Era o pico do Verão, sobre a pele negra escoria o suor, respiração ofegante e o nervosismo manifestavam à flor da pele, gritos de todos os cantos, ritmos musicais forasteiros viciavam a juventude. Quem dera regressar quinhentos anos, para ao menos resgatar a cultura do homem de pele escura, talvez seja tarde de mais, ou sobre os seus corpos reencarnassem os espíritos dos nossos ancestrais que lhes vão liberdade das correntes presas em nossas mentes, os que nos vão salvar do salvador que os nos falaram sobre ele há mais de dois mil anos, ai de ti, se não acreditar nele...
Oiço e falo outras línguas, quase que me esqueço da minha, vejo coisas dos outros mundos no nosso meio, abandonei as minhas, meus ritmos perderam a graça, chamaram-me ignorante e retardado por ainda se apegar aos que deram vida, aí de mim, se não me assimilar e modernizar-me...
Vias públicas repletas de pessoas de todas as idades, bebendo da iniquidade para saciar a sua cede momentânea, míseros salários mínimos que essa gentalha ganha com muito sangue e suor, maldita mão que só vai à consciência quando estamos famintos. Uma juventude destinada ao insucesso se não fechar os dois olhos e enxergar com terceiro, a consciência.
Casas no turnas cheias, eis os prazeres da ingenuidade, inverteram a hora do descanso, trocaram o dia pela noite. Usavam a escuridão da noite para expor aos olhos a sua verdadeira identidade, mostravam comportamentos que em nenhuma circunstância revelariam debaixo da luz um verdadeiro desastre.Lá estava eu, sem noção de absolutamente nada, tomado pela escuridez e meus sentidos pela lucidez, sequer conhecia a
outra face da moeda, onde as pessoas são o que não são.Fora do meu habitat natural, longe da proteção das banhas das saias da minha progenitora que me esconderam da
realidade do mundo por longos anos. Finalmente, minha primeira festa noturna.No princípio estava meio desnorteado nada daquilo parecia real, não sabia como me situar, será que estou em marte? Pensei! Lugar por mim desconhecido. "Já tinha assistido milhares de filmes e séries com cenário análogo, não seria tão difícil me enturmar, pensei – Conselho genial do meu eu.
Dei alguns passos, respirei fundo e passei pela entrada principal, lentamente lancei o meu olhar, tentando fazer uma leitura geral do que me esperava, a reacção veio logo de seguida. Olhares estranhos da por parte de alguns e alguns acolhedores por dos outros, o que me deixou ainda mais sem
jeito, "esqueça tudo que eu disse, você não consegue, cai fora"–conselho Xeque-mate do meu eu, fiquei dois segundos sem
reacção...
Uma cadeira vazia, e confortável do meu lado esquerdo foi a escapatória que precisava naquele instante. Fobia a
multidões? Será que isso existe?Normalmente eu passava por situações embaraçosas quando tivesse que falar em público ou encarar olhares de mais de dez
pessoas. Antes fosse uma fase, é como todo mundo fala "adolescência é só uma fase", tudo passa, talvez não era o caso, daí a timidez decidiu erguer uma moradia no meu ser.Meus olhos maravilhavam-se com as suas vestes, incomum para os ambientes que estava habituado a frequentar, totalmente inadequadas aos meus olhos, "cubram-se dessa nudez" diria minha mãe, se visse aquelas mulheres com o tronco nu e os seus seios à mostra.
De repente uma voz feminina arrepiante, suavemente penetra nos meus ouvidos...
–Macha!
–Macha? – aquela dificuldade na pronúncia suou familiar.
De seguida, mãos delicadas deslizavam sobre as minhas costas, aquela voz linda voz novamente sussurrava o meu nome. Ali sentado, olhei para trás, era a Florinda, uma velha amiga de infância.
–Macha, que saudades.
–Macha! Despertava uma enorme raiva em mim quando pronunciassem erradamente o meu nome.
– És tu?– Matxa, por favor, não vejo nenhuma dificuldade em pronunciar o meu nome.
– Ohh sim! Eu sempre tive dificuldade em pronunciar, é tão complicado…Ela estava tão alegre que não perdeu tempo, jogou-se logo no meu colo dando-me um caloroso abraço e marcando meu rosto com seus lábios pintados à vermelho.
Confesso que que quanto mais ficava sobre o meu colo, deixava-me meio constrangido, eu tinha visto ela faz quatro anos e meio. Ela estava incrível, "uma mulher no ponto", diria o meu pai. Estava com o corpo de chamar a atenção de qualquer um, curvas perfeitas, provavelmente uns sessenta quilos, seios enormes e lábios carnudos.–"controle-se" – conselho sábio da minha consciência, lentamente respirei fundo e disfarcei.
– Não esperava ver-te por aqui. – ela disse
– Eu sei, não sou muito de sair de casa, acho que alguns dos meus hábitos nunca irão mudar.
– Vamos ser sinceros, você nunca sai.
– Saídas durante a tarde não contam? – riu-se
– Não. Você precisa aproveitar um pouco da vida. Está
acompanhado?
– Estava à espera de alguns amigos, mas me parecem
atrasados. –aquela mentira me fez parecer normal…– Levanta-te, Venha comigo, deixe-me apresentar-te alguns amigos.
– Mas... – Mas nada, deixe de contar desculpas, você não vai transformar uma festa numa cerimónia fúnebre.
Apressadamente tirei o meu traseiro da cadeira, tentar encher a cara e me misturar com os demais desconhecidos, e alguns
dos amigos da Florinda que la estavam.
– Oi pessoal! Deixe-me apresentar-vos o Macha, um velho amigo. _disse Florinda.
– Na verdade é Matxa, ela sempre teve problema em pronunciar o meu nome...
– É um prazer conhece-lo Matxa, eu não acho que seja tão difícil pronunciar, um nome interessante, à propósito.
_disse aquela linda jovem sentada do meu lado.
– Muito obrigado.
– Sinta-se à vontade, eu sou a Olívia, ele é o Kenneth, o jovem a tua direita é o Malcolm e o mais novo do grupo é o meu irmão o Pipas, somo todos uma família. Não que seja a melhor família do mundo, mas temos os nossos melhores dias.
– Será que hoje é o um dos melhores dias da família? –com um sorriso irónico questiono.
– Claro! A neve caiu. _respondeu Kenneth e os outros caíram em gargalhadas.
"Com certeza você não entendeu nada do que ele tentou dizer com a neve" – minha consciência de volta atormentava-me.
Precisava descontrair, aquele era o momento oportuno, então esforcei um sorriso e me deixei levar. As calorosas recepções pela parte de todos eles, me fizeram sentir-me mais à vontade.
A música estava bem alta, as pessoas estavam completamente agitadas e felizes, enquanto isso o dj roubava a atenção de
todos, ainda assim eu tentava controlar tudo a minha volta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mundo Dos Outros
AventureO mundo criado pela nossa mente é um lugar intrínseco e indelével e maravilhoso, infelizmente não o acossamos sempre que nos apetece, o que nos faz vagar pela realidade da vida, navegar por lugares não satisfatórios para nosso ser, viver num unive...