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JAQUELINE

Eu peguei tudo. Que se dane se ela sentirá falta disso e depois baterá na minha porta. Preciso entender melhor o que aconteceu.
Lilian me ajuda a carregar as coisas até o carro e saímos, e em vez de ir pra minha casa, onde sei que ela irá assim que der falta dessas caixas, vou para o apartamento de Murilo, que ele nunca usa.
— Sinto que vai dar merda você mexer nas coisas dela. - minha amiga comenta.
— A culpa não é minha se Magda se recusa a ser sincera. Ela não vai atrapalhar meu casamento e eu vou descobrir o motivo de tanto ódio. Por que seja lá qual seja o problema dela com Roger, Murilo e eu não temos nada a ver. - declaro, convicta e Lilian apenas assente.
Eu a agradeço assim que chegamos e aproveito minha folga para espalhar o conteúdo das caixas pelo porcelanato da sala de estar.
Há mais cartas e fotos. E alguns objetos como anéis, pulseiras e alguns colares. Todos parecem ter sido presentes de Roger.
Noto que as cartas possuem uma numeração e há pelo menos umas dez escrita por ele. Leio todas na ordem e começo a entender melhor o que aconteceu.
Magda e Roger não só eram apaixonados demais, como também acabaram terminando seu relacionamento da pior forma possível: acreditando que eram irmãos, graças a rivalidade de seus pais.
Essa merda de ódio entre as famílias Viana e Huff é mais antiga do que imaginei e, mesmo ficando assustada com a possibilidade disso ser real… Segui em frente.
Por que se Magda e Roger fossem irmãos, Murilo e eu seríamos primos de primeiro grau.
E, eu acredito que se fosse verifico, mamãe teria me dito isso ao invés de fazer picuinhas. Afinal, seria algo imoral.
E como suspeitava, mais a frente há um envelope enviado por Roger comprovando que eles não eram irmãos, que seus pais haviam criado aquela mentira para separa-los e assim continuar a tradição do ódio gratuito entre as famílias.

Conhecendo Magda, não fico surpresa que mesmo com as provas, ela tenha insistido em manter essa palhaçada toda. Roger, em todas as cartas depois disso demonstra querer reatar e minha mãe, apenas o humilha.

Consegui devolver as coisas antes de Magda voltar e decidir que iria colocar os pratos limpos a mesa no jantar que acabei de marcar com meu sogro.
Murilo e eu antecipamos nosso casamento para a próxima semana, o jantar será amanhã e Magda marcará presença, querendo ou não, e então vou expor o que penso sobre essa palhaçada e que nada disso irá me impedir de casar com o homem que eu amo.

[…]

Encaro os dois vestidos sobre a cama após sair do banho. Um é azul turquesa, com uma pequena fenda no lado direito e o outro é dourado, bem brilhante, mais discreto.
Escolho o azul por que eu sei que Magda ficará puta.

Ela sempre diz que devo priorizar minha imagem, e isso quer dizer andar como a virgem Maria.

Se tem uma coisa que não é Maria e Virgem.

[...]

Murilo e eu chegamos a mansão de Roger dez minutos antes do combinado.

Felizmente meu sogro me adora, o que me faz ter a certeza que desde sempre quem manteve a resistência dessa briga imbecil foi Magda.

Caso contrário, Roger faria questão de mostrar sua indignação com minha união com seu único filho e herdeiro.

Se eles ao menos soubessem que Murilo e eu não ligamos se vamos ou não ser donos dessas empresas. Nossos planos sempre foram tão simples.

Foi exatamente pela simplesmente que me apaixonei por ele...

Magda não demora a chegar, fazendo sua entrada com resmungos que apenas eu entendo e fuzilando tanto Murilo quanto Roger antes de se acomodar.

Meu noivo e eu estamos sentados juntos, observando a hostilidade da mulher que me gerou.

— Você não vai mesmo acabar com essa palhaçada, não é? - pergunta, olhando para mim como se eu estivesse cometendo um crime.

— Não. Ao contrário de você, não pretendo abrir mão do amor por causa do orgulho estúpido de algum antepassado que nem conheci. - disparo e ela arregala seus olhos, surpresa.

— Não sei do que tá falando, Jaqueline.

— Sabe sim. E eu já cansei da sua hostilidade. Murilo e eu nos amamos e vamos nos casar, você querendo ou não. Será que você não percebe que está brigando sozinha, mãe? Roger sequer se importa com isso tudo.

Na Linha Do Tempo • Murilo HuffOnde histórias criam vida. Descubra agora