Azul e Laranja

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A paisagem era linda, como aquelas vistas na tela de um filme bem dirigido de romance clássico; a pista meio molhada pela chuva repentina da alvorada; o céu em um degradê entre um leve tom azul pastel e um alaranjado davam charme para o começo daquele dia. A paisagem era deslumbrante. Não só o degradê daquelas cores era relevante, mas a lua ainda estava presente e ao longe uma silhueta traziam uma harmonia peculiar para aquele momento.
A moça de cabelos castanhos até o ombro, pele oliva e devo quase afirmar dizer que em seu tom mais natural possível – sem nenhum resquício de maquiagem – abraçava o próprio corpo com uma mão e olhava fixamente para um ponto qualquer daquele rio corrente a sua frente. Fazia frio, e apesar de estar totalmente agasalhada com um blusão e calça jeans – e talvez mais peças por debaixo daquela manta, assim como eu estava – não movia um músculo do seu corpo a alguns segundos, como se aquele frio indolente fosse apenas um detalhe insignificante. Apesar de ser algo impulsivo e invasivo de minha parte, não consigo deixar minha lente não querer avançar em mais detalhes onde meus olhos não podem alcançar, com um zoom quase que total, a observo, dentre todos aqueles detalhes há uma parte principal que só podemos captar a vista e que é a mais importante entre todo um corpo; que em partes podem dizem tudo e ao mesmo tempo podem mascarar os fatos: seu olhar. Esse sempre dizia mais que todo um conjunto de músculos e nervos.

Sei como é lindo fotografar o olhar de alguém, já havia perdido as contas de quantas vezes fiz aquilo, era sempre algo tão simples, porém peculiar de cada ser humano e naquele momento eu queria mais do que nunca me perder ao fotografar olhar daquela mulher, fotografar não só a conjuntura que compõe sua visão, mas seus sentimentos e expectativas para aquele momento.

Levanto de uma das mesas da cafeteria que estava esperando abrir, coloco a câmera de lado, ajeito parcialmente meu sobretudo e sigo em direção aquela mulher que estava encostada sobre a grade da ponte que transpassa aquele rio extenso. Talvez, ao caminhar eu tenha sentido meu coração acelerar mais do que o normal, talvez, a sensação de conforto e expectativa estavam juntos a mim nesse momento.

Provavelmente, minhas especulações estavam certas, agora de perto com meus olhos flagrando qualquer vestígio de sua pele, afirmo que era a mulher mais enigmática e bela que já conheci.

- Você está bem ? - Pergunto com a voz quase inaudível. Seu olhar ainda permanece para frente e nada me diz, então questiono novamente. - Você está bem ? - Alguns segundos se passam e ela finalmente me dá uma resposta.

- Sabia que o amor é um jogo para tolos ? - Sua respiração falha me diz que estava a um pequeno passo de desabafar junto com as correntezas daquelas águas abaixo de nós.

- Não. Para falar a verdade acho que o amor é um sentimento tão forte que os tolos se iludem ao achar que estão vivenciado ele. - Minha audição é preenchida por uma leve risada desprezível. - Do que está rindo, é verdade! - Ela balança a cabeça e tomo seu olha para mim, eles eram intensos.

- Então você concorda que ele ainda é um jogo ? - Ela reprime os lábios e espera uma palavra minha.

- Jogos podem nunca ter fim, assim como o amor. Mesmo em um nível imperdoável de difícil ainda é possível buscar entendimento para encontrar uma solução para aquela fase. - Sorrio de canto tentando suavizar aquela conversa cheia de enigmas.

- Uhm... acho que estou tão fragilizada que estou achando que minha imaginação bagunçada criou você agora pra falar isso. - Ela faz uma careta e acabo rindo da sua pergunta e expressão.

- Bom... vou te decepcionar em dizer que não sou nada disso, sou apenas uma fotógrafa… - Pego minha câmera em mãos e ela nota rapidamente o volume e voltasse para meu rosto - Que está esperando sua cafeteria favorita abrir para começar mais um dia de trabalho.

. Fotógrafa… dizem ser quase iguais videntes de emoções. - Sorrio de canto ao me pegar divagando sobre sua frase desconectar. - Mas diga-me, o que te levou a vim a mim ?. - Encarar meu rosto e como um reflexo abaixando meu olhar.

- Eu vim aqui porque... - Como vou explicar algo inexplicável ? Eu não sei o que me levou até ela, afinal.

- Por quê ?  - Espera algo meu, mas realmente não sei o que me levou ali.

Olhando para a rua ao lado, e visualizando algumas gotas invisíveis caírem na poça formada pela chuva mais cedo, varo o olhar pelo chão até subir para o rio a frente, agora de perto reparo no seu pé da mulher em uma passagem da grande, sua mão esquerda segurava passivamente o ferro e meu coração acelera mais uma vez naquele momento.

- Você não estava pensando... - Faço uma pausa e sinto minha boca quase seca. - Estava ?

- Não sei. - Ela entende o que quero dizer tirar o pé do lugar, mas a mão firmava ao mesmo local de antes. - Acho que não. Eu estou tão cansada, sabe ? Eu sei que você é uma total desconhecida e bom... sabia que eu assisti Killing Eve ? Dá informação ou acolher estranhos é um problema - Sorrir e eu também não consigo segurar o lábios, afinal, era verdade. - Mas, no momento eu preciso desabafar e não sei o porquê você apareceu assim do nada, se bem que acho que pelo pensamento que acabou de sugir em sua cabeça.

- Acho que você tem um ponto. - Sorrio levemente de canto. - Não sei porque vim até você, mesmo eu não tendo a percepção exata do que seu corpo poderia fazer, eu apenas me sentia tentanda a vim.

- Entendo. Eu acho que a paisagem ajudou um pouco, você é fotógrafa então acho que todo esse cenário é instigante. - Não consigo não manter uma fagulha de conforto por aqueles olhos à minha frente, que mesmo sem me intimidar acabam intimidando pelo conjunto de mágoas e desejos.

- Como você poderia deduzir isso a quase 6:30 da manhã desta terça-feira ? - Ajeito o sobretudo para tentar dissipar o frio, e acabo sentindo uma gota molhar um ponto da minha bochecha.

- Digamos que já conheci uma pessoa que sabia fazer suposições bem certeiras na vida e ela me ensinou a ver o mundo com ainda mais nuances.

- Então afirmo que é quase certo que a vidente possa ser você. - Ela sorri e balança a cabeça em negativo. - Ou uma pessoa sensitiva.

- No mínimo eu sou apenas traumatizada e socialmente transparente.

-  E para pessoas assim que existem os arco-íris. Elas chegam sempre como quem não quer nada e bum, você já tá brilhando que nem ela... - Faço uma careta ao olhar para o céu já tomado pelas nuvens de chuva e apagando o brilho quase inexistente da lua. - Que estão atrás dessas nuvens pesadas.

- Todos temos uma estrela dessa dentro de si, certo?! Mesmo com essa aura pesada, mas temos. - Remexo as roupas no corpo e acho que vou congelar a qualquer momento.

- Você pode ir, tá frio e daqui a pouco essas nuvens vão desabar para depois começar todo o seu processo novamente.

- Tem certeza que não é você algo criado da minha imaginação ? - Acabo devolvendo sua pergunta a alguns minutos atrás. Nesse ponto também acho que meu emocional esteja também me traindo. - Dizem que sempre tem uma pessoa que é introvertida e outra agitada… e bom, acho que deu pra perceber aqui.

Ela pende a cabeça para trás e solta uma leve gargalhada e acabo rindo também.

- Você está supondo que eu seja uma pessoa introvertida ? - Meus lábios se curvam para não sorrir para aquelas pupilas quase fechando e um biquinho formado por puro descontentamento. - Você não me conhece, desconhecida.

- Ou será que você não me conhece, desconhecida ? - Curvo os lábios e faço uma careta quase maligna segundo a mim.

Não tendo tempo para pensar, a chuva começa a cair com avisos prévios de quem chegaria uma hora. Em um gesto espontâneo pego em sua mão e acabamos correndo para o ponto que estava antes. Sorrimos em um gesto de cumplicidade – e na forma mais invasiva e despretensiosa, o meu subconsciente acaba achando aquele sorriso ao seu conjunto natural o mais belo de todos que já vi até então.

- Emma Swan. - Digo com um leve sorriso de canto, ainda com as mãos unidas.

- Regina Mills. - Diz olhando em meus olhos e apertando levemente minha mão.

Eu, ela e a correnteza - OneshotOnde histórias criam vida. Descubra agora