Aniversário do Felipe (Entre Laços e Amassos, Felipe x Leitora)

Aniversário

Hoje é o aniversário do Felipe, o primo emo do Mateus, meu "namorado". Desde que eu cheguei na casa, a gente não se deu muito bem, principalmente depois daquele pisão que eu dei no pé dele.
Desde então, ele tem me chamado de "surtada do interior" e semelhantes.

"Talvez eu deveria comprar um presente para ele, pra me redimir... Não quero morar aqui tendo que conviver com alguém que me odeia e pode envenenar minha comida a qualquer instante." – Pensei enquanto suspirei levemente

—Qui foi, princesa? – Mateus olhou em minha direção, com um semblante preocupado. Estávamos só eu e ele no quarto, esperando somente o sol nascer para dar início aos nossos afazeres.

—Você não precisa me chamar assim quando estamos sozinhos, sabe? – Respondi

—É qui no fundo eu sei qui ocê gosta qui eu te chame assim – Ele disse sorrindo largamente —Mas o qui foi? Ocê tá tão pensativa.

—É que... Bom, como você já deve saber quando eu cheguei na casa eu e o Felipe, bom, não tivemos a melhor das introduções possíveis. Hoje é o aniversário dele, né? Tava pensando se devia comprar algo pra me redimir com ele. – Disse e Mateus pareceu surpreso

—Ah, não princesa. O Felipe não gosta que qualquer um tente fazer alguma coisa pro aniversário dele.

—Sério? Mas por quê?

—Eu não sei muito bem não, mas no ano passado aínda, quando ele fez 17, a gente tentou comemorar, a Alice fez bolo e tudo, mas ele num quis e se trancou no quarto o dia inteirinho.

—Ah... Entendi... – Disse um pouco triste. Parede que não é hoje que vou conseguir começar uma amizade com o primo emo...

—Num fica triste princesa, eu tô aqui pra te animar sempre que ocê precisar! – Ele me deu um beijo na testa —O sol já raiou intão preciso ir trabaiá, mas qualquer coisa ocê me chama. – Ele disse e eu acenei com a cabeça, ainda pensando sobre o Felipe.

Quando o sol ficou um pouco mais forte, peguei um livro e caminhei pela fazenda, até achar um ponto agradável com um laguinho perto. Me sentei na grama e numa tentativa de pensar em outra coisa, comecei a ler o livro, mas não conseguia pôr sentido nas palavras.

Não muito depois, ouvi um som de água vindo do lago, o que me fez soltar um barulho em surpresa e rapidamente dirigir o olhar para a direção do som.

Lá estava Felipe, só com seu traje de banho saindo de dentro da água, com a água escorrendo pelo cabelo artificialmente negro dele e pelo seu peito um pouco definido. Devido ao barulho que fiz antes, Felipe olhou diretamente para mim com seus olhos azuis e eu senti um rubor se espalhar pelo meu rosto.

—F-Felipe! Eu... E-eu não sabia que você tava aqui, desculpa atrapalhar, e-eu acho melhor eu...

—O que tu tá fazendo aqui? – Ele me interrompeu

—Desculpa!! Eu tava pensando em te dar um presente de aniversário, mas o Mateus disse que não era uma boa ideia então... – Estava falando rápido, então parei pra respirar e segui falando mas num ritmo normalizado —Vim só ler um livro pra me distrair – Escondi o rosto vermelho atrás do livro, mostrando a capa do mesmo.

—Tu tava pensando no quê!?

—Desculpa... Não sabia que você não comemorava o aniversário. – Disse lentamente revelando meu rosto —Só queria me redimir pelo jeito que a gente se conheceu e, talvez... – Respirei fundo —Talvez finalmente conseguisse melhorar nosso relacionamento... – Disse

"Que vergonha!!!! Assim parece que eu sou namorada dele, não do Mateus!!! Melhorar nosso relacionamento??!" – Pensei escondendo novamente meu rosto atrás do livro.

O ouvi suspirar e ele se sentou ao meu lado. Ficamos em silêncio por alguns minuto até ele perguntar:
—Por que tá escondendo o rosto? – Ele disse e por ele estar tão perto a voz dele causou um arrepio no meu corpo inteiro.

—A-ah... Eu só tô envergonhada porque você tá aqui... Seminu. – Disse e ele ficou em silêncio.

—... Tu sabe por que eu não gosto de comemorar meu aniversário, surtada?

"Até agora ele vai me chamar assim, huh?" – Pensei e neguei com a cabeça, mesmo sabendo que talvez ele não conseguisse ver. Logo, senti a mão dele agarrar meu pulso e tirar o livro da frente do meu rosto, me fazendo olhar nos olhos dele.

—Eu tenho medo. Tenho medo de todas as mudanças que podem acontecer. – Ele disse e tomou o livro de mim, colocando-o na grama com a capa pra cima.

Nenhum de nós dissemos nada por alguns momentos, ficamos só observando o movimento da água no lago.

—Mas Felipe... – Comecei —Nem sempre essas mudanças são ruins e complicadas. Não vou dizer que sempre, mas às vezes essas mudanças vêm pro melhor... Humanos mudam o tempo todo, é uma coisa normal pra gente. Essas mudanças são complicadas e às vezes estressantes, mas no final, podem nos levar pra algo bom que pode nos fazer felizes de verdade – Disse e ele soltou uma risada isolada.

—É, talvez. Talvez eu que seja muito medroso pra enfrentar a realidade. – Ele disse cabisbaixo

—Mas isso faz de você o mais corajoso! – Coloquei minhas mãos nas laterais de seu rosto e o fiz olhar pra mim —Mesmo com medo, você sempre tá aqui, enfrentando a realidade como ela é. Fazendo suas streams, cozinhando, ajudando o pessoal da fazenda, ajudando a Alice, ajudando o Lucas e me ajudando. Com tudo isso sendo tão difícil, você ainda tem coragem pra fazer isso todo dia. Isso é uma coisa que eu admiro em você. Obrigada por tudo que você faz pela gente, Lipe. – Disse sorrindo e ele riu

—Desde quando te deixei me dar apelidos, surtada? – Ele disse e rimos —... Obrigado... – Ele disse de repente ficando vermelho e desviando o olhar. —Já pode me soltar agora... – Ele disse baixinho, se referindo a eu ainda estar com as mãos na lateral do rosto dele. Senti meu rosto esquentar e olhei fixamente pra ele, que já estava olhando pra mim, por uns segundos antes de soltá-lo.

—Desculpa... – Disse ainda com o rosto um pouco vermelho e desviando o olhar pro outro lado.

Ficamos mais alguns minutos em silêncio até que o Felipe disse que ia entrar para se vestir e eu fiquei sozinha perto do lago, com um sorriso no rosto por finalmente sentir que consegui um processo em fazer amizade com o Felipe.

...

O restante do dia foi normal, ajudei o pessoal da fazenda com alguns afazeres, inclusive o Felipe e Alice, que como de costume fizeram o almoço e o jantar.

Depois de um tempo passar e a noite começar a ficar ainda mais escura, quase todos da casa já haviam se deitado para dormir, ou estavam se preparando para. Nisso, vi o momento perfeito para usar a cozinha e, bom, não deixar o aniversário do Felipe passar completamente em branco.

Fui cautelosamente até a cozinha, mas logo ouvi o interruptor atrás de mim acender e me virei para ver quem era.

—O que veio fazer na minha cozinha essa hora, gatuna? – Ele perguntou com um tom de brincadeira, mas que dava pra entender que ele realmente queria saber

—Eu vim... Eu... Vim lavar a louça? – Disse mas pareceu mais uma pergunta do que uma afirmação.

—A gente já lavou, logo depois da janta. Sério, o que tu veio fazer aqui?

—Tudo bem, eu... Me deu vontade de comer bolo, então vim assar alguns cupcakes, foi só isso.

—Essa hora? Não me diga que é desejo de grávid...

—Felipe!! Não! – Disse com o rosto levemente avermelhado.

—Que bom. – Ele disse emburrado —Não preciso exatamente de outro Matheus circulando pela casa. – Ele disse e eu ri

—Só me deu vontade de comer uns bolinhos mesmo... Então se você não se incomoda eu vou assar alguns!

—Na verdade me incomodo sim, não consigo imaginar alguém que pode causar uma catástrofe na minha cozinha a qualquer segundo sozinho aqui. – Ele disse se aproximando de mim e parando ao meu lado

—... É seu jeito de dizer que vai me ajudar? – Eu disse e vi um rubor aparecer nas bochechas dele

—Eu..! Não. Talvez... – Ele respondeu baixinho.

—Obrigada. – Sorri. —Pode me ajudar a achar as tigelas pra misturar?... E o fuê?... E os ingredientes...? – Disse meio sem graça e ele riu, pegando algumas coisas e me dando instruções para encontrar as outras.

...

Juntamos os ingredientes juntos, misturamos a massa juntos, colocamos nas forminhas juntos e experimentamos juntos. Graças ao Felipe, a maioria dos bolinhos ficaram super fofinhos e gostosos.

—Nossa! Ficaram tão bons! Você sabe de confeitaria também, e eu achando que era só a Alice... – Disse dando outra mordida no bolinho —Super gostoso!

—Ainda tem bastante coisa sobre mim que tu ainda não sabe, surtada. – Ele disse num tom de voz que, mesmo com aquele apelido, fez eu corar e continuar comendo meu bolinho em silêncio.

Não muito depois que a gente comeu os bolinhos, Felipe disse que iria escovar os dentes e dormir, eu disse que iria apenas tomar um copo de água e que logo já iria dormir também, mas na verdade, eu precisava fazer uma coisinha pro aniversário dele, só pra não passar completamente em branco...

...

Mais ou menos quatro horas da madrugada eu acordei. Ainda me sentia cansado, mas não conseguiria voltar a dormir.

"Isso que dá, ajudar a surtada a assar cupcake até tarde..." – Pensei e fui até o banheiro escovar os dentes. "Por que será que ela se esforça tanto pra tentar me fazer não odiar ela...?"

Não muito depois, terminei de escovar meus dentes e fui até a cozinha, com objetivo de encontrar água ou alguma fruta pra comer. Foi quando vi um cupcake decorado embalado na geladeira, junto com um bilhete.

"Eu sei que você não gosta de comemorar seu aniversário, mas eu realmente não consegui ficar sem fazer nada. Obrigada por sua ajuda todos os dias e obrigada por me ajudar a fazer os cupcakes! Esse foi o único que eu decorei pra te dar de presente, espero que você goste. Fiz questão de escolher um dos que eu fiz, até porque não faria sentido te dar de presente um cupcake que você mesmo fez... Enfim, espero que goste!

Surtada do interior"

Felipe riu quando terminou de ler. "No fim, parece que ela gostou do apelido, hein?" – Ele pensou, desembalando o cupcake e dando uma primeira mordida no mesmo, se surpreendendo com o sabor que estava melhor do que ele esperava. – "... Que descuidada, deixando bilhete e presente pra outro cara no lugar do namorado dela..."

...