Capítulo 2 - Rendição

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Mais silêncio.

O castelo conseguia ser ainda mais impressionante em seu anterior. A altura do teto era simplesmente surreal, algo que eu não conseguia entender como poderia ser construído. Havia uma forma de moldar rochas tão fortes em algo tão esbelto assim? Como era possível?

Mais alguns passos, observei as luzes solares transpassando as imensas janelas, em feixes que iluminavam parcialmente algumas coisas. Alguns móveis com certeza tão caros que deviam custar bem mais que a casa de minha tia, com pilhas de livros aqui e ali. Céus, que tipo de gente deixava livros jogados assim? Pessoas malditas como eu quase morrendo por aí em busca deles, e aqui estavam, jogados às traças.

De repente, não estavam mais lá. Na verdade, por um breve instante de segundo nada pude enxergar, algo rapidamente bloqueou minha visão, com uma leve brisa como acompanhante, que senti perpassar pelos meus cabelos. Foi algo tão impossivelmente rápido que apenas nos segundos seguintes, meu cérebro pareceu finalmente registrar o que havia acontecido: eu tinha companhia.

Seja lá o que estava em minha frente, estava muito, muito perto. Perto demais. O suficiente para impedir-me de fazer qualquer coisa relacionada a alguma fuga – certamente, seria mal sucedida. Antes de erguer os olhos para tentar descobrir o que me encarava, lamentei que a morte havia chegado cedo demais. Gostaria de ter lido algum livro antes, ou até mesmo um pouco mais, talvez.

Foi então que eu o vi pela primeira vez e nada poderia ter me preparado para aquela visão. Ou talvez eu já estivesse morta e aquela velha história de ser transportado para o céu estava se provando ser verdade; um belíssimo anjo fora enviado para me levar.

O anjo parecia zangado demais para a tarefa, porém. Mesmo entre os traços absolutamente perfeitos, sua expressão era dura demais para ser algo irreal. Meu coração batendo incontrolavelmente dentro do meu peito também.

Ele era real. Embora não fosse nenhum alívio perceber isso, também.

Realmente preocupada com o que poderia acontecer a seguir e sentindo uma energia correndo pelas veias que nunca havia sentido antes, pensei rapidamente em algo que poderia dizer que talvez poderia atrasá-lo, de algum modo.

— Perdoe-me — com algum esforço, consegui falar. Mal pude reconhecer a minha voz, parecia estranha, como se eu estivesse sendo enforcada. — Não sabia que estava habitado, achei... Achei que...

Sua expressão lentamente dissolveu-se para algo mais especulador e minha mente derreteu. Como era possível alguém ter um rosto como aquele? Será que nada naquele lugar era banal?

Seus olhos claros como mel me avaliaram rapidamente, fazendo-me pensar que ele estava deliberando se me mantinha viva ou não. Isso me fez voltar ao ponto de partida novamente, percebendo que eu deveria estar falando naquele momento.

— Soube que este lugar detém bastante conhecimento, livros de diversas naturezas. É apenas isso o que busco, nada mais — ressaltei, apressadamente. Não sabia como explicar, mas algo me dizia que a criatura em frente de mim era extremamente perigosa e poucas chances de sucesso eu teria, tentando enganá-lo. Talvez a sinceridade alguma vez na vida poderia me manter respirando, para variar.

— É por isso que está aqui, está interessada no que pode descobrir? — seu tom era cético, mas infelizmente me distraí por sua voz, que irritantemente também era perfeita.

O que estava acontecendo, eu estava sonhando? Impossível. Nunca minha mente poderia articular algo tão excepcional. Eu nunca havia visto nem um resquício de tudo aquilo que presenciava agora e muito menos havia conhecido alguém tão belo na vida. Não havia nem ao menos um candidato que pudesse competir, ou que tivesse algo suficiente para comparação.

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