2- Escola do Mal

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Ao sentir algo deslizando sobre minha pele, despertei. Não é como se eu tivesse um sono muito leve, nem de longe, mas quando fico ansiosa eu nunca durmo completamente, é como se meu cérebro acabasse ficando ligado e funcionando enquanto eu tenho meus olhos fechados.
Sentei-me na cama um pouco perdida, esfregando os olhos para conseguir ver melhor o que tinha me acordado. Ao perceber, soltei o ar que nem percebi que havia prendido e abri um largo sorriso.

Era Ayu. Minha linda serpente branca. Lembro-me como se fosse ontem do dia em que a encontrei.

Em meu sangue, não carrego apenas os poderes de minha mãe, como os de meu pai também. Desde muito nova, sempre fui ensinada a respeitar o meio ambiente e os animais que lá vivem.

Em um dia de inverno rigoroso, enquanto nevava muito em meu reino, minha mãe me chamou para um passeio fora do castelo, um convite que eu não hesitei um minuto em aceitar. As melhores épocas do ano para mim sempre eram as que faziam frio, afinal, a temperatura baixa não me afetava mesmo. Meu corpo é naturalmente gelado, graças a minha, muito útil, magia do gelo.

Não era possível ver uma sequer alma viva nas ruas da grande vila que ficava pouco a frente da entrada do castelo, nenhuma alma viva, a não ser mamãe e eu. As portas das casas estavam todas cercadas por uma grossa camada de neve, o que concerteza daria trabalho para os moradores saírem depois.

Ao nos afastarmos das residências e julgando pelo caminho que estávamos tomando, deduzi que íamos para a floresta do reino e, mesmo um pouco longe, já era possível se avistar várias árvores de variados tamanhos, mas todas com a mesma cor em comum: branco. Todas as vegetações que ali haviam estavam cobertas por flocos de gelo.

Adentrando o local, corri para um lindo lugar que eu sabia que havia, pois não era a primeira vez que me aventurava por entre essas regiões.

Quando cheguei em meu destino, respirei ofegante e cansada devido à minha corrida. A cada expiração, podia se observar fumaças saindo de meu nariz e boca, devido ao frio intenso. Poucos minutos depois, minha mãe apareceu ao meu lado, passou seu braço em volta de meu ombro e olhou para a bela paisagem que havia em nossa frente.

— É lindo, não é? — comentei, enquanto admirava todo o ambiente que eu me encontrava.

— Sim, muito. — respondeu minha mãe, sorrindo.

Estávamos perto da beira de um penhasco, os nossos pés afundavam na neve que cobria todo o chão. O pôr-do-sol ficava ainda mais belo ali. O forte tom alaranjado reluziu em toda a floresta, refletindo sua cor nos pequenos pedaços de gelo que se encontravam pendurados nas árvores, deixando a paisagem com um ar ainda mais mágico.

À medida que o sol ia se pondo e a escuridão começava a se apossar do local, decidimos voltar logo para casa, antes que papai começasse a se preocupar.

Quando estava prestes a sair da mata, uma voz me fez parar bruscamente, um tanto assustada, me virei em direção ao som e... nada.

Meu movimento repentino pareceu não passar despercebido por mamãe, que logo tratou de me perguntar.

— O que foi, filha? Você viu alguma coisa? — indagou rápido e em tom preocupado, já se preparando para atacar um possível vilão ou alguma pessoa má intencionada.

— Ver, não. Mas eu escutei alguma coisa, parecia uma voz. — respondi, desconfiada. Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a misteriosa voz soou novamente.

Ajude-me... ajude-me.

Rapidamente me virei na direção que ouvi e andei até lá. Ainda não tinha nada.
Já estava tudo escuro e a lua brilhava alto no céu. Ao desviar minha atenção para o chão e forçar um pouco o olhar, pude ver algo branco, não muito grande, se camuflar na neve e um par de olhos vermelhos me encararem. Ao perceber o que era, me agachei e resolvi ter certeza de que não estava interpretando a situação errado.

M'LADY- Lady Lesso Onde histórias criam vida. Descubra agora