III. ΤΟ ΑΜΠΕΛΟ - A VIDEIRA

4 1 0
                                    

5 anos depois

- VAMOS LOGO, JÁ VAI COMEÇAR!

- ELE DISSE QUE JÁ VAI COMEÇAR!

Eu podia ouvir os gritos empolgados e sussurros indiscretos de quem estava se preparando para assistir nossa cena. Respirei fundo e pedi força aos céus. As cortinas abriram e caminhei lentamente até o centro do palco. Podia sentir dezenas de pares de olhos me encarando.

- Era um dia frio de inverno e a Mãe dos Deuses estava sentindo o sol em sua face, seu ser se aquecendo de fora para dentro. - disse em tom alto para que todos diante de mim me ouvissem, enquanto uma moça com chifres adornando sua cabeça entrava no palco e se sentava em posição de lótus. - A deusa cochilou e em seu sonho ela viu dois jovens amantes correndo, brincalhões, em um bosque. - e a jovem deitou-se em um cantinho.

No momento seguinte, apareceram de trás das cortinas dois rapazes, correndo ao meu redor e abraçando-se quando alcançavam um ao outro.

- Um deles disse: Vejas como sou forte e solerte, lhe provarei subindo no lombo do primeiro animal que aparecer e ainda o enfeitarei com uma coroa de flores.  O segundo, que teve um mau pressentimento assim que acordou de manhã, lhe alertou que seria perigoso, porém foi em vão tentar fazê-lo engolir o orgulho. Não precisaram esperar em demasia, pois logo mostrou-se diante deles um touro de tamanho extraordinário. - Outro jovem apareceu, usando uma grande máscara de cabeça de touro.

- Suas ventas soltavam fumaça, e seus pontiagudos chifres resplandeciam como prata. O astuto amante, espantado com a figura do bovino, prendeu a respiração. Porém isso durou pouco, ele não havia desistido de cumprir o que disse. O outro, já familiarizado com sua teimosia, pôde apenas assistir, com o coração saltitando no peito, seu amor caminhar para o que seria sua ruína. E ele o seguiu, se esgueirando entre os arbustos até a nascente que o touro havia parado para beber um pouco d'água. - todos da plateia estavam sem nem mesmo piscar, atentos à atuação de todos sobre o palco.

- O amante aproveitou-se da distração do animal e pulou em suas costas, tentando se equilibrar enquanto o touro se remexia ao sentir um corpo estranho sobre si. O rapaz aguentou firme, e conseguiu pôr sua coroa de flores na grande cabeça do animal. O touro se remexeu ainda mais furiosamente e recebeu com coices o outro rapaz que estava tentando fazer algo para salvar seu amado. Foi em vão. O touro jogou com uma força tremenda o jovem de cima de seu lombo, e ele voou em direção às pedras pontiagudas que havia ao redor da nascente. - os espectadores soltaram exclamações de espanto, seus olhos vidrados em mim.

- O pobre rapaz, que foi levado pelo orgulho, teve seu pescoço rasgado por rochas. Seu amado veio correndo desesperadamente até si, sentindo a vida de seu homem escorrer por entre seus dedos junto com o fluído rubro. Ele chorava e gritava por ajuda, mas não havia ninguém por perto. O homem, muito fraco, implorou: "Por favor, não deixe-me morrer... ", disse, lutando para não fechar os olhos e se entregar à morte.

- Mas, ele logo perdeu todas as suas forças. Seu amante, aterrorizado com a cena que acabou de presenciar, pôde apenas gritar, implorar, suplicar aos céus por piedade. Seu desespero chegou aos ouvidos das Moiras, as três irmãs responsáveis por determinar o destino dos humanos. - três mulheres cobertas de preto dos pés à cabeça saíram detrás da cortina, suas figuras pareciam fúnebres e belas ao mesmo tempo. - Elas se comoveram com a pureza do amor que aquele rapaz tinha pelo outro, e fizeram uma proposta ao amante da vítima:

- Seu amor irá viver, mas não como humano. A essência de seu amado viverá para sempre na forma de uma videira.

- E assim foi feito, as Moiras transformaram o corpo inerte em uma videira com folhas verde-vivo. Todos os dias, o amante ia ao bosque se deitar ao lado da videira e chorar a perda do amor de sua vida. Tão grande era seu amor, que ele chorava lágrimas doces, e não salgadas. Demorou apenas alguns meses para que a planta começasse a dar frutos, e foi aí que surgiu o primeiro cacho de uvas, que só são doces por causa do amor incondicional do amante. A Deusa Mãe, ao despertar de seu sono, revelou à um de seus filhos que aquela história se repetiria mais uma vez, por consequência das Moiras terem quebrado as regras dos céus para ajudar os rapazes.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 23, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

O Fruto do Êxtase || jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora