Capítulo Único.

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   Eram 03:47 da manhã, fazia frio nas proximidades do colégio A.R.A., por onde houvesse frestas nas janelas e portas, aquela brisa suave invadia o local, reconfortante mas ainda assim, pouco gélida. Em um dos laboratórios do colégio, debruçado em meio a duas garrafas de álcool, os fios loiro escuros de Luiz se esparramavam na mesa de aço, bagunçados, desajeitado pelo consumo excessivo das bebidas, em meio a preocupações diversas.
   Estava extremamente frustado novamente por não ter uma única pista sobre suas pesquisas, queria a todo custo salvar a irmã, mas sempre parecia estar completamente distante disso.

- Eu nunca vou chegar em resultado nenhum nessa merda... - resmungou, ajeitando-se à mesa.

   Levantou, ainda meio tonto do álcool, e pegou uma das garrafas, virando-a garganta à baixo, como se fosse água. De repente, um som um tanto estridente de vidro quebrando o fez dar um pulo, quase cuspindo o que acabara de beber. Tomou nas mãos um bisturi que encontrou por ali e saiu caminhando pelo laboratório, cambaleando um pouco.

- Quem é que tá aí?! Aparece porra! - olhava para os lados, não via ninguém, até avistar alguns dos estilhaços de vidro refletindo no chão por conta da luz da lua que gentilmente adentrava à janela do laboratório.

   Seguiu cuidadosamente o caminho dos estilhaços, e então, la estava. Os cabelos azuis perfeitamente cuidados e penteados recaídos sobre o corpo pálido do que, muito facilmente se podia confundir com uma dama lindíssima, mas na verdade, era um jovem rapaz, trajado apenas de uma camisa tão branca como a própria pele. Sangue gotejava de suas mãos sobre a roupa, cortou-se acidentalmente ao botar as mãos no chão onde estavam os cacos maiores daquele vidro que quebrara após um tropeço, um pequeno descuido.

- Kami? - Luiz esfregou os olhos para enxergar melhor - que... que merda você tá fazendo aqui?

- Eu escorreguei... - ajeitou os longos cabelos azuis com as mãos ainda sujas e respingando.

   O loiro deu uma melhor olhada no garoto, notou suas mãos e, rapidamente largou a garrafa e o bisturi que havia pego para se defender, com cuidado, tirou o azulado de perto dos vidros, guiando-o para não ferir também os pés, pois estava descalço.

- Porra Kami, você devia tomar mais cuidado... - ajeitou alguns fios dos cabelos azuis, e deu mais uma olhada nas mãos do garoto.

   Luiz tinha um apreço pela situação de seu colega, não sabia explicar, era intrigante, queria tomar uma melhor conta dele. Talvez seu instinto médico o tornasse tão preocupado, mas curiosamente, não era esta a preocupação que tinha com seus outros amigos. Com o garoto de cabelos azuis, Kamiguiya, ou só Kami, como preferiam chamar, algo o chamava a atenção, algo além do transtorno bipolar, da esquizofrenia e do alto consumo de medicações incertas que o mesmo consumia para ficar "mais calmo".

- Vamos dar um jeito nas suas mãos, enquanto isso, você me explica porque você tá perambulando por aí uma hora dessas. - levava o garoto para se sentar, enquanto procurava por kits ou coisas medicinais pelo laboratório, felizmente, encontrou algumas coisas que serviriam para enfaixar as mãos de Kami.

   O azulado permanecia quieto, olhava Luiz higienizar, tratar e enfaixar suas mãos cuidadosamente, com muito zelo para que ele não sentisse a dor dos cortes. Na verdade, estava se divertindo observando o amigo cuidar de sus ferimentos.

- Okay, isso deve resolver. Agora... me explica, o que merda você tá fazendo à essa hora da madrugada sozinho? - coçou a cabeça e em seguida cruzou os braços, olhando para ele.

   Kami ergueu os olhos azuis refletidos da luz da lua para o amigo, alguns fios bagunçados de seu cabelo recaíam sobre seu rosto. Não esboçava nada. Apenas uma feição mórbida e cansada.

Medication (Kami x Luiz)Onde histórias criam vida. Descubra agora