I am all feelings

I feel

Eu ainda sinto absolutamente todos os toques indevidos, como se já não fizessem anos, como se tivesse acontecido ontem. Mas não foi ontem. É como se as mãos que me tocaram de forma indecente tivessem deixado marcas que vivem até hoje.
Outro dia eu estava sentada no sofá de casa, família reunida, música boa que faz lembrar os velhos tempos, conversas paralelas e todas essas coisas de domingo, quando meu primo mais novo, uma criança, encostou seu pequeno corpo em mim em um abraço por trás, eu simplesmente congelei, meus olhos marejavam, minhas mãos suavam, meu coração palpitava. Ele me soltou logo em seguida, mas as consequências daquele contato me tiraram uma noite de sono. Quando ele me soltou eu imediatamente corri para o meu quarto, e lá eu chorei por horas a fio, um choro ruim, pesado, cheio de angústia, um choro que doía da ponta do meu pé até o meu último fio de cabelo. Por diversas vezes eu procurei ar e não achei. Pensei que morreria ali mesmo me perguntando o porquê de tanta dor. Eu jamais havia notado o quanto esse tipo de coisa me afetava. Mas então passei a lembrar de todo contato que eu evitava fazer com pessoas no geral, lembrei que não abraçava meu irmão, lembrei que não gostava de beijar ninguém em forma de cumprimento, ou de qualquer outra forma. A verdade era que eu ignorava essas coisas.
Eu lembrei que já tive que jogar certas roupas que eu amava fora, porque só de olhar para elas eu revivia tudo de novo. Até hoje eu ainda choro se escuto a trilha sonora de uma certa novela dos anos 2000. Essas experiências realmente foderam com a minha vida em vários aspectos sem que eu percebesse. Eu sinto que nunca irei criar conexões de verdade. Tudo precisa ser raso comigo para que eu não queira fugir. E tudo porque eu ainda sinto os malditos toques das mãos daqueles malditos.

ST.