Os tambores soaram pela floresta como se fossem o próprio coração de Eywa.
Flautas suaves, chocalhos e berrantes se juntaram logo depois em uma cacofonia, e por último os cantos do povo Omaticaya. A música que cantarolavam, quase tão antiga quanto a própria mãe criadora, contava a história de como a floresta foi feita a partir do primeiro sopro da deusa. Falava sobre as primeiras montanhas traçadas por seus dedos gentis, e dos primeiros seres vivos que ela pôs os seus olhos.
Era dessa forma que eram recebidos os visitantes Metkayina: não havia maior demonstração de respeito do que aquela música que ecoava com a sua chegada, acompanhada por uma dança igualmente devota.
Ainda assim, Aonung queria ir embora.
Desde que pisaram na terra firme e estranha do território Omaticaya, e o oceano sumiu do horizonte entre os manguezais, tudo o que Aonung quer é sair correndo enquanto ainda tem a vaga memória do caminho que percorreu, em um medo tácito e quase infantil de que jamais consiga encontrar o mar novamente.
É meio estúpido e ele sabe disso.
Tanto Tsireya quanto Aonung estavam na garupa de Pa'lis conduzidos por dois guerreiros Omaticaya, que desaceleraram seus animais para que os visitantes absorvessem a cerimônia de boas vindas. Na mesma medida que o rapaz quer ir embora, ele quer que todas aquelas vozes se cessem e ele durma em uma moita qualquer, ou seja lá onde esses Na’vis dormem. Se fosse ele quem estivesse conduzindo seu pa'li pela ligação tsaheylu, ele faria o animal correr para acabar com aquilo o mais rápido possível.
Era estranho não poder fazer eles mesmos a ligação com nenhum animal agora, quando sempre foi tão natural se ligar aos seus ilus. Talvez esse seja o problema, toda aquela fauna e flora desconhecida; Aonung simplesmente se sentia desconectado.
Tentando não transformar essa frustração em palavras rudes e uma atitude mesquinha, ele se distrai repassando em sua mente as regras idiotas que seus pais deram a ele.
Número um: Não provoque a ira de nenhum membro da família Sully.
O fato de isso ser uma regra deixa Aonung levemente envergonhado. Claro, ele é um pouco explosivo e tem um problema sério em manter seus comentários ácidos para si, mas veja bem: ele sabe o mínimo sobre cortesia, não é um skxawng completo.
Número dois: fique em bons termos com Neteyam.
É uma exigência óbvia. Essa regra é quase mais importante do que agradar Toruk Makto: Neteyam é também o próximo Olo'eyktan, com quem Aonung terá de negociar por anos e, querendo ou não, o noivo de sua irmã. O rapaz pode ser tanto um grande aliado quanto o seu maior empecilho.
Número três: jamais fale sobre o Kon'kani do clã.
Ele estaria mentindo se dissesse que não tinha interesse em descobrir sobre Kon'kani e sua história, principalmente quanto aos motivos de seu exílio. Mas Aonung não era tolo de tratar o assunto como uma mera curiosidade; relembrar cicatrizes que não eram suas estava fora de questão.
A regra número quatro é um mistério. Ronal o disse que seria Jake Sully quem o diria pessoalmente. Remoer sobre isso, e talvez o galope forte do Pa'li abaixo de si, apenas o deixou mais enjoado.
— É lindo, não é? — Tsireya comenta espantada.
Aonung segue o olhar de sua irmã: à sua frente, fumaça de fogueiras tocavam o céu estrelado, as luzes pincelando a folhagem bioluminescente. A Hometree era tão colossal e alta que seus galhos sumiam para além da vegetação densa. O na’vi sentiu algo como medo e fascínio preenchendo seus sentidos — um pouco mais inclinado ao primeiro sentimento.
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Sob os olhos de Eywa (Aonung X Neteyam)
FanfictionNeteyam está prometido a Tsahík Tsireya antes mesmo de ter nascido. Segunda filha dos líderes de Metkayina, ela é gentil e doce e tudo o que qualquer Na'vi pode desejar para uma companheira. Então Neteyam sabe que algo está errado - muito errado...