O dia parecia ainda mais brilhante que nunca. Um sorriso estampava meu rosto, enquanto me arrumava para começar o dia. Penteei os cabelos, enquanto me olhava no espelho. O vermelho fazia uma bela combinação com meus olhos verdes, mas minha mãe ainda não gostava de como minha aparência era chamativa. Enfim, coloquei o colar de rubi dentro da blusa, observando-o brilhar intensamente refletido pelo sol.
Saí do quarto cantarolando alguma música que tinha ouvido recentemente, deveria tentar achá-la no celular antes que me esqueça. Finalmente cheguei na cozinha, encontrando minha mãe, pai e Eugene, já comendo. A luz do sol chegava pelas janelas revelando um tempo limpo de nuvens, a sala cheirava agradavelmente. A televisão estava ligada nas notícias.
— Bom dia! — Me sentei, colocando minha refeição que consistia em leite com açúcar e bolo.
— Acordou animada, né? — Eugene perguntou, me dando um beijo na bochecha.
Eugene era meu melhor amigo, minha família, e agora estamos tentando algo mais, ele está comigo desde que me lembro e é a pessoa que mais me conhece no mundo. Os pais de Eugene foram mortos por Ápeironios, numa exploração à floresta da Escuridão Infinita. Eu e ele criamos um vínculo, ele sempre foi o meu porto seguro mesmo que tenhamos uma grande diferença de idade.
— Que dia que ela não acorda animada? Espero que não exagere hoje a noite, só porque é seu aniversário. — Minha mãe, como sempre, é desagradável.
— Nossa menina cresceu tanto, nem posso acreditar que já tem 20 anos. — Meu pai comentou, todo fofo.
"Um Apeironio foi apreendido após tocar uma criança humana que acabou atravessando as muralhas. A criança passa bem."
— Nojentos... — Minha mãe murmurou. O brinco de ouro brilhou quando ela balançou a cabeça.
Eu tinha oito anos quando a guerra acabou, porém eu não lembro de nada dessa época, mamãe disse que foi por causa do trauma. Hoje em dia, qualquer contato em Apeironios e humanos é considerado crime, se um humano declarar algo mais grave, a punição máxima é a morte em lugar público. É um horror, mas não há nada a ser feito. Contudo tudo estava seguro agora, não havia o que temer.
Minha mãe e pai começaram a conversar sobre a empresa, dinheiro e compras. Depois de terminarmos de comer, eu e Eugene saímos em direção a garagem. Cumprimentei alguns dos empregados no caminho.
— Hum, nem perguntei o que vai fazer hoje. — Me virei de frente para ele, enroscando meus braços em seu pescoço. Amo como o cheiro de lavanda de Eugene fica impregnado em mim.
— Bom, vou resolver alguns assuntos no quartel, depois nos encontraremos na festa, depois... o que poderemos fazer para comemorar seu aniversário? — Seu olhar sedutor acelerou meu coração. Finalmente estava pronta, hoje seria nossa primeira noite.
— Apressadinho. — Eu o beijei rapidamente. — Vou ao comércio agora, tenho que buscar aquela rosa branca que encomendei e comprar algumas outras coisas.
— Então, nos encontramos depois. — Ele me deu um último beijo e seguiu para seu carro. Acenei para ele e também entrei no meu carro.
Enquanto dirigia, comecei a cantarolar aquela mesma música e algo veio à minha mente, um deja vu estranho. Por algum motivo, essa melodia me lembrava algo branco. Uma roupa, ou talvez, algo que voava com o vento. Não sabia identificar direito.
Eu sequer percebi as horas passarem quando comecei as compras. Roupas, acessórios, sapatos preenchiam meu porta-malas. O centro do comércio estava cheio, mas finalmente consegui chegar até a floricultura. Minha paixão por flores influenciada por Eugene, me fez ficar longos minutos olhando todas as novidades até ver algo em específico que me chamou a atenção.
Meus pés andaram por conta própria, apertando os olhos para ver melhor. Tinha algo pequeno e brilhante no chão, uma florzinha bem pequenininha. Meu coração martelava forte no meu peito. Uma pequena flor em tons brancos, azuis e cinza. Havia um brilho nela, como se estivesse salpicada de diamantes. Algo sobre ela era surreal, toquei suas pétalas com delicadeza. Aquela melodia voltou a minha cabeça e finalmente descobri o que ela me lembrava, os longos cabelos brancos voando com o vento.
Chamei a florista, com urgência.
— Essa florzinha... onde a conseguiu?
— Senhorita Maya, esta flor é rara, foi encontrada fora das muralhas. Se chama Smeraldos. Dizem que há um campo cheio delas, mas como fica no meio da floresta, ninguém tem coragem de pegar. Pelo o que eu saiba, eu sou a única que a têm.
— Quer me vendê-la? Pago o quanto quiser.
— Sinto muito, mas não está à venda nem pelo milhões que possa ter.
Droga. Ela não ia ceder. Nenhuma flor me deixou tão encantada quanto esta e esse sentimento... O cabelo branco não saía de minha mente.
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Remanescentes de Memorias
FantasíaLIVRO 1 Maya acabou de fazer 20 anos, tem um namorado lindo chamado Eugene e pretende ir embora para a capital de seu país, Apeíron. Porém, ao cometer um assassinato no dia de seu aniversário, sua vida muda para sempre. Maya corre para a Floresta In...