A policial | Oneshot

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A Policial - Simone

Eu estava dentro do meu carro, na garagem do novo prédio onde eu residia. Havia acabado de chegar de mais um longo dia de trabalho. Meu corpo inteiro clamava por um longo banho e um cálice de vinho. Eu precisava relaxar, reduzir o nível de cortisol no meu corpo. Minha rotina há três anos era exatamente a mesma: de casa para o trabalho, do trabalho para a casa.

Saí do automóvel, caminhei até o elevador e o mesmo levou-me ao andar onde estava localizado o meu novo lar. Destranquei a porta e entrei. De imediato senti uma atmosfera diferente. Corri os meus olhos por toda a sala, porém tudo estava em seu devido lugar. Apenas a energia do ambiente não era a mesma. Seja sexto sentido, ou intuição, eu sabia que algo havia mudado.

Mais que depressa, eu peguei a minha arma da cintura e a destravei. O apartamento está iluminado unicamente pela luz que entra através das janelas ainda sem cortinas. Caminhei com cautela pela sala, corredor, cozinha, banheiro, quartos e suíte. Restava apenas um lugar: O escritório. O cômodo que fica no fim do corredor. Aproximei-me da porta fechada e a abri.

A luz estava apagada, o breu tomava conta do local. Foi então que senti o seu cheiro. Aquele cheiro que inebria-me os sentidos, deixando-me louca. Uma mistura de sensualidade e perigo, com notas marcantes de perversidade e mau-caratismo. Seguindo a minha intuição, apontei a arma em direção a cadeira atrás da mesa e liguei a luz.

Lá estava ela. Soraya Vieira Thronicke. A mulher a quem dei meu coração, meu corpo, minha mente. Aquela que traiu a minha confiança, me uso e destruiu-me por completa. Ela, uma das fugitivas mais procuradas do país.
Aquela que eu vinha caçando incansavelmente, dia e noite. Lá estava ela, sentada no meu escritório, no meu novo apartamento, apontando uma arma para mim.

- Surpresa, amor! - Disse com um sorriso cínico nos lábios pintados de vermelho. - Estava morrendo de saudades sua. E você, sentiu minha falta? - Perguntou e logo depois o som inconfundível do seu riso preencheu o ambiente.

***

A minha vida cruzou com a da Soraya há cinco anos. Estávamos vivendo uma batalha, lutávamos em lados opostos, tínhamos valores e princípios nada semelhantes. Contudo, eu só soube dessas nossas diferenças há três anos, e desde então, eu caço a Soraya Vieira Thronicke.

Me chamo Simone Nassar Tebet, sou filha de um brasileiro e uma libanesa. Nasci no Brasil, mas ainda com poucos meses de vida fui morar em Beirute. O casamento dos meus pais não deu certo, eles tinham sonhos e ambições divergentes, separaram-se um ano após o meu nascimento. Eu morava com a minha mãe no Líbano, e nas férias escolares e de fim de ano, eu vinha para o Brasil visitar o meu pai.

Apesar de amar muito a mamãe, e enxergar nela uma grande fonte de inspiração, eu tenho uma relação muito mais forte e densa com o meu pai. Ele é o meu herói. Papai representa tudo aquilo que eu quero para o meu futuro. Um homem da lei, que fez, faz o bem e lutou pela justiça na sua pátria. Papai era delegado federal, hoje é aposentado. Sua convicção, coragem, determinação e paixão pelo trabalho que exercia transbordavam pelos seus olhos e atos, tocaram-me os ossos, apossaram-se de mim. Eu segui os seus passos.

Quando finalmente atingi a maior idade, me mudei para São Paulo, onde morei com papai. Cursei direito e logo após concluir a faculdade, aos 24 anos, entrei para a Departamento de Polícia Federal. Comecei como agente administrativo, um anos depois tornei-me agente federal. Trabalhei na tríplice fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai), onde atuei nas áreas de entorpecentes, crimes fazendários, migração e combate ao crime organizado.

Não pulei nenhuma etapa no DPF, comecei de baixo e fui galgando o meu espaço, queria mostrar à todos que tinha talento e vocação para estar ali. Cinco anos após ingressar na Polícia Federal, eu finalmente conquistei o respeito e reconhecimento da instituição. As ações das quais minha equipe e eu participávamos, na grande maioria das vezes, eram finalizadas com resultado positivo. Devido ao grande número de operações bem sucedidas, a DICOR (Diretoria de investigação e combate ao crime organizado), convidou-me para fazer parte de um novo projeto. Chamaram-me para participar do núcleo inteligência e estratégia como uma agente infiltrada. Eu aceitei.

A Policial | Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora