onde anda bossa nova; taekook

e por falar em saudade... ☆

um presente pro meu verão mais bonito. 🫀

•

Na noite fria e sem graça de Paris a única coisa que ecoava com sentimento em uma rua específica era de um violão. Sozinho e simpático, raspando os dedos nas cordas de nailon ali estava uma voz mais melódica que o instrumento. Bossa nova em meio França sempre chuvosa.
O som das palavras macias junto dos acordes repercutiam pela esquina toda, perto do bar em que o rapaz se apresentava. Os ouvidos eram agraciados da mesma forma, um calor desconhecido no peito brotava ao fecharem os olhos, sem um compromisso direto com o entendimento da canção.

Taehyung saía de seu banho tão gelado quanto o clima. A bonita melodia o acompanhando antes mesmo de tomar um tempo sozinho, esfriaria a cabeça do dia tão agitado que tivera imergindo os pensamentos nas águas calmas da banheira.
  No apartamento tristemente silencioso podia-se ouvir abafado o som que intrigava sua percepção. Andou pelo chão de madeira, um tanto ansioso para ver na rua o que era; seria alguma modificação do folk tradicional francês ou um gênero totalmente novo?

Seus olhos aumentaram cheios de brilho. Quando desistiu de encontrar uma resposta, apenas decidiu apreciar o que seu coração dizia familiar. Apertando as pálpebras sentiu-se em outro lugar, onde a pele esquentava e ruborizava ao sabor do sol, em tudo diferente ao clima europeu. Sabia onde porém não reconhecia.

E conforme o vento intimidador batia no peito desnudo, o cabelo castanho do Kim se rebelava do formato molhado feito no banho. Pouco se importou se ficaria doente depois, Taehyung com seu nariz empinado continuaria no frio apesar da sensação de acanhamento que brotava. Debruçou o corpo no batente da janela como se nunca tivesse sentido a paixão sentida ali pela música e a acompanhava usando pequenos batuques nas pontas dos dedos.

Talvez uns minutos mais tarde a liberdade invadiu os pulmões com uma certeza arrebatadora, paz. Não estava correndo contra o tempo nem indo contra a corrente, a agonia não podia lhe atingir, não naquele momento. Na escolha de vivenciar, viu se em uma tranquilidade consciente.

Respirou.

O âmago, agora completo, expulsara a ansiedade pelos poros do Kim. Em resultado, permitiu que a melodia do refrão da canção de letra desconhecida passasse pela garganta. Palavras desajeitadas daquela língua bonita e um tanto sensual de se falar, porém seguia repetindo as frases sem técnica alguma depois do cantor.
Nascia algo diferente e intenso no coração do acastanhado. As raízes daquela memória se enroscavam e afloravam na flora que cultivava desde sempre dentro de si, só não conseguiam cobrir uma erva daninha chamada saudade.

A sensação indescritível que sentira não poderia ficar só consigo e morrer ali, ainda mais quando existia alguém com quem poderia repartir aquilo. E o alguém despertou pela milésima vez àquelas ondas agitadas no fundo do estômago ao mesmo tempo que a pulsação aumentava significativamente. Era tão engraçado que não reparou quando o murmúrio perdeu a vez para uma risada prazerosa.

O passarinho.

Impossível seria contar nos dedos as vezes que seu corpo entrou em êxtase diante da voz de Jeon Jungkook. Jungkookie, googie, goo. O colega favorito da classe de teoria musical.
Se encantou por ele na época que ainda lhe era difícil ser preciso nos arcordes produzidos pelo violino. Num de seus treinos diários nas salas vazias pós aula ouviu uma resposta ao som de seu instrumento, um canto doce vinha de fora do ambiente entoando as mesmas notas musicais. Conversou consigo pela língua mais bela de todas, a música.
Não lhe restou mais escolhas além de procurar pelo dono do tenor anestesiante. E surpreendente ele era capaz de fazer muito estrondo na base sólida de Taehyung com apenas algumas palavras e seu sorriso amável.