Capítulo 2 (Depois)

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Foi a primeira vez em 3 meses que o jornalista investigativo Jhon Sfllin retornou ao seu antigo escritório improvisado no porão de sua casa. Ele tinha prometido que iria descansar sua mente depois de receber várias recusas de emprego e também depois daquele trágico acontecimento com seus pais. É que um recém-formado nunca tem vez em um mercado arcaico que ama priorizar pessoas de nome. Ele só tinha 24 anos e um diploma para pendurar em sua parede. Nada mais que isso. Apesar de novato, ele era um profissional assíduo e tinha várias matéria publicadas em seu blog na internet, o que lhe rendia uma pequena renda e cliques nos seus links. Jhon entrou e sentou numa cadeira velha e desconfortável de segunda mão que ele usava enquanto escrevia. Pensando sobre si, veio em sua mente algo nostálgico sobre o que tinha começado com um hobbie aos 5 anos de idade, brincando de investigar quem matou a formiguinha em seu quintal, viraria a sua profissão no futuro. Isso o fez soltar um riso genuíno quando lembrou-se de seus momentos de diversão com seus primos. Apesar de tudo, ele estava feliz por ter escolhido a profissão dos sonhos. Mas o que tinha de talentoso, tinha de desorganizado, em meio a todo aquele papel espalhado no chão que ele tinha de arrumar, pegou-se pensando na vaga tão cobiçada na Redatora Collen. O dono era a pessoa mais amarga do mundo. Um velho que deveria beirar os 70 anos, era um completo carrasco quando se era necessário contratar alguém. Quantas vezes Jhon não tinha recebido um "não"? Mas o que fazer se ele sonhava em exibir sua carteira de trabalho carimbada pelo Sr. Robert Collen? — Com saudades de trabalhar, querido? — uma voz um tanto quanto agradável atrás dele o fez voltar à realidade. Era sua avó.

— Oi, vó! — disse ele forçando um sorriso simpático.
— Faz tempo que não te vejo entrar aqui. — ela fitou o quarto e a bagunça. Coçou o nariz e então desceu o primeiro degrau. — Empoeirado, não? Posso entrar?
— Claro. — disse Jhon se levantando e ajudando-a descer as escadas.
— Não sei mais em que lugar procurar trabalho, dona Nancy. — puxou um banco para sua avó sentar. — Tenho andado desanimado nesses últimos tempos.
— O seu site não anda mais dando certo, filho? — perguntou a avó já sabendo o que esperar na resposta do neto.

Jhon desviou o olhar da senhora, observou seu monitor e em seguida dirigiu o olhar para ela.

— A senhora sabe que não estou me referindo a isso. Por favor, não aja como se tudo aquilo não tivesse acontecido. — Ele quebrou o contato visual e segurou nas mãos da avó. — Me desculpe se pareci um pouco rude, mas é que ainda dói muito em mim.

— Meu amor... — Nancy puxou o neto para um abraço. — Não precisa pedir desculpas. Você tem razão, eu não deveria evitar falar sobre isso. — Desvencilhou-se do abraço do neto e segurou seu rosto. — Acredite, é muito difícil para mim perder uma filha e um genro daquela maneira.

A mãe e o pai de Jhon tinham sido vítimas de um acidente de carro há 3 meses atrás, o seu pai morreu no local, os socorristas até tinham tentado levar a mãe dele para o hospital, mas ela acabou falecendo ainda na ambulância. A investigação da policia apontou que os dois voltavam de viagem quando um cervo cruzou a pista, naquele dia nevava muito e eles tinham viajado pela noite. O carro acertou o animal em cheio fazendo eles capotarem na ribanceira, a estrada escorregadia contribuiu para que a situação fosse ainda mais grave. Os dois voltavam pelo único caminho de acesso à cidade. Eles vinham pelo vilarejo Long River. Algo de sinistro também tinha acontecido naquele mês de dezembro que fez com que a morte dos pais de Jhon não tivesse sido bem apurada pelos investigadores, fazendo assim que fosse dada como acidental. Uma mulher tinha sido brutalmente assassinada há alguns metros do local do acidente do casal. Mas aquele caso seguia cheios de dúvidas e os fatos bem incongruentes. Até o presente momento não sabiam bem o que tinha levado àquilo.

— Eles nem se quer me viram empregado, vovó. — Disse ele sentindo uma lágrima escorrendo pelo seu rosto.

— Ah, Jhon... Ninguém pode explicar os planos de Deus.

— O que Deus tem a ver com isso? Deixa Ele de fora dessa. Estou cansado disso, para tudo de ruim que acontece, a única explicação é "os planos de Deus". — Jhon trabalhava com fatos, não com crença. Sua vida toda ele fora católico e frequentava a igreja com seus pais em todas as missas. Ouvi-lo falar daquele jeito deixava a avó muito frustrada.

— Nunca mais fale uma blasfêmia dessa, Jhon! — Disse a velhinha com um tom sério e firme. Não podia aturar aquele desrespeito com o Todo-poderoso. — Devemos sempre confiar nele.

— Meus pais sempre confiaram nesse Deus e no fim das contas, a que custo? — Jhon parecia estar com um rosto que envolvia ira e decepção. — Eles morreram e Deus poderia ter evitado, mas não fez nada! — Exclamou o jornalista com bastante veemência. — Se Ele existir mesmo, deve estar dando risada agora por todas as pessoas que confiam Nele e sempre acabam se fodendo. Abriu o mar vermelho, mas não foi capaz de evitar a morte dos meus pais. Acho que essas desgraças só acontecem a mim. Eu devo ter sido amaldiçoado por Deus.

Dona Nancy se levantou e fez algo que se arrependeria mais tarde. Ela deu uma tapa na cara do neto, algo que nunca tinha feito antes.

— Se eu ouvir você falando isso de novo, outra tapa seria nada perto do que eu faria. — Disse ela indo em direção à porta de saída, mas algo veio em sua mente e decidiu colocar para fora. — Lembra que na noite do acidente dos seus pais, aconteceu algo de terrível também aconteceu. — Dona Nancy estava alterada falando e aproximando o dedo na cara do neto. — Uma moça foi encontrada morta, brutalmente assassinada dentro de um depósito. — Ela abaixou a cabeça e pensou no sofrimento da família, depois de respirar e ficar mais calma, voltou a falar. — Não pense que desgraça só acontece com você. Até hoje ninguém sabe quem fez isso com ela. Agradeça a Deus por seus pais não terem tido um fim daquele. — A senhora subiu as escadas e bateu a porta do porão um pouco mais forte do que queria. Deixando Jhon lá em baixo em seus próprios pensamentos.

Jhon se levantou e jogou um copo esquecido na sua mesa de trabalho à parede, descontando sua raiva.

— Ela quer que eu agradeça por meus pais terem morrido. Isso é piada. — Jhon balançou a cabeça em negação e voltou sua atenção para o escritório, mas ele não tinha mais ânimo para arrumar nada.

Mais tarde, já em seu quarto, enquanto estava deitado esperando o sono aparecer, ele se pegou lembrando da discursão com a avó que tivera mais cedo. Aquela conversa sobre seus pais tinha sido muito sensível e sua avó tinha pedido desculpas a ele por tudo aquilo. Mas algo que não saia de sua mente e que, antes da dona Nancy clarear sua mente, ele tinha esquecido totalmente. A morte daquela garota. Ele tinha ouvido aquilo ter sido noticiado na época, mas não tinha dado muita importância por estar sofrendo o luto pelos pais. Jhon se levantou e ligou seu Notebook, pesquisou por "Long Rive assassinato". Não sabia porque esperou que fosse aparecer alguma coisa sobre seus pais, já que tinham sido mortos por acidente e não assassinados. Mas aquilo o fez ficar com mais raiva já que sentia que ninguém deu atenção ao caso deles. Não demorou muito para aparecer diversas notícias sobre a universitária na internet. Agora ele conseguia lembrar. Lisa Grandfort. Este era o nome dela. Após ler algumas matérias, algo o chamou atenção. O Horário que Lisa foi morta, coincidia com o horário da morte dos pais dele, mas o bizarro nem era isso. O que Jhon não lembrava era que a distância entre as duas tragédias ficava a menos de 3 quilômetros.

Aconteceu em Hill StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora