Feitiço do Amor

Não foi magia.

— A magia deve ter seu controle, o treino é preciso antes de qualquer uso. Não importam as circunstâncias, não deixe para depois ou farão uma grande bagunça. É bom se conectar com a explosão dos poderes dentro do peito e direcioná-la ao seu talento.

Estou envergonhada, sobretudo porque tudo o que Kakashi diz parece ser para mim. Eu sou péssima até treinando, talvez por culpa das minhas emoções, como bem disse. As flores na minha cabeça são a prova disso, embora Hinata tenha feito o favor de diminuí-las em seu teste.

Ela é formidável, e pensei que ninguém mais poderia ser tão bom quanto Hinata, até Sasuke me revelar sua magia, o modo como ele replica a magia de outras pessoas. Como faz da minha herança algo seu e faz melhor do que eu.

Eu queria poder saber mais, mas já faz uma semana que estou evitando. Durante três dias seguidos ele foi atrás de mim por diversas vezes. Eu tive que me esconder como uma covarde, então ele desistiu. E ainda assim, sinto seus olhos queimando os meus ombros. Sinto ele olhando para mim. Tal como sinto como se todos soubessem o que eu fiz.

Não duvido que seja possível. Eu paguei um papelão, me entreguei — como se não fosse ruim o suficiente ele já ter tido conhecimento—, saí correndo e me recusei a resolver a situação. As meninas estão com raiva do modo como eu fujo das coisas, embora não estejam me ignorando, mesmo que eu mereça.

—...a magia deve ser usada para alavancar sensações, transpassar o que há em sua mente e arrancar do outro a película que os impede de ver o mesmo que você — Kakashi continuou, tocando na minha ferida. — E não digo isso apenas para as ilusões, todos vocês têm o dom de transpassar isso. Alguns de modo físico, outros de modo mental. Os feitiços são nossos guias, tal como nossos ancestrais.

Meus ancestrais estariam envergonhados de saber o que fui capaz de fazer com a magia que nos guia. Usei dela para me aproveitar de um garoto, para ter seus olhos em mim... para que ele gostasse de mim. O quão cruel eu devo ser considerada agora? É como ferir a natureza, bem senti que a chuva lá fora era o choro delas de decepção, os animais já não falam comigo, nem mesmo a minha gatinha. As árvores sentem meus sentimentos e recuam.

É a culpa tomando conta de mim. Talvez por eu ter fugido, mas isso seria só um acréscimo de problemas empossados no meu interior, no modo como lido com as coisas e as pessoas, de forma a sempre me atrapalhar e não me ajudar. É por isso que ele não gosta de mim, a Deusa-mãe me ensinou a preservar-me e mover cultos a favor do amor próprio, sentimentos positivos e autopreservação.

E o que eu fiz com isso? Bem, eu enfeiticei um menino para ele gostar de mim.

E nem foi um feitiço feito por mim mesma, tive instruções superiores. Isso é ainda mais humilhante quando precisei recorrer a alguém para conseguir uma mísera partícula de sua atenção. Uma atenção falsa e superficial.

— Acredito que todos tenham compreendido nossa aula teórica e estejam prontos para a próxima. — Kakashi nos encarou, seu olhar demorado sobre mim. — Podem sair, menos Senhorita Haruno.

Claro, como não imaginei que isso fosse acontecer?

Virei o pescoço o suficiente para ver as meninas fazendo careta para mim, como se dissessem que estou encrencada. No entanto, antes que eu pudesse voltar a olhar para o quadro negro, Sasuke me fitou longamente, demorando-se a levantar.

— Sasuke? — Kakashi o chamou, e mesmo assim ele não desviou o olhar. — Deve ser realmente melhor encará-la do que me dar alguma atenção, não tiro sua razão, mas deixe-nos a sós.

É... pare de ficar me olhando como se aguardasse alguma atitude minha. Se me conhecesse não ficaria aí perdendo seu tempo.

Me ocorreu que seria mais esperto que eu desviasse o olhar de uma vez, para não me perder na intensidade obscura do seu, o modo como sua seriedade parece sensual se não estivéssemos em um contexto tão ruim. Queria crer que a razão de estar desobedecendo é puramente para apreciação mútua e compartilhada, mas ele está com raiva, então desviei primeiro. Senti meu coração na garganta e minhas mãos não paravam de suar enquanto flores vermelhas derramavam-se sobre minha cabeça.