A semente espiral

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Após intermináveis dias de viagem, a família Castor havia finalmente estabelecido a Perua-Castor em um local fixo para que Fernando pudesse finalizar a produção de algumas poções encomendadas por uma loja de cosméticos mágicos.

Os gêmeos, Aurora e Vésper, estavam completando mais um "mêsvesário" do maior castigo que já haviam recebido, após invadirem o laboratório de fragrâncias de Fernando e presentear o avô com uma poção capilar adulterada. Por isso, não poderiam aproveitar o dia ensolarado do lado de fora da van.

Aurora olhava entediada para um cartaz colado na parede do quarto, assistindo pela centésima vez as pequenas figuras montadas em vassouras que se movimentavam por um campo oval, jogando bolas vermelhas em aros circulares, brandindo bastões e rebatendo bolas marrons que voavam em todas as direções.

No topo do cartaz o placar indicava que as Harpias de Holyhead já estavam 110 pontos a frente dos pobres coitados Rasa-árvores de Tarapoto quando a apanhadora das Harpias pegou uma bolinha dourada, minúscula e incrivelmente rápida, decretando o fim da partida e selando a vitória do último campeonato de Quadribol.

Para Aurora, ficar tanto tempo sem treinar quadribol custaria seu tão sonhado lugar em um time profissional. Nesse ritmo, Aurora não conseguiria se tornar uma apanhadora. Ou batedora. Ou artilheira. Ou o que tivesse vaga disponível. Até para goleira Aurora já estava cogitando ceder caso não conseguisse voltar a treinar imediatamente.

A menina atingiu seu limite quando, ao olhar para o espelho, percebeu que todos os cachos de seu lindo cabelo estavam completamente amassados, murchos e sem vida. Decidiu que bastava do castigo. Moveu para sua cama o monte de roupas que estava em cima de sua penteadeira e gastou algumas horas para reconstruir seu penteado volumoso com ajuda de um pente-garfo e uma poção monta-cachos. Após encontrar seu uniforme de treino que, sabe-se lá como, havia parado dentro do aquário de sua salamandra, Aurora estava finalmente pronta para voltar a ativa, seus pais quisessem ou não.

— Vem, Goles. — Determinada, Aurora colocou a salamandra vulcânica no ombro, enfiou uma pequena esfera dourada no bolso, retirou duas vassouras com cabos coloridos e apoio para os pés dos suportes da parede e saiu em direção ao quarto do irmão.

Aurora entrou no quarto de Vésper sem se dar ao trabalho de bater na porta e abriu a janela, enchendo o quarto de luz. Foi fácil identificar o irmão no contraste com a mesa de madeira clara onde sua cabeça repousava, babando nas cartinhas de feitiços e azarações que chegaram no dia anterior com uma leva de livros desinteressantes em várias línguas e lenticionários de reposição dos que Aurora havia fingido que a salamandra que quebrou.

Não era possível que ele conseguisse dormir em plena luz do dia, sem se importar com o futuro de grande sucesso nos esportes que sua irmã poderia ter.

Aurora preparou-se para chacoalhar a cadeira do irmão com o ímpeto de quem não tem mais um minuto a perder, mas hesitou ao lembrar que seu irmão já havia lhe pedido diversas vezes para que não o acordasse.

O pedido, porém, não tinha sido estendido para Goles, que logo que foi colocada em cima dos livros encomendados, tratou de pular na nuca do menino, o acordando em um susto pegajoso.

— Eu não tô acreditando... — Vésper permaneceu imóvel, com a salamandra esticando as patinhas em sua nuca.

— Já chega de castigo! Não é justo que a gente fique tanto tempo presos sendo que a gente só queria ajudar a careca do nosso vô! — Aurora sussurrou para o irmão.

Vésper tirou a salamandra da nuca e a colocou em cima da escrivaninha, levantando da cadeira e se jogando em sua cama.

— Se a gente sair só vamos piorar tudo, volta pro seu quarto e guarda essas vassouras, Aurora...

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⏰ Última atualização: Jul 02 ⏰

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