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Capítulo 4 - Hayley

Abro a janela do apertado táxi que a enfermeira Mellory pediu pra mim, preciso respirar fundo ou a minha ansiedade vai me corroer viva, observo as arvores enormes pelo trajeto, não lembrava de como Green River tinha florestas enormes, e em como a cidade ficava acinzentada em julho, tento pensar em qualquer coisa que me distraia da realidade em que eu estou voltando para casa depois de dois anos, e que Riley está morta, esse pensamento ''Riley está morta'' é irreal, não consigo entender como dois dias atrás estávamos combinando a nossa visita ao rio Green River, o piquenique com nossa torta de framboesa favorita, a câmera polaroid que planejamos tirar diversas fotos, pela primeira vez em muito tempo eu tinha sentido esperança, em nossa última conversa eu me senti pelo menos por alguns minutos normal de novo e com vontade de viver.

- Sempre que eu te visito vamos para algum restaurante nojento da estrada Hayley, vamos fazer alguma coisa diferente dessa vez, tem uma coisa que eu quero que você saiba.

''Tem uma coisa que eu quero que você saiba.'', o táxi se desloca para o centro da cidade e logo que vejo a torre do sino, sei que eu estou perto de casa. Nada nessa cidade mudou, tem várias arvores a cada esquina e pessoas nas varandas de suas enormes casas, a cafeteria cheia de estudantes fazendo fila por um machiatto duplo, quase consigo me ver na mesa de fora com o meu notebook nas mãos e Riley ao meu lado usando seu laço vermelho e o uniforme da torcida, esse pensamento me faz querer outra lata de coca cola.

- Senhorita, estamos quase chegando. – Diz o taxista.

- Ok.

Nossa casa permanece igual, cerca branca, rosas mal cuidadas e um anão de jardim que eu e Riley chamávamos de Chicho, o taxista me ajuda a tirar a minha única bolsa do porta-malas, agradeço e ele vai embora, fico parada por uns minutos criando coragem pra entrar, a luzes estão apagadas e como não tenho um celular nem sei se meu pai está em casa. Bato na porta duas vezes e nada, espero mais um pouco e bato de novo, a porta se abre e lá está ele Fred Denvers, olheiras enormes mas com um terno sem um amassado, os cabelos loiros penteados e seu celular na mão. Ele me olha por um tempo e nenhum de nós diz nada, pela forma como me olha sei que está pensando nela.

- Hayley, chegou cedo, eu estava no telefone com o pessoal da...

- Pai!

Antes de dizer qualquer coisa ele me abraça, como não fazia a anos, durante dois anos ele agiu como se eu mal existisse e agora aqui estamos nós abraçados diante da porta que eu deixei a dois anos chorando pela minha irmã morta. Entramos e fomos direto para a cozinha, deixo minha bolsa em cima do sofá, a casa está escura e organizada, parece uma casa de imobiliária pronta para a visitação. Tento me conter mas preciso perguntar pra ele antes que eu me engasgue com tudo isso.

- Como ela morreu?

Ele me olha com o mesmo olhar que me lançou naquela noite, aquela culpa e raiva que ele nunca superou. Aquele vestígio da minha última tentativa de que ele tomasse alguma atitude, mas como sempre, isso não aconteceu.

- Ainda não sabem, parece que ela se engasgou.

- Pai, preciso saber como aconteceu. – Digo, ele vai em direção a cafeteira e começa a preparar um café em silencio, antigamente eu encontrava conforto no silencio dele, mas agora eu simplesmente estou no escuro, era pra eu estar fazendo um piquenique com ela e não parada aqui, na cozinha dessa casa triste me perguntando como a minha irmã morreu.

- Meu deus Hayley! – Diz ele jogando a xicara na pia, os pedaços de porcelana voaram na bancada. Dei um pulo pra trás e me virei procurando a minha bolsa. Me tiraram do meu local de conforto pra eu continuar no escuro aqui, se ele pensa que eu vou ficar aqui brincando de fingir como sempre ele está muito enganado, a única coisa que me fazia feliz foi arrancada de mim.