Estocolmo, Suécia
Meu corpo doía dos pés até a cabeça e eu pensei, repetidas vezes, como faria para esconder aqueles vergões roxos no meu pescoço. Mas não me arrependia. Não estava nem um pouco arrependido.
Faria de novo. Umas quatro ou cinco vezes. Talvez mais. Queria que ele me fodesse sem piedade, do jeitinho dele, embora meu orgulho estivesse sendo deveras ferido aquela noite.
Me olhando no espelho do closet, repassei todos os momentos da festa até nossa casa. Pensei em como ficamos envergonhados no caminho todo, em como minhas pernas estavam extremamente trêmulas e como mal consegui andar no estacionamento. Nós trocamos algumas palavras antes de entrar carro. Pedi para que me deixasse no hotel, mas meu marido recusou de imediato. Eu não quis insistir. O cansaço não deixava. Quando passei pela porta, dei passos apressados para o andar de cima.
Se antes eu me sentia péssimo, naquele momento me sentia péssimo e usado. Tive certeza quando tirei todas as minhas roupas para tomar banho e a porra dele escorreu pela minha bunda. Foi tão... humilhante.
Claro que, em outras situações, aquilo seria sexy, mas só conseguia pensar em como tudo estava confuso. Desde a rejeição até o jeito bruto que nós transamos alguns minutos antes.
Fumei mais um maço, na varanda da suíte, sentindo o vento gelado arrepiar minha pele coberta apenas por um roupão. Wilhelm não ousou subir, pelo ou menos, não nos primeiros minutos. Também não subiria se fosse ele. Não depois de maltratar e me tocar como se estivesse tudo bem.
Refletindo com calma, vi todos os momentos felizes passarem como um flash: a primeira vez que cozinhamos juntos; os risos tímidos dele no nosso brunch de domingo; a maneira que tentava ser sério no templo apresentando as oferendas; nossa lua de mel em Atenas e na sua obsessão por todas as nuances da cidade; sua risada gostosa ao pisar pela primeira vez no museu da Acrópole.
Por mim, ele ficaria ali, bem perto das obras de arte porque meu marido era uma.
Obviamente, o Wilhelm com o qual me casei não era o mesmo Wilhelm de agora, tão apático e indiferente a tudo. Meu marido é atencioso; cuidadoso comigo e com meus sentimentos. Ele sempre tem palavras doces quando me sinto fraco. E por mais que ele tenha agido como o conheci a momentos atrás, não era a mesma coisa.
Estava incerto sobre como tudo seria dali pra frente. É evidente que a única certeza que temos é da incerteza das coisas. Nós nos divorciaríamos mesmo? Confessamos que nos amávamos ainda, certo? O jeito que meu marido bateu na porta foi tão vago quanto as teorias que rondavam minha cabeça, emaranhadas. Foram três ou quatro toques até que eu falasse um "entra".
-Fiz um chá pra você. -olhei de relance para ele, encostado no cobogó, que dividia a sacada do restante do quarto.
-Não precisava, obrigado.
Segurei o máximo minha vontade de chorar como fiz o dia inteiro. Posso afirmar com toda veemência que as piores lágrimas são aquelas que não podem sair. Lutava para minha mediocridade não aparecer e me humilhar ainda mais, enquanto deixava o tabaco entrar, relaxando meus músculos. Será que ele podia ao menos ter uma conversa decente comigo?
Wilhelm se aproximou, depois de algumas minutos. O vento e as circunstâncias não iam ao meu favor. Assim que senti os dedos esguios dele na curvatura do meu pescoço, bem atrás de mim, me veio um frio na espinha. Era ridícula a forma como eu soava submisso.
-Caralho, bebê. -meu marido tocou nos chupões arroxeados. -Olha só o estrago que fiz em você.
Eu gemi desesperado só de ouvi-lo me chamar assim. Um prazer que ia além do carnal. Um prazer espiritual, fora dos padrões da consciência humana. Prazer puro e genuíno; excitação da alma e, bom, a alma dele excitava a minha em excesso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
home | wilmon
Fanfiction"porque eu ainda amo você..." Quando Simon Eriksson pôs os olhos em Wilhelm Hansson não fora por acaso. Anos depois, ele teve a total certeza disso ao dizer "sim" para ele. Mas, como todo casal, a convivência tende a fazer com que a paixão desapareç...