40. Asas de borboleta

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#CodinomeFlamingo

Jimin ainda não havia dormido quando o sol entrou fraco entre as frestas da porta da frente. Mais da metade da pizza restava sobre a mesa e ele despejava a cerveja quente na pia. Colocou o seu casaco e calçou as botas, parando a mão na maçaneta antes de abrir a porta, como se precisasse de um pouco de coragem.

Lá fora, o ar era seco e frio. Suspirou, vendo a fumaça branca sair da boca e o seu hálito cheirava a cerveja. Foi só depois de um soluço rompendo o silêncio da manhã que percebeu que estava bêbado. Queria deitar em sua cama, mas observava o quintal. O suporte de vaso de plantas ainda estava quebrado e as pegadas não sumiram com o passar da noite. Não havia uma alma viva na rua, mas Jimin se sentia extremamente exposto, como se um alvo estivesse apontado para a sua testa e não importasse o quanto se movesse, a sua cabeça nunca saía da mira.

No entanto, não sabia o que de fato poderia ter sido: bandidos que vagavam aleatoriamente pelo bairro, ou alguém da gangue de Jeongguk tentando aterrorizá-lo. Se fora a segunda opção, eles conseguiram, mesmo que não entendesse o porquê, pois Jeongguk não parecia disposto a entregar qualquer informação. Se algo havia mudado, ele ainda não sabia. E se fosse realmente isso, seus pais não poderiam saber.

Voltou para dentro apenas para pegar uma vassoura e varrer o deque dos fundos da casa. A lama nos degraus já estava seca e ele precisou passar um pano molhado para retirar as marcas da madeira. Pisoteou as pegadas na grama, arrastando o solado da bota para fazer o tratorado desaparecer e quanto ao suporte para vasos quebrado, deixaria que os pais criassem teorias, estava cansado de inventar histórias.

Como dormiu aquele dia, ele também não sabia. As horas que passou acordado podiam ter ajudado, mas não o livrou dos pesadelos de mãos ásperas pegando em seus pulsos e somente em seus pulsos. Quando acordou, repassou tudo o que vivera no mundo dos sonhos e só conseguia pensar no beta cravado no pulso de Jeongguk, mostrando que o seu subconsciente mostrava-no que fazia parte daquilo também.

Ainda não havia conseguido se levantar, nem sabia se os pais apareceram por ali tentando acordá-lo, ou se algo havia acontecido com eles. Era como se não quisesse saber, como se naquele mundo fechado dentro da sua mente as coisas fossem melhores. Ficou por minutos olhando para Nanquim dormindo em sua cama, sem que os toques do celular fossem ouvidos. Quando deu por si, umedeceu os lábios com a língua, atendendo a ligação sem se atentar a quem era.

— Alô.

— Ei, Jimin. — Reconheceu a voz de Taehyung, esperando que ele dissesse o motivo da ligação, sua mente não conseguia formular uma pergunta sequer. — Estava dormindo? — perguntou, depois de ouvir o resmungo rouco e preguiçoso dele.

— Sim.

— Você virá à casa do Namjoon para se encontrar com o advogado do Jeongguk?

— Que dia é hoje? — perguntou, afastando o celular do ouvido para checar que horas eram. 14h35min.

— Dia 02 de Janeiro de 2020. Para muitos, o ano já começou. — Riu, fazendo Jimin sentir um peso no peito.

— Eu vou.

— Então venha logo, daqui a pouco ele estará aqui.

Colocou o celular sobre a cama, nem se preocupando se a ligação fora encerrada. Vestiu qualquer roupa que viu pela frente e saiu de casa, sentindo o peso do aparelho em um bolso da calça e no outro, as chaves. O carro não estava na garagem, então precisou ir até o ponto de ônibus, caminhando pelas ruas frias.

Jimin perdia-se em pensamentos olhando pela janela, as lojas que conhecia passavam despercebidas sobre os seus olhos, despertava de si mesmo quando o ônibus parava e alguém descia, relembrando-o de que não poderia ficar ali até o ponto final, precisava seguir o seu destino também.

Asian Scars × jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora