08 - Nunca se arrisque

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💎 Galpão - 10:00 am

Son Seong-jin

Desliguei a chamada e me direcionei ao chucrute na minha frente.

- Olha só, você tem um pouco de sorte Choi, parece que Jimin acordou.

Ele me olhava com raiva.

- Eu não irei lá agora, ainda tenho coisas para resolver né, gigantezinho de merda?

Eu estava com um alicate na mão, caminhei em direção a cadeira em que Choi estava amarrado e peguei uma das suas mãos que estavam sobre a mesa.

Seu olhar que antes era de raiva, agora se tornou puro desespero.

💎 Hospital de Busan - 10:30 am

Park Jimin

Eu lembro de tudo cada detalhe da minha vida dolorosa.

Assim que eu me entreguei à escuridão do que acreditei ser meu fim, as lembranças de um lindo garoto com os olhos negros brilhantes como o vazio do universo vieram em minha memória.

Parece que ser espancado e beber até sentir seu corpo todo adormecido resolveu alguma coisa na minha cabeça.

Os lábios finos, as mãos grandes demais para um adolescente, que me seguraram pelas bochechas e depositou um selar em minha boca.

Foi neste momento em que eu acreditei nas palavras que eu li, por acaso, em algum livro.

Aquelas palavras que me fizeram acreditar que um dia eu poderia viver feliz e que durante seis anos, mesmo que eu tenha desistido de acreditar por tantas vezes, eu ainda carregava comigo pra onde eu fosse.

O meu serendipity.

Eu o escondi dentro do mais profundo da minha mente, porque o que esse simples ato impensado de um adolescente me causou foi, talvez, a pior noite da minha vida.

Eu tinha dezessete anos e aquelas mãos maldosas me agarraram e me espancaram até quase morrer mais uma vez, me deixou trancado no quarto por dias sem me deixar comer ou ingerir água como forma de punição.

Uma dor que eu pensei nunca mais sentir desde que meus pais me expulsaram de casa voltou a acontecer, e bem pior.

Até aquele dia, ele nunca tinha me batido. Eu só senti que ele queria me controlar, mas ter beijado outro homem mudou a minha vida completamente e desde aquele momento eu nunca mais passei um dia sem ter marcas pelo meu corpo.

Eu, sinceramente, não sei como eu consegui viver. Não sei como todas as vezes que eu tentei me livrar dessa vida cheia de dor aquele monstro me encontrou e me salvou.

Eu não entendo porque ele fazia isso.

Ele poderia arrumar qualquer outra pessoa para fazer o que eu fazia, para ser o que eu era, mas ele me queria.

Hoje quando eu abri meus olhos e vi novamente aqueles olhos de diamante negro eu me apavorei porque eu não poderia tê-lo.

Eu não poderia ficar com ele depois de tudo que eu vivi, depois de tudo que eu sofri, depois de tudo que eu escolhi viver, porque eu tive a oportunidade de fugir de tudo isso, mas permaneci.

Eu sou fraco.

Eu sou falho.

Eu sou um verme.

Jamais poderei colocar alguém nessa minha vida.

Nunca vou levar alguém para as chamas comigo.

Esse inferno é meu e não tem ninguém que possa me salvar.

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