Cinderela estava frente a frente a imensa construção conhecida como Mansão Era Uma Vez. Seus olhos procuravam alguma coisa para chamar alguém para abrir a grade de ferro. Não havia nada. Recuou um pouco par ter uma visão mais expandida da sinistra construção. Pôde então ver um pedaço branco de papel jogado em frente a uma pedra caída.
Isso estava aí?
Olhou para os lados. Ninguém. Nenhum barulho a não ser as fortes batidas de água no penhasco e o vento balançando as folhas das imensas árvores da Floresta Encantada sob a montanha. Aproximou calmamente. A pedra havia se soltado do alto da Mansão. Alguém lá dentro queria entregá-la aquele papel.
Pegou-o com medo de ser mais uma das macabras cartas que andara recebendo da misteriosa A Dama. Não era. Era algo talvez mais esquisito do que as cartas. O papel rasgado, meio amarelado, continha poucas palavras que estavam dispostas até certo ponto de uma maneira compreensível.
- O rato roeu o sapato do Rei de Roma?! – Cinderela leu em voz alta. Compreendendo nitidamente a brincadeira. – O Sapato... só podia ser essa Dama.
Enquanto permanecia parada pensando nas famosas palavras e o seu sentido em estar ali brincando com sua história, ouviu um ranger de ferro a sua direita.
- A grade! – exclamou sem saber se sentia medo ou surpresa por estar entrando na Mansão Era Uma Vez.
Correu em direção à grade que se levantava com bastante dificuldade. O papel caiu de suas mãos, mas não faria diferença. Foi então que se viu mais surpresa. Após a grade havia uma parede de pedras que impedia sua passagem. Deu apenas dois passos. A única quantidade possível até sentir seu nariz quase tocar uma rocha pontuda. Atrás de si a grade caiu em um ímpeto movimento, fazendo com que Cinderela soltasse um grito fino. Levantou a mão até a cara tampando-a para não ver.
Estou presa. Só conseguia pensar isso.
Então quando começava a chorar, pode ver um fino raio de luz entrando por entre seus dedos. Tirou a mão de seu rosto vendo que a antes parede de pedra se mexera formando um lindo arco.
Após o arco uma espécie de corredor a céu aberto. Rochas dispostas em linha reta formando um caminho até um pátio maior com uma fonte no centro que jorrava água formando um rio para os quatro lados. A água que jorrava em sua direção parava poucos metros a frente formando um pequeno lago e a que escorria para os outros lados formava um pequeno riacho que parava ao encontrar com as rochas.
Pisou na primeira e pôde sentir o sol iluminando fortemente seu rosto. Pôs a mão na frente criando uma sombra para poder enxergar melhor. Nas paredes de pedra do corredor a céu aberto haviam três portas de madeira a cada lado. Pisava levemente em cada pedra enquanto segurava seu vestido azul, com a outra mão, que reluziam pequenas joias.
Chegou finalmente no pátio. Seus olhos brilharam. Estava maravilhada. Via ali o paraíso perfeito para o Era Uma Vez. Esqueceu-se de tudo. Da Dama. Da macabra carta. Queria apenas apreciar. A sua frente o pequenino lago de águas puras. Refletia um brilho amarelado em apenas um ponto. E no centro do pátio redondo, a fonte com um leão dourado com quatro cabeças no topo, jorrava a água para os quatro cantos. A grama revezava em um verde bem forte para um amarelado dourado. Uma maravilha. Apenas uma coisa destruía aquela visão: as paredes que privavam aquele lindo local.
Isso deveria ser livre. Qualquer um deveria vir aqui.
Girou. Agora segurando seu vestido com as duas mãos sentiu o vento em seu rosto e o sol. Girava sem ficar tonta. Girava sem querer parar. Girava e se esqueceu de tudo.
- Cinderela? – uma voz familiar chamara-a. Podia reconhecer muito bem.
Girou então mais uma vez e parou para o lugar de onde a voz vinha.
Parada a sua frente estava a Fada Madrinha. A mesma fada que lhe ajudara quando precisara. Uma mulher esbelta. Usava um lindo vestido prateado e na sua mão, como sempre, sua longa e bela varinha. Seus cabelos eram longos e brancos.
- Fada! – correu em direção à garota e abraçou-a durante um longo minuto.
Atrapalhando então aquele momento tão feliz, a voz de alguém também não estranha ecoou atrás delas.
- Por favor senhoritas, temos muito o que conversar. Devo lembrá-las de que aqui é realmente um lugar belo, mas as pessoas que nos chamaram não possuem nada de bom.
Cinderela parou dizendo poucas três palavras que fizeram-lhe lembrar de tudo que a levara ali. Das cartas que lhe fizeram chorar dias e noites.
- É claro, Coelho. – seu sorriso sumira.
Virou-se e viu junto ao Coelho Branco, Chapeuzinho e Zangado, o anão de Branca De Neve. Nunca gostara muito dele. Na maioria das vezes aquele anão, literalmente zangado, atrapalhava as reuniões da Ordem. Lembrou-se então de Branca, não aparecera na última reunião. Com certeza aquele Zangado conseguira convencê-la mais uma vez. Cumprimentou os dois. Não tocou no assunto. Conversaria apenas o necessário com ele.
- Agora nos fale tudo. Por que nos chamou aqui Cinderela? Ou melhor dizendo... A Dama. – a entonação da voz do Coelho lhe dava arrepios.
Como o Coelho poderia suspeitar dela? Cinderela era apenas mais uma que fora convidada. Quem diria que ele mesmo não fosse A Dama? Sua expressão de espanto era evidente em sua face. Coelho, Zangado e Chapeuzinho olhavam para ela com um olhar de desaprovação.
- Mas não sou eu. Estou recebendo as cartas a muito tempo. Se eu não viesse... – percebeu que estava falando de mais e parou. Mudando abruptadamente de assunto. – Quem pode me afirmar de que você próprio não é A Dama? – o olhar de todos se voltou a ele.
A expressão de surpresa saltou da cara de Cinderela e parou bem no focinho do Coelho. Gaguejava sem pronunciar nenhuma palavra decifrável. Após uma longa tentativa conseguiu.
- Mas por que eu mandaria cartas assinadas como O Louco e A Dama para vocês. Atrapalhar minha vida e a de vocês.
- O Louco? – Cinderela estava confusa.
- Cada um de nós recebeu uma carta, assinada como O Louco e A Dama. Ainda estamos tentando entender. Está muito confuso. Não lembramos de ninguém do Era Uma Vez que pudesse sê-los, agora que chegou com tanto entusiasmo nesse lugar, creio que seja a misteriosa A Dama. Nenhum de nós queria chegar aqui.
- Mas eu não sou. Disso tenho certeza. E além do mais para que enviaria cartas pra mim mesma? – Cinderela mal terminou a frase e o Coelho deu-lhe uma resposta instantânea.
- Para não levantar suspeitas... – não pode terminar a frase. Um barulho de ferro ecoou pelo pátio.
Todos olharam para o fundo do corredor. Aparentemente nada, até que as pedras, da mesma maneira que acontecera com todos se juntaram formando um arco. Ali de pé estava um garoto usando uma roupa completamente verde-folha. Seus pés não tocavam o chão.
Cinderela exclamou em voz alta com um sorriso estampado:
- Peter!
O Coelho muito cético interrompeu aquele sorriso.
- Além da Dama, agora também temos O Louco.
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Mansão Era Uma Vez
Misterio / SuspensoSe você fosse convidado para um lugar desconhecido para encontrar velhos amigos e outros desconhecidos, aceitaria ou recusaria o singelo convite? E se a carta que lhe convidasse ameaçasse espalhar fatos de sua vida que você se esforçou muito para se...