Park

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A necessidade leva as pessoas ao engano e a fome os lobos a sair do arvoredo. — François Villon

A lenda do morro dos ventos uivantes nunca fez tanto sentido como naquele segundo. Em meio a densa floresta coberta de musgos, o vento parecia brincar com os sentidos do ômega como se fosse uma orquestra bem ensaiada. Baekhyun se sentia tonto, sua visão turva dificultava a assimilação do caminho que percorria, cada vez mais floresta adentro. Seu corpo, fraco e febril, estava com a pele completamente arrepiada, mesmo que não fosse possível uma justificativa concreta, se era pelo frio da penumbra da vasta floresta, ou pelos espasmos que o corpo sofria em constância como se alguém estivesse ao seu encalço, deixavam-no em uma situação de nítida vulnerabilidade.

As árvores pareciam se comunicar como em uma cena de exorcismo, deixando tudo mais confuso. Tanto é que Baekhyun, de minuto a minuto, sofria com colapsos mentais que o deixavam amedrontado; às vezes sentia que lobos corriam por seu lado, rosnando de maneira intensa e agressiva, e o som estrondoso de suas patas se chocando contra o chão de terra dava impressão de que um terremoto em breve aconteceria. Contudo, mesmo com todos aqueles barulhos e a iminente fadiga, ele não ousava parar de andar.

O ômega tinha resquícios de sangue seco em seu braço, ainda que a ferida estivesse aberta e inflamada. Não saberia dizer onde machucou-se e em qual momento, porque, de fato, não faria diferença. Baekhyun precisava de outro tipo de ajuda imediatamente, e só faltava implorar aos deuses para que eles provessem ao menos um mínimo consolo.

Ao longe era possível ouvir vozes masculinas e roucas; aguçando seus ouvidos, Baekhyun pôde perceber que as conversas vinham do porto, que estava há poucos quilômetros de distância da região onde se encontrava. Estranhou aquela movimentação na área, pois não estavam esperando visitas e os sentinelas da alcateia estavam avisados para que não permitissem nenhuma invasão inimiga, principalmente naquela noite que era de extrema importância a família dos líderes das terras de Ficrofall.

No entanto, apesar de tantos dialetos, Baekhyun não conseguia distinguir nenhum perigo ou ódio nos tons de vozes. Muito pelo contrário, expressavam surpresa e felicidade, principalmente pela celebração que ocorria no centro da alcateia. Pensou se deveria ir até lá checar o que acontecia e receber algum esclarecimento, porém era um ômega, logo não deveria se intrometer em assuntos como aquele, que diziam apenas ao esquadrão de sentinelas, o conselho da alcateia e aos líderes. Sem contar que, diante de seu total estado, nada valeria a pena; só o colocaria em mais risco. Poderia ser machucado gravemente, além de violentado se as aparências daqueles timbres o enganasse como a própria consciência aparentava querer fazer.

A lua, naquele céu escuro e com poucas estrelas, por sua vez, era grande e brilhante. Seus raios de luz pareciam querer lhe ajudar minimamente por frestas criadas pelas folhas das árvores, como se o astro, vendo seu estado, tivesse se compadecido com a sensação de corpo pesado que o ômega sentia naquele momento. A dor de cabeça intensificava mais conforme o tempo passava, as pernas cederam em uma altura da rota e, após buscar apoio no tranco de uma gigantesca árvore, elas tremularam. Olhando para os próprios pés, percebeu que eles também estavam feridos, assim como inchados. Baekhyun não aguentaria por mais muito tempo, isso era óbvio; e não precisou de mais tempo até que sua mão involuntariamente fosse em direção a seu orifício, que pulsava enquanto a lubrificação natural fazia questão de mostrar o quão deplorável estava seu estado.

Pelos seus cálculos, tudo estava errado ali. Seu primeiro cio não deveria estar acontecendo naquele momento. Por questões lógicas e de honra, Baekhyun deveria ter o primeiro cio apenas na noite de lua nova e, naquela madrugada, a lua estava cheia. Esse cio precoce poderia custar caro demais ao ômega. Estava longe de seu marido, incapaz de chamá-lo, no meio de uma escuridão e com escoriações pelo corpo que faziam a sua pele latejar, deixando-o fraco. Todas as circunstâncias que o cercavam lhe deixavam atônito.

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⏰ Última atualização: Jan 18, 2023 ⏰

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