Eram pouco mais de duas da tarde. O cheiro de fumaça ainda se fazia presente no ambiente, incomodando o nariz de Fushiguro e causando eventuais espirros.
Entretanto, lidar com fumaça e outros cheiros desagradáveis já era algo que estava habituado devido à carreira de detetive. Começara resolvendo pequenos casos e fazendo relatórios aos dezoito anos, mas alguns anos de experiência e promoções depois, tinha o (des)prazer de ser considerado um detetive profissional e de investigar a maioria dos casos que pegava por conta própria.
O caso de hoje, em especial, era uma exceção à regra. A princípio, parecia um caso bem simples: investigar uma casa incendiada de uma celebridade pop que vinha sofrendo ameaças nos últimos meses. Megumi já havia lidado com casos envolvendo incêndios antes, mas não tinha a habilidade necessária para poder dizer com exatidão se aquele realmente fora um incêndio criminoso ou se tratava apenas de um acidente infeliz. Diante da possibilidade de dar um depoimento errôneo sobre o caso, o detetive achou que seria melhor chamar um bombeiro experiente para ajudá-lo a juntar as peças daquele quebra-cabeças.
Satoru, seu chefe, disse que havia entrado em contato com o corpo de bombeiros do estado e que eles estariam mandando o tenente-coronel em pessoa para auxiliá-lo. O nome do oficial, se Megumi conseguia se lembrar plenamente, era Kento. Nanami Kento. Um homem adulto com mais de 25 anos de experiência na área.
Satoru falou maravilhas do tenente pelo telefone, dizendo que ele e Fushiguro se dariam bem apesar da cara fechada e comportamento introvertido de ambas as partes. Megumi não estava ali para fazer amigos, mas, contanto que terminassem a investigação rápido o bastante e pudesse ir para casa mais cedo, tudo bem para o detetive.
Enquanto o tenente-coronel não chegava, o Fushiguro passava tempo olhando fotos de possíveis evidências e fichas de potenciais suspeitos. Deixou alguns de seus papéis espalhados pelo balcão da cozinha, já que aquele era o ambiente da casa que menos fora maltratado pelas chamas.
Ele deveria chegar a qualquer momento, e o detetive estava tão distraído ruminando ideias na própria mente que nem percebera que Kento estava atrasado. Continuou passando os olhos pelas fotos e anotações que fizera previamente durante dez, quinze... vinte minutos... até ouvir passos vindos do lado de fora, rondando a porta de entrada do domicílio. Checou a hora. "14:38". Era esse o tal bombeiro experiente e sério de quem tanto ouvira falar a respeito?
A maçaneta da porta de entrada girou algumas vezes. A porta não estava trancada, mas era de se esperar que a saída principal estivesse um pouco presa em função da madeira estufada pelo incêndio. As tentativas de abrir a porta tradicionalmente se estenderam até que Fushiguro viu a maçaneta parar de girar. Ouviu um suspiro do outro lado da porta, seguido de sons de passos se afastando.
O detetive arregalou os olhos. Ele estava indo embora?! Ele ia simplesmente virar as costas e deixar a investigação de lado por causa de uma porta emperrada?!? Fushiguro largou os papéis sobre a bancada da cozinha e começou a andar em direção à porta, determinado a abri-la e trazer o bombeiro de volta à força.
No entanto, Megumi não pôde disfarçar sua surpresa ao perceber que o som de passos se afastando fora substituído por uma correria, que se aproximava rapidamente da porta da frente, chegando cada vez mais perto até que a imagem da porta estufada de madeira se transformou em um vulto bem diante dos olhos do detetive. Fushiguro arregalou os olhos e pulou para trás, temendo que a porta - ou quem quer que a tenha arrombado - caísse em cima dele.
Foi só quando a adrenalina e a poeira baixaram que o moreno pôde tirar um instante para observar e tentar entender o que caralhos havia acontecido. Ao voltar os olhos para a pessoa que havia se materializado em sua frente, se surpreendeu ao dar de cara com um rapaz alto e de cabelos rosados, que vestia o uniforme de bombeiro amarelo-padrão e que não aparentava ter mais de 28 anos. Ele parecia um pouco ofegante e exaltado pelo detalhe de que, há pouco mais de dez segundos, simplesmente arrombara uma maldita porta usando o próprio corpo. O bombeiro passou as mãos pela própria roupa e pelos cabelos a fim de remover a poeira e lascas de madeira que havia produzido. Megumi o encarava sem nem ao menos saber o que deveria pensar.

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Simulação de Incêndio (Itafushi)
أدب الهواةApenas mais um dia de trabalho onde o detetive Megumi Fushiguro precisa investigar um caso de incêndio criminoso com a ajuda de um membro da equipe de bombeiros. O que o moreno não esperava era que um imprevisto na agenda do tenente-coronel acabasse...