1: Cisnes

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O palácio reluzia com o brilho de mil crepúsculos, entalhado em pedra opalescente a construção se erguia sobre o pico montanhoso acima das nuvens. Flores de pervinca cresciam ao redor dos pilares que sustentavam os balcões e varandas, dali se tinha a visão perfeita do céu; alaranjado com salpicos arroxeados que sinalizavam o pôr do sol. Bebedouros de pedra entalhados na rocha serviam aos inúmeros pássaros do reino, a névoa dourada era incapaz de esconder totalmente a variedade de aves bebericando das águas que fluiam continuamente.

   Encostado a uma das colunas, Taehyung bebericou o vinho rosa e sorriu quando cisnes numa formação em V passaram alguns metros abaixo. O vento batendo no rosto e balançando as plumas de suas enormes asas o convidava para um mergulho na imensidão dourada a frente, mas não naquele dia. Por mais que amasse voar sem destino, o jovem rei de Cygnus estava ocupado demais para se lançar ao vento.

— Eles chegaram, senhor. 

 — Estarei lá em um minuto.

 Taehyung respondeu o empregado sem tirar os olhos do horizonte, quem dera pudesse viver livre como um pássaro, do que adiantava ter asas se vivia preso aquela mansão?

 Ser rei vinha acompanhado de uma série de afazeres: comparecer a festividades, resolver problemas de gente que mal conhecia e garantir que tudo funcionasse. Pensou que teria mais tempo antes de ser obrigado a ocupar a liderança, a morte do pai foi inesperada — um mal súbito enquanto visitavam um reino aliado — e desde então tudo recaiu sobre os ombros de Taehyung. 

 Caminhando em direção a sala de reunião não deixou de notar os inúmeros quadros na parede, a maioria pintados por sua mãe; a casa no alto da montanha, um bebê de asas brancas, o mar azul da costa e paisagens de tirar o fôlego. Taehyung herdou dela o gosto pela arte, antes de ser obrigado a liderar passava os dias em seu estúdio imerso em pincéis e tinta importada.

A porta se abriu com um clique e os rostos do conselho se viraram para ele, a maioria não aceitava muito bem a ideia de alguém tão jovem tomando as decisões sobre a corte. Aqueles que carregavam a magia nas veias podiam viver por muito mais tempo que humanos comuns, o que tornava Taehyung  quase um adolescente aos olhos dos outros líderes.

 — Em que posso ajudá-los nessa tarde? — caminhou até a cadeira na ponta da mesa.

As asas brancas ficavam recolhidas atrás do corpo, Taehyung caminhava com uma postura impecável e uma leveza que só aqueles acostumados ao voo poderiam alcançar. 

— Quando vai parar de bancar o rei e deixar que alguém responsável assuma?

 Vinham aguentando as provocações desde o enterro do pai, mal terminou a cerimônia de despedida e os cochichos sobre o novo rei já se espalharam. Como alguém que passou a maior parte da vida num estúdio de pintura poderia governar?  

Por um segundo Taehyung desejou ter mais poder, se deixou fantasiar com a possibilidade de jogar Angus para o outro lado da sala apenas com a força do pensamento. Infelizmente apenas força não convenceria os membros do conselho de que o jovem era capaz de governar e a cada dia se cansava mais de usar diplomacia.

 Seria muito bom ter um irmão mais velho que ocupasse seu lugar, Taehyung jamais almejaria o trono e passaria o resto da vida voando livremente e pintando paisagens bucólicas. Infelizmente seu irmão mal tinha 10 anos e todo o peso da coroa recairia sobre os ombros do Kim mais velho.

— Herdei o lugar de meu pai como me é de direito e mal deixaram o corpo dele esfriar antes de tentarem acabar com o que ele construiu. — A voz firme e a postura séria atraiu os olhares. — Estou cansado das suas provocações, então a menos que queiram derramar sangue não voltem a me incomodar com este assunto.

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