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JAQUELINE

Dias Atuais

— Tantos homens para você se envolver, e tinha que escolher logo o filho daquele crápula? - esbraveja Magda, com raiva.
Se já não tivesse cabelos brancos diria que esse era o momento que a deixaria desse jeito.
Durante toda minha vida fiz absolutamente tudo o que mamãe queria. Mas só pedi que ela me concedesse a chance de amar do meu jeito.
Não queria viver presa nas suas crenças ridículas de que casamento precisa ser um negócio. Só por que ela nunca deu certo com ninguém isso não quer dizer que se aplica a mim.
Com muito custo ela concordou, porém, nesse momento acredito que esteja se arrependendo de tal decisão.
— Não entendo esse ódio todo com o Roger. Ele sempre foi tão legal comigo. Me recebeu bem em sua casa mesmo sabendo de quem sou filha e você não pode fazer o mesmo esforço pelo meu futuro marido? - pergunto, começando a ficar irritada.
Ela bufa e me fuzila.
— Você não precisa entender nada, Jaqueline. Só tem que me obedecer. Aquele garoto e você não podem ficar juntos e eu espero que ainda tenha te sobrado sanidade o suficiente pra não insistir nesse… Relacionamento ridículo! - fala mais alto e isso me deixa ainda mais irritada.
— Discutir com a senhora é perda de tempo. Eu amo Murilo e não vou terminar com ele por causa de capricho seu. Se não quer me apoiar, tudo bem. Isso só prova que a senhora não me ama o suficiente nem pra engolir essa merda de orgulho. - dito isso, pego minha bolsa e saio da sua mansão.
Entro em meu carro e peço para que Alexandre me leve para a casa do meu noivo. Sabia que tentar conversar com ela depois do show que deu no jantar ao saber quem era pai do Murilo seria perda de tempo, mas lá no fundo eu ainda tinha fé na minha mãe.

[...]

Adoraria resolver todos os meus problemas jogando vídeo-game. É um vício que Murilo tem há anos e nunca entendi o que há de tão fascinante nisso.
No entanto, nunca o critiquei por isso, acredito que todos nós merecemos ter algo que nos tire da realidade de vez em quando. A vida já é o cruel o bastante para nos deixar estressados.
Por isso que quando abro a porta e escuto o barulho de jogo que já reconheço, tiro meus sapatos e penduro minha bolsa junto do meu blazer antes de seguir o caminho pela sala larga e extensa daquela casa.
Como esperado, vejo meu noivo ainda de calça social e a blusa com os botões abertos, concentrado na tela.
Ela conclui a partida e sai, deixando o joystick sobre a mesa e sorrindo quando me sento sobre suas pernas.
— Como foi com a Magda? Ela ainda me odeia?
— Ela não te odeia. Ela odeia o seu pai. E eu nem sei o motivo. - suspiro, tocando nos fios perfeitamente penteados dele - Ninguém odeia tanto outra pessoa sem nenhuma razão muito forte. As vezes acho que eles tiveram um caso que deu errado. - murmuro e meu noivo rir.
— Não ficaria surpreso. - resmunga - O que você quer fazer? - pergunta.
— Nosso casamento está de pé. Não vou mudar o curso das coisas por que dona Magda está de birra. Se ela não for, casaremos sem ela. Tá decidido. - afirmo e vejo a preocupação no rosto do meu noivo.
Ainda assim ele não ousa rebater.

— Farei o que você achar melhor, amor. - declara e eu sorrio.

Eu o beijo e deixo os problemas pra fora de casa. Não aguento mais lidar com as palhaçadas da pessoa que deveria me apoiar.

Sempre engoli meu orgulho por Magda e por muito tempo deixei de ser eu mesma para fazer o que ela queria, pois acreditava que a faria feliz.

Agora não vou mais. Ou ela torce por mim, ou que se dane pra lá.

— Quer pedir uma pizza hoje? - indaga e eu assinto.

— Antes acho que deveríamos tomar um banho. - sugiro e meu noivo concorda.

Apenas espero que ele desligue os aparelhos e me siga escada a cima.

[…]

Lilian me ajuda com o início dos preparativos para o casamento. Aproveito que Murilo está fora da cidade para resolver as partes mais burocráticas.
Magda tem me pertubado ao dobro, implorando para que eu cancele o casamento e solte uma nota de arrependimento para a imprensa.
Me recuso a ouvir o que tem a dizer por que nada de bom tem saído dela.
E isso está me irritando ao ponto de que decidi investigar o que aconteceu com ela e Roger para que esse ódio tenha sido alimentado por tanto tempo.
— Tem certeza que vai fazer isso? E se alguém ver? - Lilian questiona, apreensiva.
— Eu só preciso pegar aquela caixa. Ninguém vai ver. - afirmo - Preciso só que você fique aqui vigiando. - falo e minha amiga assente quando entro na sala da minha mãe.
Hoje ela está numa convenção no centro e deve demorar, mas decidi que seria rápida para não correr riscos. Ela pode voltar a qualquer momento.
O fato dos empregados dela me conhecer ajudou muito a entrar despercebida.
Paguei uma boa quantia para que não abram o bico sobre eu ter aparecido sabendo que ela não estaria aqui.
Entro no cômodo e vou direto para o único lugar que ela nunca me deixou chegar perto. Felizmente a porta está destrancada e eu vejo que ela andou revirando seu passado ao ver algumas caixas abertas.
Me agacho para ver o que tem ali e encontro algumas fotos antigas.
Várias com um cara que não demoro a reconhecer.
Roger Huff.
Há também algumas cartas empilhadas dentro de outra caixa. Algumas endereçadas a ela e outras pra ele.
Porra.
São cartas de amor.
Encontro mais fotos no fundo da caixa que mostra na expressão dos dois que eles eram apaixonados.
Apesar de ter sugerido isso ontem com Murilo, era brincadeira. Não esperava mesmo que os dois fossem amantes no passado.
Leio algumas das cartas, e percebo que começam cheias de amor e terminam com mágoa.
Seja o que for como esse romance deu errado, isso acaba explicando alguma coisas. Mas não explica como os dois enriqueceram no mesmo ramo anos depois.

Alguma peça não se encaixa.

Na Linha Do Tempo • Murilo HuffOnde histórias criam vida. Descubra agora