Coffee & Whiskey

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"ter você era como café e uísque. no meio da noite
você me aqueceu e me fez sentir viva"
— aryy

Naquele exato dia, se completavam oito meses desde que a mesma mulher entrava na cafeteria, pedia o mesmo café e sentava – sempre que possível – na mesma mesa, em dias regulares. Maya não fazia ideia de quem era, apenas sabia que seu nome era Carina, ou pelo menos era esse o que ela dizia ser quando fazia o pedido.

Nunca trocaram mais do que palavras curtas de bom dia ou agradecimento, mas a vontade da barista em falar com a mulher não era recente. Costumava fazer desenhos simples na espuma do café para todos os clientes da cafeteria, mas com Carina era diferente. O máximo que desenhava para os outros pedidos eram flores e os desenhos tradicionais que você podia conseguir em qualquer outro lugar que entrasse, porém realmente dedicava alguns segundos do seu dia para tentar fazer diferentes na xícara da morena.

Carina, uma obstetra e ginecologista que era chefe do seu departamento e no momento liderava uma das pesquisas mais importantes já feitas em sua área, costumava ir naquele mesmo café desde que se mudou para a cidade. Vinda de um pequeno município italiano, sua coisa favorita no mundo era todo e qualquer tipo de café, mas costumava revezar entre latte e expressos.

Logo nas primeiras vezes que frequentou o lugar, a italiana não pôde deixar de reparar na loira. Sempre preferiu pedir cafés fortes para qualquer momento do dia, mas desde que notou que a tal barista costumava fazer desenhos na espuma do leite dos copos e xícaras de latte, passou a pedir apenas aquele, gostava da surpresa para saber qual seria o do dia.

Uma vez ou outra, Maya conseguia ver a mulher tirando foto do café, mas não tinha ideia do que Carina fazia com aquilo. Foram apenas três ou quatro vezes que viu isso acontecer, mas ficava curiosa do mesmo jeito. Queria muito tomar alguma atitude, apesar de não se sentir pronta para tal.

Não eram mais de poucos meses que a barista terminou um noivado vindo de um relacionamento de mais de sete anos, então não conseguia ter coragem ou segurança para iniciar qualquer outra relação nova – fosse ela platônica ou romântica.

– Você nunca vai tomar atitude? – Vic, a outra barista da loja, sussurrou para a colega de trabalho após perceber que a loira discretamente encarava a cliente.

– Hm? – se virou para a amiga sem entender.

– A Carina. Qual é, Maya? Todo mundo nesse lugar percebe que você praticamente come ela com os olhos.

– Ela parece ser uma boa pessoa. É só isso.

– Ah, claro – respondeu num tom irônico, voltando ao trabalho.

A italiana, por outro lado, já havia desistido de tentar encontrar alguém que correspondesse seus sentimentos. Os poucos relacionamentos que tivera nunca duraram e sempre lhe rendiam algumas sessões de terapia. Preferia ficar apenas em casos que não passavam de uma noite e que, de certa forma, alimentavam seu ego.

Percebia quando a barista a encarava e nunca fez menção de se incomodar ou dizer algo, mas precisava controlar um sorriso discreto que teimava em aparecer. Contrariando o que Maya sequer imaginaria, Carina tinha uma conta privada no Instagram onde postava cada café que recebia. Todo dia tirava uma foto e postava no perfil, sem legenda ou nada a mais. Era apenas a foto e a data de publicação. Queria poder guardar, pois realmente achava uma atitude fofa.

Sabia que o nome da loira era Maya, mas apenas por ler na plaquinha de seu uniforme. Tentou diversas vezes encontrá-la em alguma rede social, mas era complicado quando apenas sabia o primeiro nome e a mulher não aparecia na busca dos "seguidores" da página da cafeteria.

i love you in every universe - marina oneshotsOnde histórias criam vida. Descubra agora