Capítulo 1

8 3 0
                                    

Oi feia! Saudade de você!


Eu li a mensagem da Luana no aplicativo e então me ocorreu que faziam dias que não trocávamos palavras calorosas. Por isso a saudade. 


Embora ainda nos falássemos quase todos os dias, as coisas andavam mornas entre nós. Essa constatação me deixou preocupada. 

Parei o que estava fazendo para dedicar aquele momento somente a ela. Não que eu tivesse coisas muito importantes para fazer, era domingo de manhã e meu próximo compromisso seria fazer o almoço, mais tarde. 

- Oi nega, eu também estou com saudades. 

Respondi. ​

Aquele era um tipo de frase que não costumávamos usar, simplesmente porque não dávamos tempo para sentir saudades. Certamente ela percebeu, assim como eu, que algo estava errado.

O normal da nossa relação era falar várias vezes ao dia e nisso eu tinha que reconhecer que eu deixava mais a desejar que ela. Aliás, ela não deixava nada a desejar nesse quesito. ​

Lembro que quando nos conhecemos uma das coisas que mais me encantava nela, era a forma como cuidava de mim e da nossa relação. Ela fazia de uma forma que eu me sentia incluída a todo o tempo em sua rotina, nos seus pensamentos e na sua vontade de estar comigo. ​

Aos olhos dela eu era especial e isso ficava claro para mim. 

​Com o tempo, eu melhorei nesse cuidado, mas ainda assim era quase sempre ela que tomava a atitude de dar bom dia, de enviar uma frase fofa, de perceber se eu não estivesse bem e assim por diante. 

​Eu gostava daquele cuidado. 

- Você disse esses dias atrás que queria falar comigo? 

Do outro lado, o silêncio durou um tempo maior que o de costume. Imaginei que aquela seria uma forma de cobrança, afinal tinha se passado uma semana, talvez, que ela havia pedido para conversar e até então, eu não tinha dado esse espaço.

 - Sim. Ainda preciso.

 Respondeu ela, alguns segundos depois. 

- Pode ser agora, se você quiser. Está em casa? 

- Não. Na minha avó. ​

Continuei em silêncio e então ela prosseguiu. 

- Já fazem alguns dias que eu queria falar com você, mas então, você pegou covid, teve alguns problemas e preferi esperar. 

Aquela não tinha sido uma boa introdução à conversa. Senti o coração apertado. 

Ninguém começa a dar uma notícia boa ou neutra justificando a razão de precisar falar sobre aquilo, ou de não ter falado. Notícia boa sai com naturalidade igual se pula do rosto a felicidade, independe da vontade. 

Fiquei em silêncio, ao mesmo tempo que senti a hesitação dela em dizer, e isso me fez ficar desesperada. 

- Estou bem agora, pode dizer. 

Respondi com um nó na garganta, mas tentando parecer natural. 

O silêncio continuou do outro lado. 

Eu esperei. Ela, por fim, começou. 

- Nós nos distanciamos e nossos caminhos tomaram outro rumo. 

O nó na garganta começou a aumentar e impedir o ar de passar. Me esforcei para respirar regularmente e mantive o silêncio. 

Mais uma mensagem chegou. 

Uma ponte para Nós |Onde histórias criam vida. Descubra agora