa rotina.
–– O teu telefone acabou de tocar, acho que entrou novas mensagens. – Miguel diz entragando-me o telefone, mas ignoro.
Imagino que é bem possível que seja o meu namorado ou a Maria Diabanza. Eles não estão me deixando em paz.
Com quase todas as portas fechadas, eu e o Miguel somos os últimos alunos dentro do colégio. Está tão vizinho, e o único barulho que se escuta provém das batidas da bola ao chão. Eu amo basquetebol, e poder jogar sozinha nessa quadra tem sido a melhor forma de eu encontrar paz em espírito.
–– Dessa vez é o teu pai. Ignoraste duas chamadas dele e ele deve estar nervoso. – Miguel insiste.
Mal o Miguel termina de falar, puxo o telefone e retorno a chamada. Meu pai berra comigo assim que atende, mas consigo disfarçar assim que percebo que o Miguel está atento com a minha expressão.
–– Era só o meu pai. – digo depois do fim da ligação.
–– Eu ja sei disso. Ele gritou contigo? – ele pergunta.
–– Claro que não. Contei que estou contigo e ele ficou mais tranquilo. – respiro fundo e acrescento – Mas disse que tenho que voltar rápido para casa porque os pais do Lídio estão lá em casa.
–– Qual Lídio? O teu namorado?
–– Por acaso nós conhecemos quantos Lídios afinal? – pergunto de volta, e o Miguel sorri irónico – Podes me dar uma boleia até casa?
–– Sem problemas. – Miguel aceita.
Miguel é o único rapaz com quem eu não tenho problemas de conversar sobre nada. É como se ele fosse o irmão que sempre sonhei ter. Ele segura nossas mochilas e carrega até o seu carro.
Durante a viagem, Miguel e eu não dizemo não dizemos nada um ao outro. Depois do que aconteceu hoje na escola estou sem vontade para conversar. O lado bom é que o Miguel sabe disso e se concentra apenas em dirigir, enquanto eu tento imaginar como será daqui para frente.
–– Chegamos. Eu até poderia te acompanhar até a porta mas já é muito tarde. – Miguel diz assim que para o carro – Nos vemos amanhã.
–– Obrigada, amigo. – digo fechando a porta do carro.
Enquanto marco passos lentos no gramado do jardim de casa, imagino numa mentira convincente para usar. Para os meus pais talvez seja normal eu chegar em três horas depois das aulas terminarem, mas para as visitas não.
Desde o início do meu namoro, tanto os meus pais como os pais do Lídio, decidiram que para continuarmos unidos e mais sólidos, temos que organizar jantares e actividades conjuntas uma vez ao mês. Eles dizem que é a melhor forma de pôr a conversa em dia. E hoje não foge a regra.
–– Boa noite. – digo.
–– Oi querida, tudo bem? – minha mãe sorri – Estávamos a tua espera para começar com jantar.
–– Podem começar sem mim, primeiro vou mudar de roupa. – respondo.
–– Não é necessário. – Lídio diz – Ficas linda com qualquer roupa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ME ODEIA, OU ME QUER?
RomanceA equipa de basquetebol sub-19 do segundo maior e renomado club desportivo de Angola está em crise. Não ganha um campeonato a três anos, e só tem somado derrotas. Márcia Catenda é a filha do treinador do Petro de Luanda, o segundo club mais premiad...