2. Anatomia: Lilium.

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A timidez é romantizada.

É comum vermos frases como: "pessoas tímidas são fofas e encantadoras", mas isso até alguém conviver com uma e, em pouco tempo, se irritar pela falta de comunicação ou se oferecer para tentar torná-la mais distante de quem é.

Eu passei minha vida inteira ouvindo coisas desagradáveis em relação a isso, tendo que suportar ficar calado porque me posicionar nunca foi meu forte. Na minha mente, sempre reproduzi momentos em que eu falaria alguma coisa, em que eu seria finalmente quem daria a última palavra. Mas isso nunca aconteceu.

Vivo um inferno mental de nunca atingir minhas próprias expectativas, de querer ser diferente e não conseguir. Fugindo ao invés de lutar, vivendo na sombra de outras pessoas, sentindo um aperto no peito sempre que preciso socializar; o ar se esvaindo dos meus pulmões em lugares com muitas pessoas, alertando-me de que estou perto de sofrer um ataque de pânico.

Observo pelos olhos de outros jovens como minha vida poderia ter sido, sem medo de me aproximar e fazer amizades igual aos adolescentes da minha idade. Sem medo de viver com o arrependimento de cada passo dado. Conseguindo compartilhar meus gostos, desejos e momentos com quem eu sinto confiança.

E se tudo fosse diferente? E se eu não tivesse medo de ser feliz? E se eu falasse mais? E se eu fosse menos esquisito?

E se minha mãe ainda estivesse viva...?

E se eu for apenas um gasto de oxigênio?

Já cheguei a sentir que não deveria nem ter nascido, porque talvez fosse melhor se outro espermatozoide tivesse passado por mim na corrida da vida e dado outro filho ao meu pai. Ele é muito bom para ter que lidar com tantos problemas por minha culpa.

Por isso, quando noto que estão romantizando a timidez, eu sei que ou a pessoa nunca conviveu de verdade com alguém assim, ou nunca precisou passar nem por um dia pelo que nós passamos diariamente. Não é um traço admirável de personalidade, é um cárcere mental do qual somos sempre reféns. Prisioneiros de nossa própria cabeça, condenados a ver a vida passando diante dos nossos olhos e a nos questionar milhares de vezes o que poderíamos mudar, por que fomos os escolhidos para carregar esse fardo.

Não é bonitinho.

É agonizante, frustrante e desesperador.

Nesse momento, estou no meu quarto, com a cabeça deitada em cima do notebook e olhando os ponteiros do relógio girando e se aproximando do horário em que Kimhan chegará para fazer o trabalho.

A cada movimento do relógio, eu sinto meu coração bater mais rápido no peito. Tique-taque.

Fecho meus olhos e dou um soco leve em cima da mesa. Hoje de manhã, quando fui questionado se seria na minha casa ou na dele, pensei que seria melhor ficarmos em um ambiente onde eu já me sinto confortável do que na casa de alguém que eu nem conheço direito. Por isso, combinamos de vir para cá.

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⏰ Última atualização: Jan 14, 2023 ⏰

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Anatomia das flores • KimchayOnde histórias criam vida. Descubra agora