never was there ever a girl so pretty

CAPÍTULO ÚNICO

— Bom, a nossa aula de hoje vai ser sobre como as democracias morrem.

Pedro diz assim que deixa seu notebook em cima da mesa e fica em frente a sala com a maioria dos alunos já sentados e alguns poucos ainda chegando.

— Sim, isso vai cair na prova, então prestem a porra da atenção — Ele da um sorriso forçado e arranca uma risada coletiva da classe.

Ele é um bom professor. Ótimo na verdade. Grande parte de todos os alunos do qual ele dá a matéria adoram sua aula e seu jeito de ensinar, Pedro é aquele professor que você sabe que quando entrar na aula dele vai sair de lá querendo comentar sobre ela com todos. Não existe sensação melhor do que sair de 4 horas de uma aula entendendo perfeitamente a matéria. Mas não é apenas isso, seu senso de humor e brincadeiras que ele faz com os alunos durante a aula também fazem parte do combo.

— Os slides e os artigos que vocês precisam ler já estão disponíveis na pasta lá no Drive. Prestem atenção e leiam tudo que vai dar tudo certo.

Você sobe as escadas que davam para o andar de cima, correndo para a sala 21, pensando em apenas como queria que aquela cafeteria explodisse e de como precisava de um trabalho novo. Na verdade era de muitas semanas de férias mas como isso não iria vir tão cedo, tudo o que você queria mesmo era arranjar um lugar onde você pudesse trabalhar sem ser cotidianamente explorada e obrigada a chegar atrasada em praticamente todas as suas aulas na faculdade. O que é bem difícil de encontrar.

Você anda pelo corredor vazio de alunos até chegar na penúltima sala, não bate ou avisa que está entrando, já tinha chegado atrasada, não queria atrapalhar a aula ainda mais.

Em silêncio não querendo chamar atenção você abre a porta e entra na sala logo em seguida.

— O nosso ponto de partida é quando são formadas alianças erradas. Benito Mussolini-

Você ouve a voz rouca e calma de Pedro assim que fecha a porta atrás de si.

Ele te vê pelo canto dos olhos passar pelo lado direito até encontrar uma carteira vaga. Mesmo tendo mais de cinco turmas com mais de sessenta alunos nesse semestre, ele te reconhece. E claro que te reconhece, uma das melhores alunas em sua matéria, que assiste suas aulas com os olhos brilhando, e bem de vez em quando tem coragem de fazer alguma pergunta que ele faz questão de responder com um sorriso alegre no rosto, e que em toda prova ou relatório tem a felicidade de sempre te dar um 10.

Mas durante os minutos passando ele percebeu que hoje era um daqueles dias ruins, você estava debruçada sobre sua mesa, tentava várias vezes levantar e prestar atenção no que ele dizia mas parecia impossível. Seus olhos fechavam de repente por poucos segundos, era visível o seu cansaço e seu sono.

Assim que o relógio marca 22 horas, Pedro encerra a aula liberando todos os alunos da sala, menos você, que ele pede para ficar por um tempo. Então você fica.

Nem 5 minutos depois a sala toda se encontra vazia, você se aproxima da mesa dele um pouco ansiosa porque nenhum professor nunca tinha pedido para você ficar depois da aula pois queria ter uma conversa. Você se pergunta se tinha feito algo errado, nada vinha em sua mente, mas enfim nunca se sabe.

Talvez você tenha esquecido de entregar a ele alguma coisa. Uma desculpa já estava pronta na ponta de sua língua, porque esse era o único motivo possível para ele pedir que você ficasse. Mas Pedro fala primeiro impedindo que seu pedido de desculpas saia.

— Você está se sentindo bem? — Ele te pergunta com uma preocupação genuína em seus olhos.

Você demora um pouco para responder porque precisa raciocinar as palavras que ele disse, ele te pega de surpresa por ser esse o motivo da conversa.