1. Prólogo

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Eu já me masturbei pensando em Lalisa Manobal.

Acho melhor falar isso de uma vez. Tenho certeza de que é o tipo de coisa que todo mundo imagina e, embora eu negue até o dia do Juízo Final, é verdade.

Se alguém pudesse ler meus pensamentos me consideraria o ser mais arrogante do universo. Ah, inferno... Às pessoas já acham isso de qualquer modo. Mas eu não sou arrogante. Sou apenas uma mulher segura. Eu sei o que eu quero e nunca, nunca, minto para mim mesma sobre coisas desse tipo. Não importa quão possível ou absurda seja a ambição: eu sempre admito para mim mesma onde quero chegar e tento chegar lá o mais rápido que conseguir. Muita gente vê isso como arrogância. E o que eu acho? Que o problema é delas.

Mas eu estava falando sobre a infame senhorita Manobal e meus desejos íntimos e não revelados.

Permita que eu explique melhor.

Muitas mulheres se masturbam. Não vou dizer todas porque não sei se isso é verdade. Isso varia de uma mulher para outra: depende da ocasião, do tempo ou das ferramentas que ela tenha à sua disposição. Mas, e isso é um fato, para muitas mulheres a masturbação precisa de encenação. O homem pega a revista masculina mais próxima e começa a se tocar de qualquer jeito, enquanto encara fotos de mulheres despidas e baba sobre elas. Pouco tempo depois ele está ejaculando sobre meias, paredes ou algum outro lugar que ele nunca vai limpar do jeito certo. A masturbação feminina é diferente. É delicada, sutil. É quase como uma dança. Você tem que descobrir os passos que funcionam para você, decorá-los e ou repeti-los como uma coreografia.

Geralmente começa com uma imagem. Mulheres não se masturbam diante de revistas ou sites pornográficos. Elas fazem sexo sozinhas dentro do infinito mundo de sua rica imaginação. Penso em um cenário que me seduz: talvez eu deva dinheiro, como em um filme pornô, ou a atriz mais gostosa do meu seriado favorito me deseje loucamente como em um conto na internet, talvez uma mulher dominante queira me foder sem nenhuma emoção como em um romance de banca de jornal. Pense em uma possibilidade, ligue seu vibrador, enfie-o entre as pernas e se prepare.

É assim com a maioria das mulheres.

Nunca foi assim comigo.

Eu me lembro da primeira vez que me masturbei de verdade. Nunca tinha visto muita graça nessa coisa toda... Não no sexo! Sexo sempre foi razoável, bom ou muito bom. Nunca sem graça. Mas a masturbação nunca me encantou e, confesso, não era um hábito que eu sentia necessidade de fazer com frequência. Eu era muito jovem, e a minha namorada tinha me traído. Cheguei em casa com muita raiva e me masturbei pensando nela. Foi uma das minhas experiências íntimas mais prazerosas. É contraditório, eu sei. Muitas mulheres iriam gritar aos quatro pontos cardeais que nunca mais pensariam na filha da puta enquanto vivessem - mas o que fariam seria só pensar na filha da puta. Mas eu... Bem, eu já mencionei que não minto pra mim mesma, não é?

Pensei nela com todas as minhas forças. Eu montava sobre seu corpo suado e fazia ela me desejar como nunca tinha desejado nada na vida. Fazia ela pedir e implorar. Eu ia rebolar e fazê-la gritar alto e rouco. E depois a abandonaria. Depois de experimentar a melhor transar de sua vida, ela pediria mais e eu diria "não". Eu diria "nunca mais".

Só isso já é capaz de me fazer gozar até hoje.

Não... Eu não penso em cenários eróticos com uma sensual figura feminina sem rosto enquanto estou me masturbando: o que me faz atingir o clímax é pensar em mulheres de verdade. Não aquela atriz pornô famosa, nem a nova queridinha de Hollywood ou alguma personagem de um best-seller: eu penso em mulheres que eu conheço.

Nunca procurei sentido nesse prazer específico. Mas aprendi os passos da minha dança e, sempre que tinha vontade, eu dançava.

Até que, um dia, eu estava lendo algo no Oscar Wilde - ou algo sobre o Oscar Wilde - e, de forma simples, ele conseguiu traduzir meu sentimento perfeitamente: "Tudo no mundo tem a ver com sexo. Menos sexo. Sexo tem a ver com poder."

Era isso que me encantava. Era isso que me seduzia.

Sexo era mais uma forma de poder. A mais basal, instintiva e, talvez, a mais absoluta. Era o poder que me deliciava em meus momentos íntimos.

Uma juíza que deu ganho de causa para a outra parte, uma advogada irritante, uma cliente boçal, minha chefe em um dia ruim... Qualquer uma dessas mulheres poderia cair sob meus encantos quando eu estava sozinha com meu vibrador à noite.

A sociedade pode torcer o nariz e dizer que é errado se sentir sexualmente atraída por alguém em um ambiente de trabalho. Mas eu não estava fazendo nada de verdade, estava? Não. Eu estava apenas cedendo aos meus desejos mais íntimos. Àqueles desejos, sabe? Que a maior parte da população prefere mentir e dizer que não sente.

E é por isso que penso em Lalisa Manobal.

Não, eu não sinto nenhuma paixão adolescente por ela.

Ela é irritante e muito inteligente. Me desafia de todos os jeitos errados, e é justamente por isso que eu penso nela com frequência, quando minhas mãos encontram algum lugar deliciosamente sensível para acariciar. Se não posso me impor a ela em nenhuma situação real, eu pelo menos extravaso em uma situação imaginária. Não é uma questão de sexo. É uma questão de poder.

E, no fim das contas, eu não tenho poder nenhum sobre ela. Nenhum.

Mas isso não vai mais ser um problema: ela está indo embora. E tomara que nunca mais volte.

4 Weeks of PleasureOnde histórias criam vida. Descubra agora