KILLER QUEEN

II

A primeira coisa que Harry sentiu foi dor, uma dor excruciante que o corroeu de dentro pra fora, e assim ele despertou, saltando em sua cama, agarrando a cabeceira enquanto banhava os lençóis de seda com seu suor. Os servos ao seu redor se agitaram, surpresos pela subita reação do monarca, felizmente seu médico estava ao seu lado.

- O que está havendo? Onde estou? - Harry gemeu, angustiado. Olhando tudo ao seu redor, lhe parecendo estranho e desconhecido.

Sua cabeça latejava terrivelmente.

Liam estava no canto, apertando o punho da espada. Um generoso número de nobres também se encontrava presente, provavelmente já haviam iniciado as discussões sobre quem assumiria o trono em falta de um herdeiro.

- Majestade... - O médico, Dr. Ballister o chamou calmamente - está de volta ao palácio, na segurança de seu lar.

Foi quando sua mente pouco a pouco voltou a raciocinar, suas memórias estavam embaralhadas. Confusas. Seu raciocínio ainda muito irregular.

Um riso involuntário rompeu de seus lábios secos. Obviamente um absurdo, uma ilusão zombeteira criada por sua imaginação fértil, algo tão deveras estupido como um alfa surgindo no rio e lhe dando a força uma mordida de ligação. Era tão... Ele gelou ao sentir o formigamento entre o pescoço e o ombro, sua mão caiu às pressas sobre a área, onde ataduras o impediam de tocar a pele que parecia queimar, como se reagisse a algo, ou melhor dizendo, alguém.

Dois grandes olhos verdes caíram sobre o doutor que estava pálido e de lábios trêmulos, ele não podia pôr em palavras, mas pensava o mesmo que Harry. Aquilo que não podia ser dito diante da corte.

Engula seu temor e seja um rei.

E assim, Harry o fez, puxando os lençóis de encontro ao peito e repousando as mãos no colo, erguendo seu queixo altivamente e os olhando com desdém. Não havia nada com que se preocuparem, o rei estava bem, era o que sua expressão determinada dizia, embora seu coração estivesse acelerado.

- Meus bons amigos, fico lisonjeado com tamanha preocupação, mas eu estou bem e ficarei ainda melhor para partilhar de sua companhia no baile desta noite.

Dúzias de olhares confusos foram trocados antes que voltassem a pousar sobre o monarca.

Um barão se empertigou ao falar um tanto abobado:

- Sua graça, o baile teve de ser adiado.

Harry saltou, surpreso.

- E por que haveria de ser adiado? Eu me sinto ótimo.

Seu médico se inclinou ao seu lado, soprando discretamente em seu ouvido:

- O senhor esteve acamado por cinco dias, mejestade.

- Cinco dias?! - Gritou em choque. O rubor rapidamente tomou sua face ao constatar que sua corte continuava petrificada aos pés de sua cama, analisando com curiosidade exarcebada.

Ele riu nervosamente, tocando o cabelo, com fingida despreocupação.

- Este foi um resfriado severo, fiquei tão confuso. Sendo assim, os verei no jantar. Podem se retirar!

A contragosto, os nobres assentiram, fileiras após fileiras de joelhos se dobraram diante de Harry, o qual esperava ansiosamente até a porta finalmente ser batida, restando apenas Liam e seu médico.

Quando o último partiu, o ômega tomou o doutor franzino pela gola de suas vestes, o chacoalhando com furor.

- Mil infernos, o que está havendo? Como assim estive acamado por cinco dias? Que maldição de atadura é está?