✨ Aguni - AIB ✨

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O corpo frio do Chapeleiro estava na mesa com uma fratura de bala no peito. E eu? Eu estava tão silenciosa e imóvel quanto o corpo desfalecido na minha frente.

- Alguém o matou. - Uma das pessoas do conselho falou, eu nem o ouvia direito, meus olhos fitavam o chão por não querer olhar para o homem na minha frente do outro lado do corpo e da mesa.

- Ou ele se matou.

- Não acho possível. O ferimento da bala está estranho... - Ann proferiu tentando mexer naquela massa de músculos.

- Pare de mexer nele. Está morto e isso não importa mais. - Niragi proferiu e bateu com a base da arma na cabeça do cadáver de forma cruel e sádica, como se estivesse feliz.

- Kaori, sabe de algo? - Me assusto e olho para Ann que me encarava com uma das sombrancelhas erguida.

- Não.. Por que eu saberia de algo?

- Você saiu com o pessoal da praia pra jogar ontem a noite. - Completou Kuina.

- Não sei de nada. Eu estava concentrada em não morrer com aqueles idiotas lá em baixo. - Tentei dizer da forma mais seca e indiferente que pude e ninguém mais citou o meu nome.

Niragi forçou a todos nós votarmos em Aguni para ser o próximo chefe da praia e foi a primeira vez naquela reunião de última hora que eu encarei seu olhar caído sobre mim. Parecia meio confuso e desconfiado, mas nada que sua carranca não pudesse disfarçar. Apenas eu sabia então. Tanto faz.

Após Aguni ser eleito forçadamente por todos do Conselho, eu tentei sair da sala o mais rápido possível até que Ann puxou um de meus braços para o canto e sussurrou:

- Se estiver protegendo alguém, repense duas vezes. Você pode estar cometendo um erro.

- Eu já disse Ann, não sei de nada do que houve com o Chapeleiro, só ouvi o disparo e mais nada. Não fui ao local por achar que era só mais um dos idiotas da praia que atiram para cima em comemoração. Só isso que aconteceu, além de eu ter me machucado no jogo. - Aponto para meu abdômen que estava com curativo por conta de um machucado que sofri na noite passada.

Ela não diz nada e se vai, assim como eu indo para meu quarto.

- Aí, isso...dói. - Resmunguei enquanto tirava o curativo manchado de sangue, um corte meio profundo, mas nada que me mataria.

- Por que fez aquilo? - Uma voz grossa diz e eu me assusto jogando minha adaga na direção da pessoa.

Aguni apenas desvia da arma meio assustado enquanto a mesma se chocava contra a parede.

- O que está fazendo aqui? - digo fria e seca. Eu não sabia se ele estava lá para me matar ou não.

- Quero saber o porquê você não disse nada.

- Não sei do que está falando. - Voltei minha atenção para meu curativo, mas ainda sim atenta a qualquer movimento de Aguni.

- Não se faça de burra, Kaori. Sabe do que estou falando. - Ele parecia irritado, talvez com medo. - O quer que eu faça para você não contar?

- Não quero nada, apenas que me deixe em paz.

Droga, como aquele machucado doía. Gemo de dor quando passo o soro fisiológico para limpa-lo, e o homem em meu quarto parecia não querer sair.

- Quando isso aconteceu? - O homem corpulento aponta para meu corpo.

- Isso não te diz a respeito.

- Pare de se portar como uma criança burra e birrenta. O que aconteceu pra você ter um corte profundo na sua barriga? E por que não contou sobre o que viu ontem? É medo de eu te matar? Diga logo!

Solto ar pelas narinas, derrotada pela multidão de perguntas e me levanto, pondo minha regata em meu corpo novamente.

- Eu me machuquei matando outra pessoa que tinha visto você matando o Chapeleiro.

Agora parecia que tudo fazia sentido na cabeça de Aguni. O barulho estrondoso vindo de um canto depois que o corpo do Chapeleiro já se encontrava no chão. Eu o havia feito após salvar Aguni de ser pego pelo crime por uma pessoa que com certeza contaria para os outros da Praia.
Será que ele pensava sobre a noite anterior? Sobre como ele me achou caída com sangue no corpo, os olhos apavorados olhando o corpo do Chapeleiro longe e um machucado na barriga. Sobre como eu levantei e corri o mais rápido que pude até um dos carros que iam para a instalação.

- Me salvou, de novo. - Ele disse e um silêncio pesado caiu sobre nós. - Por favor, só me diga, por quê?

- Isso não interessa mais.

- Sim, interessa. Claro que interessa.

- Não, não interessa, Aguni! Já passou, eu não vou contar, tá legal? Agora pode me deixar em paz? - Já disse meio alterada, enquanto o barulho alto da festa lá embaixo era ouvido por nós.

- Não, não posso porque você está dando uma de salvadora para cima de mim e dos outros da Praia! Sei muito bem que como todos aqui você só deva querer minha cabeça e a de Niragi, para se livrarem logo da milícia. Seria um favor para todos, até pra você! - Ele fala mais alto que eu e não consigo me conter. Céus, eu havia enlouquecido.

- O que?! Quer saber por quê não te dedurei? Porque eu gosto de você Aguni e não quero te ver morto como acha que quero por uma idiotice do calor do  momento! - Abaixo a voz, me arrependendo de tudo o que eu havia exposto. - Eu fui burra realmente, poderia ter salvado a minha vida e te condenado pelo que fez, mas eu não aguentaria te ver morto como Chapeleiro, então me chama de criança burra pelo fato de eu preferir te salvar  a te ver morto, isto não importa pra mim.

O silêncio mais insurdecedor que eu havia ouvido na vida havia acontecido no meu quarto entre eu e o homem que eu secretamente tinha uma queda desde que entrara na Praia.

- Há quanto tempo... gosta de mim? - Apenas isso? Era isso o que ele tinha a dizer?

- Chega de perguntas, Aguni. Por favor saia do meu quarto e vá curtir a festa. - Disse pegando em seu braço firme e tentando arrasta-lo para fora.

Com rapidez, o homem se desvencilha de minha mão e me prende na parede.

- Não posso te deixar aqui, sozinha, depois de tudo que me falou. - O chefe da Milícia me olhava tão profundamente que tenho que desviar o olhar e o calor que subia em minha nuca.

- Ah, me poupe Aguni, como se você sentisse o mesmo. Eu sou só mais uma garota que tem uma queda pelo Chefe da Milícia e agora da Praia. - Consigo encarar seus olhos com deboche. - Meus parabéns, chefe.

Com um impulso, Aguni me beija forte enquanto me prensa na parede. Minha mão direita passa por seu peito e contorna seu pescoço em direção a nuca. Acho que nunca notei o quanto aquela simples queda era algo mais. Acho que nunca notei as tantas vezes que o encarava de longe enquanto ele andava por aí com a Milícia até que ele me achasse e me fizesse ficar vermelha de vergonha depois. Aguni... ele certamente não era só uma queda. Era um penhasco gigantesco pelo qual eu me jogaria sorridente.

- Espera, como....como assim? - Consigo dizem em meio às pesadas respirações que eu dava.

- Você não é a única atraída pelo potencial inimigo. - E me beija novamente.

Aquilo fora o máximo que havia rolado em toda a nossa trajetória de relacionamento social até aquele momento e eu queria avançar ao máximo cada vez mais. Aguni me convidara a me juntar a Milícia para poder ficar mais perto dele, eu disse que iria pensar, mas sempre que podia, ele deixava o pessoal e vinha me procurar. Ele sempre vem, afinal, somos namorados, mesmo que escondido de todos.

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