Capítulo 03

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Oh, espero que algum dia eu consiga sair daqui
Mesmo que demore a noite toda ou cem anos
Preciso de um lugar para me esconder, mas não consigo encontrar nenhum por perto
Quero me sentir vivo, lá fora não consigo enfrentar meu medo

Não é adorável, estar completamente sozinha?
Coração feito de vidro, e a mente feita de pedra
Rasgue-me em pedaços, da pele ao osso
Olá, bem-vindo ao meu lar

(Lovely - Billie Eilish feat. Khalid)

Narração Por Freya Victoria Walker

Londres, Inglaterra

Dezembro 21, quarta-feira

Acordo de madrugada como todos os dias, a minha pele molhada de suor por causa do pesadelo e minha respiração ofegante de desespero. Antes dançar balé era algo que me deixava feliz, realizada, hoje sonhar com isso é um grande desespero. Quando as minhas pernas morreram, também morreu os meus sonhos. Sei que não era uma garota feliz como deveria ser, sempre reclamava pelas coisas não saírem do meu jeito, reclamava dos meus pais em suas visitas indesejáveis no meu apartamento e reclamava até mesmo da minha vida perfeita. Hoje abri mão de tudo, da minha independência. Sei que tem muitas pessoas com a mesma deficiência que eu ou até pior, e moram sozinhas, mas depois de saber do meu diagnóstico, ainda no hospital decidi que iria me matar assim que ficasse sozinha no meu apartamento.

A primeira tentativa de suicídio os meus pais arrobaram a porta com a polícia e me viram se afogando na banheira, dopada. Rapidamente me mudei para casa dos meus pais, totalmente equipada para uma paraplégica suicida.

Agora tento me sentar na cama, a mansão estar em um completo silêncio e isso acaba com a minha mente. Olho para escrivaninha ao lado e vejo apenas um abajur, e um livro esquecido. Pego em mãos e folheio as páginas, decido ler onde parei meses atrás. Não tenho nada para passar o tempo, o meu celular estar esquecido desde o acidente, todas as minhas redes sociais desativadas. É como se Freya Walker nunca tivesse existido, a minha vida agora são os meus pais e juro que não queria dar este trabalho para eles.

Fecho o livro quando os meus pensamentos muda drasticamente para o sócio do papai, nego fechando os olhos com força para não pensar nele.

— Chega — Digo cobrindo o meu rosto com a manta que estava cobrindo apenas a minha cintura para baixo

Só fecho meus olhos quando o relógio marca cinco horas da manhã, ainda estar tudo escuro como de costume aqui em Londres. Acordo novamente apenas oito horas para trocar o meu cateter, a minha mãe faz tudo isso calada, mas quebra o silêncio quando estamos no banheiro.

— Não gostei nenhum um pouco de ontem — Responde mostrando insatisfação e preparando o meu banho, e sei que estar falando sobre o Jason

— Não tenho obrigação de tratá-lo bem, nem mesmo queria jantar lá embaixo — Digo de mau humor como sempre, não consegui dormir depois das três da manhã e ainda acordo com dores

— Filha, você tem que socializar — Responde e vejo em seus olhos preocupação

— Quer mesmo que eu volte a socializar, você quer mesmo que eu seja a Freya de antes? Fútil, desprezível e que nem olha para o chão onde pisa? — Pergunto cansada dessa vida, cansada até mesmo de escutar a minha própria voz

— Você não mudou nada — Responde deixando uma lágrima cair sobre sua bochecha

— Só fiquei pior — Digo e depois de alguns minutos com nós duas em silêncio, Cristine começa com o meu martírio e seu mérito

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