04 - EDELWEISS

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A ansiedade está me matando, mais que as dores de cabeça. É minha última sessão de hipnoterapia. Acordei extremamente cedo, me arrumei e vim direto para o consultório. Já fazem duas horas que estou sentada na recepção esperando o meu horário.

Suponho que hoje eu consiga ver o final da viagem e como aconteceu meu acidente. Necessito saber o que me levou a pular na água e como bati a cabeça.

A verdade é que não aguento mais viver com a incógnita. Durante anos venho tentando lembrar do acidente. Por que não consigo? Por que ninguém nunca me fala? Eu não lembrava de quase nada, até começar com a hipnose. Não lembro de estar no hospital, não lembro do diagnóstico dos médicos, sei que aconteceram, porém quase tudo é um vácuo na minha cabeça.

A esse ponto do relato vocês me perguntam como sei que bati a cabeça? Foi a única parte que obriguei minha mãe me contar.

"Você foi nadar"
"Bateu a cabeça"
"Te encontraram sem conseguir respirar"

Depois de um tempo desisti de perguntar. Acredito que eu tenha ido sozinha a praia, enquanto Simone ficava na casa preparando um jantar, talvez?

"Mas por que não lembro? Por que o trauma?"

São tantas perguntas:

"Fui vítima de violência?"
"Acaso briguei com Simone e fui nadar sozinha?"
"Quem me encontrou?"
"Simone foi me procurar?"

É isso que quero descobrir na sessão de hipnose de hoje. Tenho as mãos trêmulas esperando ser chamada pela Dra Amanda.

Dona Fairte insistiu em me acompanhar hoje. Eu preferia vir só, não sei como digerir as informações que vou acessar no fundo do meu "baú". Entretanto ela não deu o braço a torcer e, assim como Simone, veio segurando minha coxa durante todo o trajeto.

- Srta Soraya Thronicke, é sua vez - a recepcionista avisou.

- Eu estou aqui com você, filha - Dona Fairte me deu um beijo na testa antes que eu entrasse.

Da mesma forma que nos dias anteriores, Dra Amanda me guiou até que eu caísse em estado de relaxamento total.

Desbloqueando o poder da minha mente, consigo ver o que estávamos fazendo no último dia da viagem...

- Bom dia, Si! - acordo na rede, sobre o peito de Simone.

- Hummm, bom dia minha loira - Sisa me aperta mais no seu abraço.

- Você dormiu bem?

- Como não dormir bem, So? Se eu tinha o cheiro dos seus cabelos no meu nariz.

- Eu também dormi muito bem, com meu ouvido escutando seus batimentos e respiração - dou um selinho demorado nos lábios de Simone - Si, quem plantou essas árvores? - aponto para os arredores da casa.

- Ah loira, isso é tradição de família. Acho que desde os meus tataravós. Cada geração da família, com seu parceiro de vida, plantam uma árvore juntos.

- Isso com certeza é a coisa mais romântica que já escutei.

- É sim. Aí depois eles contam para os filhos, netos, fazemos piquenique na sombra delas e em seguida ensinam o local que deverão plantar a sua árvore.

- Onde é a sua?

- Ainda não plantei. Eu estava esperando por você - me da um beijo no topo da cabeça - a minha fica ali perto da dos meus pais, do lado daquela pedra grande.

Você não percebeu - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora