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Estocolmo, Suécia
(Conteúdo sexual. Se não se sentir confortável, não leia)

Não sabia que era humanamente possível um coração bater tão acelerado como o meu batia naquele momento. Depois de algumas doses de whisky, você percebe que está pensando besteiras; que o reflexo fica menos apurado ou que até mesmo que sua atenção não está como antes.

Mas, olhando-o de longe assim, eu conseguia perceber de maneira nítida o quando Wilhelm era bonito. Ridiculamente bonito. Pedi perdão a minha própria mente pelo anaforismo brega. Porém, meu marido, a cada dia que passava, batia seu próprio recorde. Ele sorria do mesmo jeito de anos atrás e seu sorriso era algo tão precioso porque raramente o mostrava. Não eram as roupas, tampouco o jeito elegante. Era o jeito intrínseco nele.

Ele é como uma montanha-russa de sensações. Eu amo cada uma delas. Amo por completo.

Suspirei cansado por pensar que passado alguns dias, não seríamos nada além de conhecidos.

Wilhelm cumprimentou mais meia dúzia convidados e se aproximou. Jurei por milésimos de segundo que eu desmaiaria apenas por tê-lo tão perto. Parecia um adolescente virgem.

-Você está pálido. -foi a única coisa que me disse antes de bebericar um pouco de vodka. Dei de ombros.

-Impressão sua.

Ficamos em silêncio observando as pessoas rindo e conversando alto, vestidas de alta costura assim como nós. Um silêncio ensurdecedor que dizia tanto sobre nossas vidas. Nossa história. O que havíamos feito de errado para acabar assim? Eu o amava, certo? Mas só o meu amor não bastava. Onde estava nosso "pra sempre"? Meu sogro parecia tão animado em nos ter ali. Me sentia um mentiroso por não ser verdadeiro com ele.

Era um misto de dor, insuficiência e resignação. Doía. Doía demais, além de me achar imprestável, mas eu já aceitava o término. Mesmo que talvez nunca superasse.

-Simon? -ele espocou nossa bolha pessoal. Era engraçado que eu escutava todos os barulhos, mas só ouvia o do meu coração batendo forte.

-Hum? -resmunguei baixo.

Meu marido colocou a mão livre no bolso e tomou outra golada, antes de me perguntar timidamente:

-Você ainda me ama?

Arregalei meus olhos. Se eu ainda amava? Qual era a concepção dele de amor? Se fosse suportar todas as dores; se fosse sentir pena e cuidado mesmo sendo machucado; se fosse querer esconder minhas feridas mesmo que elas estivessem doendo, eu o amava. Amava muito. Mas como diria? Por que eu diria? Para ouvir um não como resposta? Para ser humilhado de maneira implícita? Porém, eu mentiria?

Ajeitei minha gravata, incomodado. Os olhos dele me encaravam ansiosos por uma resposta. Olhei para baixo, respirando pesado.

-Amo. -disse, corajosamente. -Amo do mesmo jeito de anos atrás.

Wilhelm sorriu pequeno. Eu sentia muito vergonha por admitir logo de cara ao mesmo tempo que me sentia confortável. Olhei para meus próprios pés.

-Você lembra quando te pedi em casamento? -meu marido desconversou assim que notou meu constrangimento.

-Sim. Foi no Restaurang Prinsen duas ruas daqui. -calculei rápido.

-Sabe, Simon, na sexta fiz um reserva lá.

Meu pobre coração bombeou impetuoso. Jurei sentir sangue no meu cérebro. Ele havia levado a estagiária para jantar no nosso restaurante?

-A comida estava péssima. -me confessou. -Na verdade, sempre foi.

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