FIGHT FOR LIFE

H

Ao chegar à academia, não havia ninguém treinando.
Achei estranho.
- O que está rolando?- perguntei ao Carlão. Um dos meus treinadores. Ele era o de muaythai
- Esqueceram de te avisar que você tem umas fotos pra fazer.
- Tá de sacanagem! Cadê o Paulo?
- No escritório.
Larguei minhas coisas sobre o tatame e sai caminhando rápido, puta da vida. Subi as escadas de ferro preta e espanquei a porta de madeira industrial do escritório do Paulo. Gerente da academia.
Ele atendeu em seguida
- Porque ninguém me avisou dessas fotos?
- Não faço ideia. Cadê seu empresário?
- Ele não resolve tudo sozinho, você sabe.
Eu tinha um contrato com a equipe. E se tratando de fotos comerciais da academia, meu empresário não poderia interferir.
- Tá e quem vai me maquiar essas coisas idiotas?
- Você é mulher caralho! Não sabe passar um batom?
Meus olhos podiam lançar chamas sobre ele nesse momento. Por mais que vivêssemos em uma época incrível para o esporte, onde as categorias femininas ganham visibilidade e respeito a cada dia mais, como deve ser, meu mundo ainda é muito machista.
- Paulo, vai tomar no cu! - xinguei e desci as escadas.
Carlão comia uma maçã, sentada no chão. O filho da puta estava comendo as minhas frutas!
- Larga minha comida! - Apontei para ele, falando seria ao passar por ele e seguir para o andar de baixo.
- Eu tô com fome!
- Foda-se!
Percebi que Carlão levantou e me seguia.
Cheguei ao andar de baixo, a recepção estava tranquila, a área de musculação havia poucos atletas. Segui para os vestiários e saunas.
- Quem você está procurando? - Carlão perguntou, caminhando atrás de mim.
- Qualquer um que me explique porque não irei ter treino. Não há ninguém aqui pra foto! Que porra tá acontecendo?
Quando cheguei na sauna, a luz estava apagada e o aquecedor desligado. A sauna nunca era desligada.
Era uma sala enorme. Cabia no mínimo uns trinta marmanjos ali.
- Estranho...
Entrei, tateando o painel eletrônico na parede.
- Tá com o celular aí? - perguntei ao Carlão.
- Tô sim.
- Ilumina aqui, preciso ligar a sauna ou vai estar fria quando eu terminar o treino.
Assim que ele ligou o celular, e eu encontrei o painel na parede, acendi as luzes e um bando de marmanjos começaram a gritar atras de mim.
- Uhuuulllllll !
- Puta que pariu! - pulei de susto.
Me jogaram vários baldes de água fria. Com pedras de gelo, na verdade.
Carlão gargalhava, ele estava logo a minha frente, ainda comia minha maçã.
- Feliz aniversário Amazona! - alguns deles gritavam.
Fui sacudida por alguns deles. Levantada no ar por vários braços.
- Me bota no chão porra! - Gritei!
- Guerreira! Guerreira! Uhuuulllll- Eles gritavam, tinham uma espécie de 'corinho de torcida' enquanto me sacudiam no ar.
Era uma farra. Quando por fim me colocaram no chão, começaram a bater palmas e cantar parabéns.
Olhei a volta e estavam todos ali. Incluindo as meninas.
Sorri para todos, agradeci pelo carinho.
- Gente, obrigada pela surpresa, mas meu aniversário é daqui a dois dias, vocês piraram ? - perguntei rindo, já sentindo frio e toda molhada.
Caio tomou a frente.
- O chefe quer que vc vai para o sul, vai ter um evento lá e você não vai estará aqui.
Olhei para Caio, meu preparador físico e fisioterapeuta. Ele veio em minha direção e passou uma toalha sobre meus ombros.
Saímos da sauna. Aliás, todos. Ainda faziam farra pelos corredores.
Fomos para o andar de cima, para o tatame. E todos faziam muito barulho, era uma bagunça até que subimos a escada e todos foram tomar seus treinos e afazeres.
- Recebemos uma ligação hoje de manhã, ao que parece você agora faz presença VIP também.
- Só faltava essa.
Enrosquei-me na toalha, me tremendo de frio.
- Vá para esteira correr, precisa se aquecer. - Disse Caio ao me deixar e seguir para o escritório.
Durante todo o treino aquela tarde, nada mais foi dito a respeito dessa viajem repentina.
Eu já tomava banho quando bateram à porta.
- Amandona, tá acabando?
- Tô! - respondi.
- Cinco minutos no escritório, por favor!
Era o Paulo.

Quando sai do banho, vesti um top de lycra é um shorts de elástico de malha, curtinho e fresco. Calcei os chinelos acolchoados, joguei minhas bolsas sobre os ombros e sai do banho.
Deixei minhas coisas do lado de fora, sobre o tatame e fui para o escritório.
Quando bati a porta, ouvi Paulo mandar que eu entrasse.
- Senta aí. - Paulo indicou a cadeira.
Caio estava sentada em sua mesa no canto mais afastado, verificando fichas de treinos enfim... Paulo me estendeu um envelope.
- Aqui está sua passagem, hotel e todas as informações de alimentação e tudo mais.
- Pode me explicar melhor o que é isso? Estou em semana de treino, não posso ir assistir luta no sul.
- É importante. Nosso principal patrocinador quer você lá, do lado dele.
- Se ele quer uma dama de companhia devia ir numa agência de modelos. - resmunguei.
- Leve um vestido Amandona, não nos aborreça.

Aceitei, mesmo resmungando. E quando já saia do escritório do Paulo, ele me chamou.

- Seja gentil! - ele disse com ironia.
- Sorria e acene kowalski! - disse, com uma falha imitação de voz dos pinguins de Madagascar.