Son🇰🇷
Vazio, incerteza, tristeza e decepção. Era tudo que eu sentia no apartamento antes de fechar a porta e sair a caminho do treino. Odeio admitir, mas nunca me senti tão burro quanto me sentia agora, larguei tantas coisas, tantas oportunidades para ter um final fracassado como esse.
Quando entrei no campo minha mente não entreva em foco. Minha visão estava embaçada por lágrimas que recusava deixar correr, escutava palavras que preferia esquecer e sentia coisas que não queria sentir. Por isso, acabei perdendo dois passes, errando um chute na cara do gol e então finalmente acabou o treino acabou, mas meu sofrimento parecia longe de acabar.
A água quente controla meus sentimentos. Preciso de um hotel. Não posso estar lá quando ele voltar, não se isso significar ter que viver tudo aquilo mais uma vez. No início não era assim, mas conforme os meses foram se passando, as discussões se intensificaram cada vez mais, e eu fui perdendo partes minhas todas as vezes que passava pela porta.
Quando saio do banho encontro apenas o Martinelli sentando no meio do banco do vestiário do Arsenal, o time pequeno da liga universitária europeia.
- Eai Son. -Disse o garoto com um sorriso gentil no rosto - O que tá acontecendo com você, irmão?
Martinelli era um cara legal. Ele era gentil e sempre dava um jeito de se dar bem com todo mundo. Ele não era um amigo próximo, estava mais pra um colega de time, mas eu precisava conversar com alguém. Qualquer um, só queria alguém para dividir minha dor ou até mesmo aliviar.
- Oi Gabriel, nada demais cara. Só umas coisas com meu namoro.
Consigo notar a surpresa passando pelo rosto dele, mas logo em seguida um semblante de compreensão.
- Eu não sabia que você namorava cara, mas que merda. Imagino que a situação seja feia considerando seu estado.
- Nós terminamos. Mas já era esperado. Só é... É complicado de absorver. No momento preciso achar um hotel pra passar à noite. Não quero voltar para aquele lugar.
Um silêncio quase mortal se instalou no vestiário por alguns minuto. Martinelli parecia pensativo e eu já tinha me arrependido de ter abrido a boca, fazia tanto que eu não tinha uma conversa descente com alguém. Eu devia ter ficado quieto e ter procurado um hotel sozinho.
- Mas... As coisas já estavam mal cara? Desculpa se eu estiver sendo entrometido. Não precisa falar se não quiser. - Disse o jovem finalmente quebrando o silêncio.
Pensei um pouco. Ele não precisava saber de todos os detalhes.
- Acontece que estamos juntos a pouco mais de um ano. Quer dizer, estávamos juntos a pouco mais de um ano e no início era... era ótimo, tinhamos uma sintonia muito boa. Mas com o tempo as crises de ciúme pioraram, as brigas também e eu acabei abrindo mão de algumas coisas para continuar, muitas coisas na verdade... Mas cheguei no meu limite. Mas o maior problema agora é que moramos juntos e eu preciso sair de lá o mais rápido possivel.
- Olha cara eu não posso dizer que sei como é, porque felizmente as garotas que namorei sempre foram de boas sabe.
Confirmei com a cabeça. Ele estava tentando ser legal sem nem saber em detalhes tudo que eu tinha passado. Fiquei aliviado em saber que mesmo depois de muito tempo eu podia conversar normalmente com alguém.
- Mas eu posso te ajudar com uma coisa. - Martinelli já tinha um sorriso enorme estampado no rosto.
- Com o que especificamente?
- Bom, eu posso te indicar um ótimo hotel pra passar a noite, vou te passar o contato deles. Além de barato lá e muito confortável e limpinho. - ele pegou o celular e começou a digitar, logo meu celular vibrou - Mas também te achar um lugar fixo pra morar.
- Isso seria incrível, Martinelli! Obrigado! Em relação ao lugar fixo eu preciso de um lugar barato. Você sabe que a faculdade não paga bem os jogadores e eu não tenho tanta grana assim.
- Isso não seria um problema, eu moro numa república de jogadores da liga e recentemente abriu vaga, mas é meio complicado achar gente que não seja babaca. Eu posso falar com os caras hoje e te dar um retorno amanhã.
- Eu ficaria tão grato por isso, preciso mesmo de algo urgente e acho que seria bom conhecer mais gente e fazer amigos.Richardson 🇧🇷
Olho no fundo dos olhos do Emerson que está na minha frente distribuindo cartas. Jogo truco com ele a muito tempo por isso sei quando ele está roubando. E nesse exato momento sei que ele tentaria roubar para não ter que limpar o nosso quarto e o quarto do Haaland e do Jude. O truco é uma tradição nossa, toda semana jogamos eu faço time com o Haaland e o Emerson com o Jude, a dupla perdedora limpa os dois quartos sozinhos.
Gosto de jogar com o Haaland. Ele aprendeu as manhas super rápido e consegue entender o mais discreto dos sinais. Se limpamos quarto 10 vezes esse ano foi muito.
- Fica esperto, Rich. Eu e o Jude não vamos ficar nessa maré de azar por muito tempo. - Emerson me provoca em português e eu ri
- É uma pena você ter escolhido o parceiro errado, meu chapa. Eu e o Land estamos com tudo! - eu respondo no mesmo tom em português e ele distribui as cartas. Assim que as pego me seguro para não dar um sorriso. Eu tinha 2 manilhas e pelo sinal que o Haaland me passou logo que olhou as cartas ele tinha saído com a terceira manilha. A sorte estava do nosso lado mais uma vez. - Truco.
- Mas já? - Emerson pergunta desacreditado.
- Aceita ou não?
- É facão, né?
- Eu. Disse. Truco. Porra!
Emerson me olhou com um olhar divertido
- Desce!
Joguei minha primeira manilha fechando eles, na segunda rodada eles empacharam.
- Cada um mostra a maior.
No momento em que a frase saiu da minha boca, ouvi o barulho de chaves sendo colocadas na mesinha ao lado da porta.
- Martinelli, parceiro. Chegou tarde hoje, hein.- Emerson logo falou e eu me viro - Por que você tá com essa cara?
- É cara, o que aconteceu? - Land logo acrescentou - O treino foi ruim?
Eu teve um pouco de dificuldade em entender por conta do sotaque norueguês do Land. Gabriel logo puxou uma cadeira na mesa ao lado do Jude.
- O treino foi ótimo. Mas, aconteceu uma coisa com um colega do time. Ele conversou comigo e eu fiquei com dó, ele é tão gente boa e tava tão triste.
Nesse ponto da conversa o jogo já tinha sido esquecido a alma de fofoqueiros falava mais alto.
- O que aconteceu com ele? - Dessa vez, Jude entrou na conversa.
Jude era o único britânico do grupo. Por isso, era o que falava mais rápido e o que menos entendo por conta da pronuncia forte, com o tempo de convívio com o grupo de brasileiros ele acabou pegando uns pequenos costumes, inclusive a curiosidade.
- E com quem aconteceu? - Perguntei.
- Então, sabe o Son? O craque coreano do time? Então, ele acabou terminando um relacionamento de um jeito bem complicado aparentemente. Agora ele precisa de um lugar pra ficar porque ele mora com a ex, eu falei que tinha uma vaga aqui e queria falar com vocês sobre o que acham dele vir pra cá?
Os meninos se olharam entre si. Eu conhecia a fama do coreano, nunca chegaramos a nos enfrentar antes, mas sabia que ele era bom de bola e simpático com os companheiros de time, apesar de ser reservado. Era a primeira vez que ele ouvia sobre uma conversa íntima entre ele e o Gabriel.
- Por mim ele seria muito bem-vindo, precisamos de mais dinheiro e deve ser uma merda tudo isso. - Land foi o primeiro a se manifestar.
- Cara, se ele não for chato e bagunceiro eu tô dentro. precisamos dividir as tarefas. - Jude falou logo depois, nada de novo já que ele e o Land tem um costume de concordar em tudo, é como se fossem um só.
- Por mim, tá tranquilo. Concordo com o Jude, de bagunceiro ja basta o Richardson. - Emerson falou rindo. Eu o ignorei, sei que sou bagunceiro.
- Se todo mundo concorda eu tô dentro, mas temos que ver com o resto do pessoal. - Disse por fim.
Gabriel deu um sorriso gentil, de todos nós ele era o mais quieto e o mais sensível. A república era composta em um todo por jogadores de futebol da liga universitária, o que em si já falava muito sobre a personalidade da casa. Um monte de homens na sua maioria bagunceiros e que adoravam festas, mas dentro dos grupinhos distribuídos a gente via os traços mais humanos de cada um.
- Valeu, caras. Amanhã vou falar com ele no treino. Indiquei um hotel para ele passar a noite.
- Você é um anjinho, Gabriel. - Emerson falou em um tom de brincadeira - E eu declaro agora que vamos limpar nossos próprios quartos para não assustar o nosso novo integrante que chega amanhã.
- Vou uma porra. Você sabe que eu e o Land íamos ganhar de novo por isso tá nessa.
- Eu acho uma boa a gente limpar por si mesmos. - olho para Haaland chocado.
- Eu também. Vamos arrumar logo para não ter bagunça amanhã. - e com o total de nenhuma pessoa chocada, Jude e Haaland vão para o quarto.
- Parece que você perdeu essa, Rich. Vou mandar mensagem para o Son. Boa sorte vocês na limpeza. - Gabriel vai na direção do seu quarto com o celular na mão. Olho para o Emerson.
- Bora tirar ímpar ou par?
- Só se for agora.Son🇰🇷
Logo que saí do treino voltei para o apartamento para recolher minhas coisas, não tinha tantas quanto se imagina. Cerca dois anos atrás quando eu me mudei da Coreia, eu morava de início nos alojamentos da universidade mesmo, gostava de ficar perto do campus e evitar atrasos tanto para as aulas quanto para os treinos. Quando eu conheci o Romero em uma das turmas que participava foi uma luz pra mim, é claro que eu tinha feito amizade com alguns colegas da equipe, mas conhecer alguém de fora era um alívio, poucos meses depois nós estávamos juntos e mais alguns meses depois o Romero me convidou pra morar com ele e eu fui sem pensar muito. O problema é que com pouco mais de um mês de convívio as brigas começaram e depois disso nunca mais cessaram.
Quando chego no hotel que o Martinelli recomendou vejo que é sim um lugar simples e bem em conta, mas nada bagunçado. - do jeitinho que ele tinha dito
Tomo um banho pra relaxar a tensão do meu corpo e finalmente consigo dar um olhada no meu celular, tem uma mensagem dele falando que os meninos concordaram em fazer um teste comigo na república, logo respondo que conversamos melhor no treino de amanhã.
Deito sobre os travesseiros e pela primeira vez no dia solto um sorriso seguido de um suspiro, um novo começo com novas oportunidades, tenho a sensação de que vai ser incrível e assustador.
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University League - The House [2son]
FanfictionViver em uma faculdade longe do seu país de origem é muito difícil .Conhecer a todos, fazer novos amigos e principalmente criar experiências boas e marcantes. Infelizmente, Son Heung-Min acaba se vendo sozinho após abrir mão de interações com seus...