Capítulo 7 - Possibilidades

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— Você sabe que não precisa fazer isso, não sabe?

— Acha que não consigo? Observe! — e não sem antes direcionar uma careta nada polida para Alucard, pela quarta vez seguida tentei erguer os dois incrivelmente e desgraçadamente pesados baldes de ferro fundido cheios de água do poço, afim de carregá-los para dentro do castelo.

Finalmente meu generoso anfitrião estava me ensinando as tarefas que dividiríamos, já que, ao menos temporariamente, havia permitido minha permanência e aceitado minha proposta de ajudá-lo a manter seu labiríntico e complexo lar. Inicialmente, parece bastante lógico se pensar que tratava-se de um desafio além da capacidade humana cuidar de uma propriedade deste tamanho com apenas um par de mãos, mas assim que se pode observar o proprietário em si lidando com tudo, logo pude concluir, com uma certa irritação, que Alucard não precisava de ninguém, na verdade, para absolutamente nada. Aparentemente, ele podia fazer tudo com perfeição e com uma eficiência e precisão que deixaria qualquer um de boca aberta.

E ainda assim, não podia deixar de pensar que havia algo de errado com ele. Como se algo estivesse faltando, como uma pintura que já tivesse formado a paisagem e as formas, mais ainda precisasse de uma última demão, as pinceladas finais para que as figuras finalmente criassem vida e nitidez. Era exatamente assim que me sentia: eu podia vê-lo, podia senti-lo, mas nunca conseguia enxergá-lo completamente.

Era como se ele tivesse criado um escudo mágico e impenetrável que irrevogavelmente o separava do mundo e de todos, que permitia que o exterior enxergasse apenas o que seu dono deixasse transparecer, embora ainda não tive a oportunidade de vê-lo interagindo com outras pessoas além de mim, mas poderia apostar que estaria certa, ao menos neste palpite.

— Não é falta de confiança em você, pensadora — e lá estava o débil tom de divertimento na voz dele. Normalmente, era uma sensação cativante saber que podia diverti-lo, mas naquele momento, era particularmente irritante. — É apenas uma questão de física.

— Estão quase na altura de meus joelhos, olhe — consegui dizer com um tom satisfeito, embora fosse necessário um esforço ridículo para isso. Mais um pouco e acreditava realmente que as alças escapariam pelos meus dedos.

— Um feito notável para alguém tão frágil — concordou, e rapidamente puxou-os de mim, como se tivessem o peso de algumas penas, substituindo-os habilmente pelos esfregões. — Não espero que você faça algo que está além de seu alcance. Você pode contribuir, à sua própria maneira.

— Não sou tão frágil assim. Afinal, venho de uma família de fazendeiros — fiz questão de lembrá-lo, realmente aborrecida por ele me enxergar dessa maneira. Embora fosse indiscutível sua força em comparação a minha, me recusava a acreditar que isso imediatamente significasse fraqueza. Eu chegara até ali, não chegara? Encontrara forças o suficiente para buscar meu destino, meu futuro.

Será que ele poderia dizer o mesmo? Provavelmente, esse era um tópico que só deveria abordar se quisesse minha cabeça desconectada do corpo. Pelo pouco que tinha conhecido de meu anfitrião até agora, ele poderia ser surpreendentemente calmo, mas não gostaria de arriscar para conhecer até onde se estendia sua paciência.

— Não duvido — ele olhou bem no fundo de meus olhos, me deixando ciente que sabia exatamente o que queria dizer.

Então, quando ele não disse mais nada e começou a caminhar, apenas deixei escapar um enorme suspiro enquanto o seguia para dentro do castelo, sem insistir mais no assunto, pelo menos por enquanto.

Depois de explorar boa parte do castelo e assim notar o estado que algumas partes se encontravam – um caos feito de destruição, móveis destruídos, decorações e objetos fora do lugar –, me ofereci para ajudá-lo a recolocar tudo em ordem e reformá-lo.

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